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Ciclocosmo - Caio Guatelli
Caio Guatelli
Descrição de chapéu violência

Exaltação a Julieta Hernández

Manifestação pela artista, assassinada ano passado, ocorrerá em diversas cidades nesta sexta

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Julieta Inés Hernández Martínez era o nome da palhaça Jujuba, uma artista itinerante, imigrante venezuelana e cicloviajante. Morava no Brasil desde 2015.

Em 2019 saiu pedalando do Rio de Janeiro, mirou o norte e foi cruzando os estados brasileiros devagarzinho, rumo às suas origens. Queria reencontrar a mãe.

A artista venezuelana Julieta Inés Hernández Martínez - Instagram

Pedalando sozinha, percorria as estradas desse país quebrando paradigmas, derrubando preconceitos e levando valiosa bagagem: pura alegria e sabedoria para doar às pobres cidadezinhas por onde passava.

Morreu em 23 de dezembro de 2023, aos 38 anos de idade. Foi estuprada, enforcada, queimada, enterrada em cova rasa por um casal de brasileiros num matagal de Presidente Figueiredo (AM).

Nesse país vacilante, que se deixou guiar pela truculência das armas, o assassinato de uma palhaça deveria gerar uma reação contrária de igual potência, de celebração da paz e do desarmamento, que pusesse um fim definitivo na tenebrosa e covarde política do medo.

Mártir da independência feminina e da alegria brasileira é como essa mulher-imigrante-palhaça-ciclista há de ser lembrada, para sempre.

Para disseminar sua sabedoria, nada melhor do que as palavras da própria Julieta, reproduzidas aqui de um discurso espontâneo, dito em português com um belo sotaque, que ela mesma gravou em alguma parada de sua justa, correta, honesta, linda e longa pedalada:

Ser mulher, palhaça e imigrante venezuelana são 3 coisas que estão entrelaçadas. E nesse momento sou imigrante venezuelana itinerante viajando de bicicleta pelo interior dos estados nordestinos do Brasil. Ainda que não seja o país que nasci, é um pouco meu sim, porque inevitavelmente a gente como migrante acaba se permeando pela cultura e realidade do país ao qual por necessidade ou escolha a gente teve que morar.

Ser mulher palhaça imigrante é uma grande responsa. Porque a gente querendo ou não, vira referência de mulher que viaja só. referência de mulher que escolhe uma profissão que geralmente é de homem. Porque nesses lugares é difícil que chegue palhaço, e quando chega, é homem.

E ser talvez a primeira venezuelana que muitos e muitas pessoas aqui conheçam, em um momento no qual companheiros do meu país moram em situação migratória em diferentes partes, incluindo a América Latina, e sofrem xenofobia.

Ser venezuelana imigrante é uma grande oportunidade de poder chegar nas pessoas para falar do meu país, do quão próximo somos da nossa realidade, que eles possam ter uma referência além da que a televisão dá para eles, e assim fazer com que os próximos venezuelanos e venezuelanas que cheguem a eles sejam recebidos de braços abertos, como eu fui.

Nesta sexta-feira (12), o Brasil exaltará Julieta Inés Hernández Martínez em uma pedalada nacional. Diversas capitais e centros urbanos já confirmaram o evento.

Na cidade de São Paulo a concentração de ciclistas começa às 18h30, no vão livre do Masp.

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