Cozinha Bruta

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Descrição de chapéu alimentação

Deveríamos parar de comprar azeite?

Com a produção em baixa e o preço lá na Lua, o azeite de oliva tende a se tornar um alimento restrito ao segmento de luxo

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Londres

Sou um enorme fã do sabor do azeite de oliva. Em casa, o volume de azeite consumido é muito maior do que o de óleo vegetal neutro –que ocupa a quarta posição, depois da manteiga e da banha de porco.

Feita a declaração de amor, trago a dúvida: não seria sensato dar uma pausa nessa relação com o azeite?

Como reportou de Madri o amigo Ivan Finotti, a produção do óleo de azeitonas caiu pela metade na Espanha este ano (leve em conta que o país responde por 45% do azeite vendido no mundo).

Azeite jorrando de uma prensa para uma tina metálica
Produção de azeite no Alentejo, em Portugal - Mauro Zafalon/Folhapress

O preço, no produtor, triplicou desde 2020.

O aumento vai chegar à gôndola do supermercado no Brasil. Sempre chega. Antes da pandemia, era possível comprar 750 ml de azeite aceitável por R$ 17 ou R$ 20. Agora o preço das marcas mais reles já passa de R$ 30.

E a coisa só tende a piorar no curto prazo. O rebote da quebra da safra espanhola vai chegar forte.

Em termos de volume, o azeite de oliva responde por uma parcela pouco relevante do total de gorduras usadas na culinária. Quando se medem os valores do setor, temos um negócio de proporções gigantescas.

Um órgão poderoso gerencia o marketing global do azeite: o Conselho Oleícola Internacional, sediado justamente em Madri.

Cabem ao COI o fomento e a divulgação de pesquisas que destacam os benefícios à saúde trazidos pelo azeite de oliva. A mim não cabe duvidar de tais estudos, apenas questionar se vale a pena insistir num alimento que tende a se tornar inacessível nos próximos anos.

A oliveira, assim como a parreira vinífera, são espécies exóticas no Brasil. Mais: seus ciclos não se adaptam aos climas da maior parte de nosso território.

É preciso um grande esforço agronômico para produzir azeite e vinho brasileiros em escala comercial. Nunca seremos autossuficientes nesses dois alimentos. São produtos de nicho, artigos de luxo.

Coisa para quem pode pagar.

Você pode? Eu ainda posso. Não sei até quando.

O vínculo da nossa cultura alimentar à portuguesa é umbilical. O azeite faz parte da nossa culinária, mas sempre foi um produto importado. Recentemente, temos excelentes azeites produzidos em solo nacional, mas de volume irrisório e preço lá na Lua.

Não é algo que a população em geral consuma. Aliás, nenhum azeite é.

Infelizmente, nada do que chamamos de gastronomia faz parte do repertório popular. Sei que minhas palavras se dirigem a poucos privilegiados.

Para estes, deixar de usar azeite (ou reduzir drasticamente seu uso) requer uma reformulação total dos hábitos. Uma recriação da culinária com algo que sequer existe –uma gordura vegetal saudável, sustentável e palatável, produzida em larga escala, com preços sensatos.

Pois é.

Acho que ainda somos dependentes do azeite a preços extorsivos.

Por último, uma dica de ouro. Se você acha que o azeite está caro demais, troque-o por óleo, banha ou manteiga. Não caia no truque do azeite que custa a metade do preço, sempre adulterado.

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