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Ciclocosmo - Caio Guatelli
Caio Guatelli
Descrição de chapéu trânsito

Ciclopassarela sobre o rio Pinheiros começa a ser construída

Novo nome do projeto, que homenageia jornalista, não aparece nas placas da obra

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Quase 8 anos após aprovar o projeto, a Prefeitura de São Paulo iniciou a construção da ciclopassarela que conectará os bairros Pinheiros e Butantã, na zona oeste da cidade.

A obra faz parte das melhorias urbanísticas financiadas pelas contrapartidas financeiras da exploração imobiliária, as chamadas outorgas onerosas, está prevista desde 1995, quando a lei da Operação Urbana Faria Lima foi sancionada, e teve seu projeto aprovado em 5 de abril de 2016, pouco tempo depois da criação do Plano de Mobilidade Urbana de São Paulo, que entre outras metas, determinou que a gestão 2021-2024 construa uma ciclopassarela e ciclovias em 11 viadutos já existentes.

Região na zona oeste de São Paulo onde será construída a ciclopassarela sobre o rio Pinheiros. Projeto está aprovado desde 2016

A entrega da ciclopassarela ainda em 2024 também faz parte do Programa de Metas do prefeito Ricardo Nunes (MDB), mas sua gestão reduziu para 7 o número de ciclovias a serem construídas sobre viadutos já existentes.

Há cerca de duas semanas, as praças onde serão fincados os pilares de sustentação da futura ponte foram cercadas por tapumes. Ao menos 4 placas de comunicação anunciam o início das obras, indicando o custo de quase R$ 42 milhões, pago à construtora vencedora da licitação, a Concrejato. Operários e máquinas já são vistos trabalhando no local.

A construção da ciclopassarela é uma das demandas mais antigas dos ciclistas e pedestres que circulam naquela região e são obrigados a dividir espaço com veículos automotores pelas movimentadas pistas da ponte Eusébio Matoso, ou usando suas estreitas calçadas.

Os apelos pelo início da obra duraram 29 anos e atravessaram 9 gestões municipais. Em uma das tentativas de pressionar a prefeitura, o coletivo cicloativista Bike Zona Oeste fez uma contagem de ciclistas na perigosa travessia, em novembro de 2021. Na época, o levantamento mostrava até 140 ciclistas cruzando a ponte Eusébio Matoso por hora em meio ao intenso fluxo de carros, motos, caminhões e ônibus. O resultado foi entregue à prefeitura através da 50ª reunião da Operação Urbana Consorciada Faria Lima, realizada ainda naquele ano.

Nesta mesma reunião, o Grupo Gestor da operação, composto por representantes do poder público e da sociedade civil, aprovou por unanimidade a adoção de um novo nome ao projeto: Ciclopassarela Jornalista Erika Sallum, em homenagem ao trabalho da jornalista, que era também cicloativista, criadora do blog Ciclocosmo, e militava em favor das populações periféricas. Erika morreu em 14 de agosto de 2021, em decorrência de um câncer. Logo em seguida, a comunidade de ciclistas da cidade se reuniu e juntou mais de mil assinaturas para apoiar o nome de Sallum na estrutura cicloviária. Antes, o nome do projeto estava ligado ao viaduto contíguo, que homenageia o empresário Bernardo Goldfarb, fundador das lojas Marisa, morto em 1990.

Apesar da nova denominação, as placas de comunicação fixadas no entorno da obra não trazem qualquer menção à jornalista.

Placa de comunicação da obra da ciclopassarela não traz o novo nome do projeto aprovado em 2022, da jornalista Erika Sallum

Por nota, a prefeitura esclareceu que a definição de nomes de logradouros ocorre por meio de aprovação de lei pela Câmara de São Paulo, e que as placas de obras devem incluir as informações estipuladas no contrato, cujo objeto segue o nome oficial do empreendimento.

Na Câmara Municipal de São Paulo, o novo nome do projeto foi aprovado na primeira votação do PL 468/23, de autoria dos vereadores Ricardo Teixeira (União), Luna Zarattini (PT), George Hato (MDB) e Marcelo Messias (MDB). O texto denomina a Ciclopassarela Jornalista Erika Sallum a futura transposição cicloviária do rio Pinheiros, e foi encaminhado ao executivo em 11 de setembro do ano passado.

Quando entregue, a ciclopassarela criará um extenso eixo cicloviário entre o extremo oeste da capital e a malha cicloviária do centro, percorrendo a ciclovia Eliseu de Almeida e as ciclofaixas da Rebouças e da Consolação, e se conectando aos eixos cicloviários que levam à zona sul pelas ciclovia da margem leste do rio Pinheiros e ciclovia da avenida Faria Lima, e sudeste, pela ciclovia da Paulista.

Enquanto a ciclopassarela não fica pronta, ciclistas e pedestres reclamam do pouco espaço que sobrou para circular no entorno da obra. Os tapumes que cercam a praça Oliveira Penteado, instalados pela Concrejato, interditam a calçada que servia de acesso à ponte Eusébio Matoso, obrigando pedestres e ciclistas a usar um desvio estreito e mal sinalizado na pista de automóveis. "Antes a gente seguia pela calçada, era seguro. Agora, com o desvio, tem que pedalar agarrando naquela grade, dá um pouco de medo sim", disse o empresário Alan Venturini, 54, que diariamente passa por ali com sua bicicleta, na ida e na volta do trabalho. Na calçada oposta, um guindaste da obra foi deixado estacionado na manhã de terça-feira (31), fechando toda a passagem.

Informada sobre a situação, a prefeitura disse que enviará uma equipe de engenharia de tráfego para fazer uma vistoria na obra e garantir que a sinalização adotada pela empresa esteja adequada à legislação de trânsito e ao Termo de Permissão de Ocupação do Viário, emitido pela CET (Companhia de Engenharia e Tráfego).

Até o fim deste ano, data que se encerra a atual gestão, a Prefeitura de São Paulo precisa implantar mais 5 transposições cicloviárias por viadutos já existentes e terminar a obra da ciclopassarela para atingir as metas de transposições cicloviárias previstas em seu Programa de Metas.

Segundo a prefeitura, "Já foram implantadas as ciclovias sobre as pontes da Cidade Universitária e dos Remédios. Há projetos elaborados para a ponte do Jaguaré (sobre o Rio Pinheiros) e para as pontes do Limão, Piqueri, Freguesia do Ó e do Tatuapé (sobre o Rio Tietê)". O comunicado também informou que a CET elaborou uma conexão da futura ciclopassarela com a ciclovia do Parque Linear Bruno Covas, acesso que não estava previsto no projeto original.

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