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Café na Prensa - David Lucena
David Lucena
Descrição de chapéu Agrofolha

Café robusta tem maior preço em quase 30 anos, e alta deve chegar aos supermercados

Problemas em safras na Ásia fazem cotação disparar e Brasil bater recorde; indústria repassará aos consumidores

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São Paulo

O preço do café robusta atingiu em janeiro de 2024 seu patamar mais alto em quase 30 anos. Com isso, o valor do produto nos supermercados brasileiros deve continuar subindo nos próximos meses.

Os grãos dessa espécie são muito utilizados nos blends das grandes empresas. Mais barato do que o arábica, o canéfora (comumente chamado de robusta ou conilon) é importante para controlar os custos da indústria.

Segundo relatório mensal da Organização Internacional do Café, os robustas tiveram em janeiro uma alta de 9,6%, para 148,47 centavos de dólar por libra, o nível mais elevado desde novembro de 1994, quando este valor chegou a 153,33.

Planta verde cheia de futos vermelhos
Planta de café canéfora em São Gabriel da Palha (ES) - Jose Roberto Gomes/Reuters

Quebras de safra na Indonésia e no Vietnã –dois dos três maiores produtores dessa espécie no mundo– justificam a alta de preços.

No Vietnã, os comerciantes estão retendo os grãos na expectativa de preços ainda mais altos, o que tem pressionado o mercado internacional.

A safra 2022/23 do país foi a pior em seis anos. Com isso, alguns contratos foram prorrogados para o ciclo atual. Assim, esta safra precisaria ser grande para que os agricultores cumprissem seus compromissos. Não foi o que aconteceu, contudo. Os produtores vietnamitas enfrentam uma colheita novamente abaixo do esperado.

O problema nos países asiáticos fez com que o Brasil batesse recorde de exportações em janeiro de 2024, mês no qual o país embarcou 457.787 sacas de 60 kg de café canéfora, uma alta de 503,5% em relação ao mesmo período de 2023, segundo dados divulgados na sexta-feira (9) pelo Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil).

A produção interna, contudo, começa a dar sinais negativos. No Brasil, os grãos dessa espécie registraram o maior valor real desde outubro de 2021, segundo o Indicador Cepea/Esalq.

Conforme pesquisadores do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), além da demanda externa aquecida, o impulso também vem de incertezas relacionadas à produção interna, pois há relatos de um novo tipo de cochonilha nas fazendas do Espírito Santo –maior produtor de conilon no Brasil.

Essa alta deve ser sentida pelos brasileiros em breve. Em entrevista concedida no dia 1º de fevereiro, o presidente da entidade que representa a indústria no Brasil havia dito que um repasse ao consumidor seria esperado caso não houvesse um arrefecimento da elevação dos preços dos robustas no mercado internacional.

"É bem sabido por todos que nos últimos dois meses nós tivemos uma estiagem severa ocasionada pelos efeitos mais intensos do El Niño, que trouxe preocupação para toda a lavoura", disse na ocasião Pavel Cardoso, presidente da Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café).

"O resultado foi um aumento exponencial, uma curva preocupante de ascendência do preço da matéria-prima, notadamente do robusta, em função da escalada do preço na Bolsa de Londres."

Por isso, o preço deve aumentar significativamente nos próximos meses. "Pela média que nós fizemos, algo em torno de 10% agora em janeiro e fevereiro e, se isso não se arrefecer, se esse movimento de alta nas Bolsas não se arrefecer, potencialmente outros 5% a 7% em março", disse.

Cardoso afirmou ainda que os industriais têm sofrido com a alta do preço da matéria-prima e que têm evitado repassar ao consumidor, mas que, agora, o repasse seria inevitável, sob pena de os empresários comprometerem "a saúde financeira dos seus negócios".

"Então haverá e já está havendo aumentos para o trade e, naturalmente, chegará aos consumidores nos próximos 30 a 60 dias", afirmou na ocasião.

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