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De Grão em Grão - Michael Viriato
Michael Viriato
Descrição de chapéu juros Selic copom

FED dá mensagem curta, mas direta; entenda como isso afeta os investimentos

Cenário de elevada inflação e alta de taxas de juros sugere cautela nos investimentos

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Foi um discurso de menos de 9 minutos, mas provocou perda de mais de US$ 1 trilhão, considerando apenas o mercado de ações americano na última sexta-feira. Explico as principais mensagens do presidente do FED, Jerome Powell, e as consequências que podemos esperar nos investimentos.

Jerome Powell, presidente do FED, discursou na última sexta-feira. REUTERS/Elizabeth Frantz/File Photo/File Photo ORG XMIT: FW1 - REUTERS

Podemos elencar quatro principais mensagens no discurso de Powell:
1 – FED vai fazer de tudo para trazer a inflação de volta à meta de 2% ao ano;
2 – A estabilidade de preços é responsabilidade do FED, pois sem estabilidade de preços a economia não funcionaria de forma sustentável, afetando o mercado de trabalho;
3 – Restaurar a estabilidade de preços vai demorar e exigir o uso de ferramentas de política monetária de forma firme. Consequentemente, o crescimento vai permanecer baixo por um certo tempo;
4 – Taxas de juros mais altas e crescimento menor irão penalizar negócios e este é o custo de se buscar a redução da inflação.

O Federal Open Market Committee (FOMC), similar ao COPOM no Brasil, subiu a taxa básica de juros em 0,75% para a faixa entre 2,25% e 2,5% ao ano na última reunião de julho.

Naquele momento, ele já aventou a possibilidade de um novo aumento de 0,75% na próxima reunião de setembro, mas o mercado entendeu que poderia ser até menos e, com a divulgação de indicadores econômicos que sinalizavam menor inflação e menor crescimento, ficou ainda mais otimista nesse mês de agosto.

No discurso, Powell deixou claro que o próximo aumento de juros deve ser de 0,75%, seguido de outros eventualmente menores. Também, que a política monetária restritiva será mantida até que inflação caia ao objetivo. Portanto, foi mais incisivo.

Ele reforçou que, ao final de 2023, a taxa básica ainda estaria ligeiramente abaixo de 4% ao ano, ou seja, com os dados de hoje, possivelmente, não haveria queda de juros até o fim de 2023. Entretanto, o mercado já estava mais otimista e contava com juros menores.

Essa quebra de expectativa provocou as perdas nos mercados de ações na última sexta-feira.

Passado esse primeiro susto do mercado de sexta-feira, quais preocupações ainda se mantêm?

A mensagem do FED foi muito clara. As taxas de juros irão subir e se manter elevadas até que a inflação caia.

Esse é um remédio muito amargo para ativos de risco em geral. Não quer dizer que não se deva ter qualquer posição de risco. Entretanto, é necessário considerar um horizonte de mais longo prazo.

Evolução da inflação ao consumidor americano (CPI), até a penúltima divulgação em julho, quando o CPI atingiu 9,1% ao ano, seu máximo histórico de 40 anos.
Evolução da inflação ao consumidor americano (CPI), até a penúltima divulgação em julho, quando o CPI atingiu 9,1% ao ano, seu máximo histórico de 40 anos. Com a divulgação da inflação de julho, em 10 de agosto, o CPI desacelerou para 8,5% ao ano. - Bloomberg

O ciclo de alta de juros nos EUA vai depender dos próximos dados econômicos de inflação. O índice de inflação americano (CPI), equivalente ao IPCA no Brasil, é divulgado no décimo dia de cada mês.

Se houver uma reversão mais rápida dos indicadores de inflação, o mercado pode voltar a melhorar. Portanto, será necessário acompanhar de perto.

Os ativos que mais sofrem com aumentos de taxa de juros são aqueles que possuem baixo fluxo de caixa de curto prazo ou simplesmente não o possuem, por exemplo, criptoativos, ouro e ações de empresas sem expectativa de lucro no curto prazo, como as de tecnologia.

Também no mercado internacional, deve-se evitar títulos de renda fixa de longo prazo, pois são mais afetados em momentos de elevação de taxas de juros.

No Brasil, a alta de juros americana pode provocar maior pressão de desvalorização do Real e reflexos negativos nos mercados de ações. Para os ativos brasileiros, pesa positivamente o fato de o Banco Central do Brasil estar mais adiantado no processo de elevação de taxas de juros.

No mercado nacional, possivelmente, a Selic pode até não subir mais, o que é positivo. Entretanto, uma eventual queda das taxas, que poderia favorecer o mercado, também depende do arrefecimento da inflação interna e dos movimentos internacionais de juros.

Portanto, ainda é necessário cautela nos investimentos.

Leia o discurso de Jerome Powell na íntegra no link.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor

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