Cozinha Bruta

Comida de verdade, receitas e papo sobre gastronomia com humor (bom e mau)

Descrição de chapéu alimentação

Outback é tão australiano quanto o Habib's é libanês

Restaurante americano que finge ser da Austrália faz mais sucesso no Brasil do que em qualquer outro lugar

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São Paulo

Imagine a seguinte situação:

O maior Habib’s do mundo, localizado em Burbank, Califórnia, tem uma fila permanente na porta, com até duas horas e espera.

Mas os clientes não parecem incomodados. Eles estão felizes porque terão uma experiência top e diferenciada da exótica culinária das Arábias, uma verdadeira coqueluche em todos os Estados Unidos.

Os americanos, aliás, sequer desconfiam que o Habib’s, na verdade, é uma rede brasileira de lanchonetes, fundada por um português criado no Paraná. É total o deslumbre dos gringos com o ambiente autenticamente libanês.

Ribs Bloomin' Burger - costela desfiada, queijos gratinados, pétalas de Bloomin’ Onion e maionese da casa, servida no pão de hambúrguer australiano
Sanduíche feito no pão australiano, que o Outback inventou e o Brasil incorporou ao seu repertório alimentar - Divulgação

Eles são crentes de que, em Beirute, as pessoas se vestem como o gênio da lâmpada do Aladim. Juram, pela mãe mortinha, que os pratos libaneses mais típicos são a bib’sfiha de quatro queijos e o quibe recheado de cremely®.

Teve até o caso de uma missionária mórmon de Oklahoma que, ao viajar a turismo para o Oriente Médio, ficou tremendamente frustrada porque não conseguiu comer bib’sfihas. Talvez fosse a pronúncia. Talvez não tivesse ido aos restaurantes certos.

Troque Habib’s por Outback Steakhouse, Líbano por Austrália e Estados Unidos por Brasil. Temos, em linhas gerais, o fenômeno que o correspondente Terrence McCoy relatou no jornal The Washington Post.

O texto faz rir –meio de nervoso, meio de vergonha– com uma impagável descrição da surreal obsessão dos brasileiros pelo Outback.

Residente no Rio, McCoy se mostra intrigado com o sucesso da rede de restaurantes –100% americana, mas que se vale de bumerangues e coalas empalhados para fingir ser australiana.

O Brasil é, de longe, o maior mercado internacional do Outback.

Nos Estados Unidos, ele é só mais um restaurante temático meia-boca de beira de estrada. Concorre com bizarrices como o Medieval Times –em que os clientes comem frango assado sem talheres enquanto assistem a um torneio fajuto de cavaleiros.

McCoy veio a São Paulo, mais especificamente ao Center Norte, conhecer a maior loja do Outback no mundo todo –duas vezes maior do que o maior Outback nos Estados Unidos. Numa segunda-feira qualquer, escutou de uma hostess que a fila estava quilométrica porque o lugar é "muito chique".

De fato, muitos brasileiros pensam que a cebola frita do Outback é o maná do deserto e que a costelinha ao molho barbecue é um manjar dos deuses. Babam com o charme australiano, sentem-se em Sydney, em Brisbane.

Um item modesto, meio simplório até, é o símbolo máximo da adoração absurda pelo Outback: o pão do couvert. A rede serve um pão quentinho, macio, escuro e meio adocicado, feito de farinha branca e cacau.

Chamam-no de outbread ou, na descrição longa, "nosso icônico pão australiano".

O Brasil gamou nesse pão e o incorporou ao repertório alimentar nacional. Toda padaria que se dê o respeito oferece pão australiano. Os supermercados vendem mistura para fazer pão australiano em casa.

Agora, veja bem: vá tentar achar pão igual ao do Outback na Austrália. Periga ser mais fácil encontrar quibe frito com requeijão cremoso nas ruas de Beirute.

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