Jairo Marques

Assim como você

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Jairo Marques
Descrição de chapéu
pessoa com deficiência

Crianças que ajudam crianças

A solução de um se complementa com a do outro; a maneira de buscar saídas de um ajuda o outro a também achar um caminho

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Todos os dias escuto que faltam capacitação, dedicação e esforço aos professores para melhor receber e passar conhecimento aos grupos diversos que precisariam de mais apoio em sala de aula. Leio muito sobre a falta de assistentes qualificados para darem conta de demandas específicas de alguns alunos que sofreriam maus bocados no dia a dia escolar.

São queixas importantes, pertinentes, mas que retiram totalmente a responsabilidade do coletivo com o que preconiza a inclusão para a construção do tal mundo mais diverso: estudar junto implica dinâmica de compartilhar aprendizados, práticas, saberes e até cuidados entre todos.

Insiste-se no modelo de professor como um deus supremo e único, um Chatgpt, um polvo, com todas as respostas, para dar conta de um universo de formas de ser, de interagir e de resolver questões.

Raríssimas são as vezes que ouço um clamor de pais, responsáveis e agregados exaltando a importância da criança como sujeito social, logo, muito necessária e muito capaz para que ela mesma apoie os colegas que tenham maiores desafios dentro escola.

Incluir não significa apenas botar para dentro do colégio –o que, sim, é basilar—, mas é repensar sobre o ambiente, sobre as práticas e, de maneira fundamental, sobre trocas, sobre a interação entre a realidade que cada um leva para a sala de aula.

Uma inquietação dos tempos de hoje não deveria ser se minha filha está sabendo tudo de matemática, mas se ela está adicionando à vida as várias experiências, saberes e realidades dos colegas de sua escola.

Sou convicto que, dessa maneira, somar, multiplicar, dividir se tornam conhecimentos mais orgânicos, para usar a palavra da moda, pois a aplicação de conceitos de um vai se misturando com a de outro. A solução de um se complementa com a do outro. A maneira de buscar saídas de um ajuda o outro a também trilhar um caminho.

Biscoita –minha filha Elis, de nove anos—, por sinal, nasceu com o chip das diferenças como guia de seu aprendizado, segundo suas próprias professoras.

Fazer parte do grupo com os mais diferentões e tidos como atrasados da sala? Ela vai com gosto. O garoto que não entendeu nada de geografia? "Eu estudo com ele, prô!". Ficou isolado no lanche? Ela senta junto, sem nenhum problema.

Todos os dias, ela tem uma história boa para contar de um universo rechaçado por não seguir um padrão. Todos os dias ela tem um avanço humano, intelectual, afetivo e novas experiências com o saber, com o ajudar, com o evoluir. O outro a faz melhor com suas graças, com seu conhecimento, com sua peculiaridade de ver, de ouvir, de tatear as descobertas.

Minha menina é convicta que aprender envolve também ensinar, envolve escutar outras formas de viver, é compreender talentos e belezas fora do que se propaga como ideal. E Biscoita gabarita. Tem uma sequência de notas máximas no boletim.

Quando crianças se ajudam elas ficam menos expostas a praticar e ser alvo de bullying porque quando se mergulha na história do outro, você passa a respeitar mais o outro e suas dores, suas faltas e suas manifestações de ser e conviver.

Não, não quero contar dinheiro na frente dos leitores. Quero dizer que precisamos refletir mais sobre o papel atual da criança dentro da escola e na sua formação diante de uma realidade que contempla multicores, multiformas e multimaneiras de se apresentar ao mundo.

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