Foi um discurso de menos de 9 minutos, mas provocou perda de mais de US$ 1 trilhão, considerando apenas o mercado de ações americano na última sexta-feira. Explico as principais mensagens do presidente do FED, Jerome Powell, e as consequências que podemos esperar nos investimentos.
Podemos elencar quatro principais mensagens no discurso de Powell:
1 – FED vai fazer de tudo para trazer a inflação de volta à meta de 2% ao ano;
2 – A estabilidade de preços é responsabilidade do FED, pois sem estabilidade de preços a economia não funcionaria de forma sustentável, afetando o mercado de trabalho;
3 – Restaurar a estabilidade de preços vai demorar e exigir o uso de ferramentas de política monetária de forma firme. Consequentemente, o crescimento vai permanecer baixo por um certo tempo;
4 – Taxas de juros mais altas e crescimento menor irão penalizar negócios e este é o custo de se buscar a redução da inflação.
O Federal Open Market Committee (FOMC), similar ao COPOM no Brasil, subiu a taxa básica de juros em 0,75% para a faixa entre 2,25% e 2,5% ao ano na última reunião de julho.
Naquele momento, ele já aventou a possibilidade de um novo aumento de 0,75% na próxima reunião de setembro, mas o mercado entendeu que poderia ser até menos e, com a divulgação de indicadores econômicos que sinalizavam menor inflação e menor crescimento, ficou ainda mais otimista nesse mês de agosto.
No discurso, Powell deixou claro que o próximo aumento de juros deve ser de 0,75%, seguido de outros eventualmente menores. Também, que a política monetária restritiva será mantida até que inflação caia ao objetivo. Portanto, foi mais incisivo.
Ele reforçou que, ao final de 2023, a taxa básica ainda estaria ligeiramente abaixo de 4% ao ano, ou seja, com os dados de hoje, possivelmente, não haveria queda de juros até o fim de 2023. Entretanto, o mercado já estava mais otimista e contava com juros menores.
Essa quebra de expectativa provocou as perdas nos mercados de ações na última sexta-feira.
Passado esse primeiro susto do mercado de sexta-feira, quais preocupações ainda se mantêm?
A mensagem do FED foi muito clara. As taxas de juros irão subir e se manter elevadas até que a inflação caia.
Esse é um remédio muito amargo para ativos de risco em geral. Não quer dizer que não se deva ter qualquer posição de risco. Entretanto, é necessário considerar um horizonte de mais longo prazo.
O ciclo de alta de juros nos EUA vai depender dos próximos dados econômicos de inflação. O índice de inflação americano (CPI), equivalente ao IPCA no Brasil, é divulgado no décimo dia de cada mês.
Se houver uma reversão mais rápida dos indicadores de inflação, o mercado pode voltar a melhorar. Portanto, será necessário acompanhar de perto.
Os ativos que mais sofrem com aumentos de taxa de juros são aqueles que possuem baixo fluxo de caixa de curto prazo ou simplesmente não o possuem, por exemplo, criptoativos, ouro e ações de empresas sem expectativa de lucro no curto prazo, como as de tecnologia.
Também no mercado internacional, deve-se evitar títulos de renda fixa de longo prazo, pois são mais afetados em momentos de elevação de taxas de juros.
No Brasil, a alta de juros americana pode provocar maior pressão de desvalorização do Real e reflexos negativos nos mercados de ações. Para os ativos brasileiros, pesa positivamente o fato de o Banco Central do Brasil estar mais adiantado no processo de elevação de taxas de juros.
No mercado nacional, possivelmente, a Selic pode até não subir mais, o que é positivo. Entretanto, uma eventual queda das taxas, que poderia favorecer o mercado, também depende do arrefecimento da inflação interna e dos movimentos internacionais de juros.
Portanto, ainda é necessário cautela nos investimentos.
Leia o discurso de Jerome Powell na íntegra no link.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor
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