Cozinha Bruta

Comida de verdade, receitas e papo sobre gastronomia com humor (bom e mau)

Vai ter camarão do Coco Bambu no golpe de Bolsonaro

Dono do restaurante integra uma casta de empresários que apoia o governo apesar do golpe iminente (ou por causa dele)

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São Paulo

Plantada em frente a um restaurante Coco Bambu em Brasília, a médica cearense Mayra Pinheiro gravou um vídeo em apoio ao dono da rede, acusado por Ciro Gomes de sonegar impostos. Ao lado de Mayra, estava o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). No final do vídeo, a dupla grita em uníssono: "Somos todos Coco Bambu!".

Sei lá se as acusações de Ciro têm substância, mas sei de uma coisa. Quando a Capitã Cloroquina e Dudu Bananinha se posicionam a favor de alguma coisa, o bom-senso manda tomar a posição oposta.

Camarão Coco Bambu, da rede Coco Bambu, feito com camarões recheados com catupiry e empanados, servido com arroz cremoso gratinado com queijo e batata palha
O Coco Bambu soterra a delicadeza dos frutos do mar com uma tonelada de queijo, requeijão e, neste caso, batata palha - Divulgação

Mayra diz que o Coco Bambu é "motivo de orgulho nacional" porque "leva alimentação de qualidade para milhões de brasileiros". Em que planeta vive essa pessoa?

A qualidade da comida é, no mínimo, discutível. O Coco Bambu é célebre por esmagar a delicadeza dos frutos do mar com toneladas de molho branco, requeijão, muçarela e parmesão.

Quanto a levar tal comida para "milhões de brasileiros", trata-se de uma declaração doidivanas –para usar o vocabulário da Capitã Cloroquina. Um prato individual de camarões não sai por menos de R$ 138 no Coco Bambu do Lago Sul, onde o vídeo foi gravado.

Deveria intrigar a prontidão com que Mayra e Dudu correram ao Lago Sul para defender a honra de um restaurante. Mas não intriga. Afrânio Barreira, dono da rede Coco Bambu –cearense, assim como a médica e Ciro Gomes–, é apoiador de primeira hora de Jair Bolsonaro.

Continua cerrando fileiras com o presidente, apesar do golpe anunciado e iminente, pronto para marchar quando vier a derrota eleitoral. Ou seria por causa do golpe?

Barreira integra uma casta de empresários que insiste em comemorar uma realidade paralela de progresso, ordem, Deus, família, pátria e o escambau a quatro na terra devastada por Bolsonaro. Essa gente finge que não há inflação descontrolada, corrupção bananeira, miséria, fome e a implosão deliberada dos traços de civilidade que, mal e mal, ainda nos mantêm como nação.

No ramo da alimentação, Barreira faz dupla com Júnior Durski, o czar dos hambúrgueres ressecados do Madero. Ambos se vestem de Zé Carioca e vão festejar, com o camaradinha Luciano Hang, o fascismo caricato (perdão pela redundância) que viceja no Brasil calcinado.

Como disse Ruy Castro na coluna de quarta-feira (4), essa elite muito peculiar parece estar contente com toda a destruição perpetrada por Bolsonaro. O que será que alguém ganha com isso?

Num mundo sensato, os donos do dinheiro fugiriam correndo do caos que, em última análise, também afugenta o dinheiro. Mas eles flertam com o apocalipse. Estão mesmerizados pela fera aniquiladora que, presumem, logo terá poder pleno para passar a plaina por cima de tudo.

Eles já puseram champanhe no gelo para brindar com o tirano. Devem ter algo a ganhar com o fim do Brasil.

Na festa do golpe de Bolsonaro, se golpe houver, vai ter hambúrguer do Madero. Vai ter camarão do Coco Bambu. E talvez, até lá, Bolsonaro já tenha aprendido a mastigar o camarão.

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