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De Grão em Grão - Michael Viriato
Michael Viriato
Descrição de chapéu Selic juros copom

Com as taxas de juros atuais quem deve render mais: Treasury em dólar ou Tesouro IPCA?

Quando consideramos o retorno por unidade de risco, um dos títulos ganha por larga margem; descubra qual

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Frequentemente, recebo indagações sobre diversificação internacional. Muitos ouvem falar que as taxas de juros americanas estão na máxima dos últimos 17 anos e logo imaginam que deve ser uma grande oportunidade. Nesse momento, sempre aparece aquele amigo que indaga incrédulo como se você estivesse fazendo uma enorme bobagem: como assim, você não investe lá fora? Daí bate aquela dúvida se você estaria perdendo uma grande oportunidade. Mas, será que está perdendo algo?

Quando consideramos apenas o retorno um dos títulos perde em um período, mas se considerarmos também o risco, um dos títulos nunca perderia - Reuters

Realmente, as taxas de juros americanas estão no maior nível desde 2007. O gráfico abaixo apresenta a evolução destas taxas ao longo dos anos.

A taxa de 30 anos americana renderia a um investidor brasileiro o equivalente a 4,48% ao ano mais a variação do dólar. Convenhamos, a taxa de 4,48% ao ano não empolga nenhum brasileiro.

Evolução da taxa de juros de títulos públicos americanos de 10 anos. Fonte: Bloomberg
Evolução da taxa de juros de títulos públicos americanos de 10 anos. Fonte: Bloomberg - Bloomberg

Entretanto, quando ouvimos que podemos ganhar a variação do dólar, muitos salivam. Esse sentimento ocorre, pois costumamos lembrar mais fortemente das grandes desvalorizações do Real. Esquecemos que por vários momentos, a valorização do dólar não foi lá tão grande.

Vamos fazer um teste. Quanto se valorizou o dólar em relação ao Real ao ano nos últimos 20 anos?
a) 6,7% ao ano
b) 5,7% ao ano
c) 3,7% ao ano
d) 2,7% ao ano

A teoria da paridade do poder de compra, ou PPP na sigla em inglês, declara que a taxa de câmbio se ajusta para refletir o diferencial de inflação entre dois países. Ela não se aplica às variações de curto prazo que são mais influenciadas por fluxos cambiais e ruídos.

Entretanto, se mostrou razoavelmente assertiva para explicar a variação do dólar nas últimas duas décadas. A resposta correta para a pergunta acima é a última alternativa.

Essa variação também não parece muito convidativa, hein?

Vamos analisar seguinte. Considere os números de IPCA e de variação do dólar desde 1999. Não vou considerar os anos anteriores, pois no início do plano Real, o câmbio não era flutuante como agora.

Vamos considerar as taxas de juros atuais de um título público referenciado ao IPCA de 30 anos e a taxa acima da Treasury de 30 anos. Hoje você tem estas duas alternativas para investir. Não vou considerar os títulos privados, pois a análise seria equivalente.

A taxa do título do tesouro nacional hoje está em IPCA+5,88% ao ano e como falamos acima na Treasury, você ganharia Dólar+4,48% ao ano.

A tabela abaixo apresenta o retorno acumulado em várias janelas de tempo passadas. Perceba que, exceto por uma, o retorno de um título público referenciado ao IPCA ganhou do equivalente americano em todas as janelas de tempo.

Retorno acumlado Retorno acumlado
Tesouro IPCA (30 anos) Treasury americana (30 anos)
Prazo IPCA+5,88% Dólar+4,48%
5 anos 76,7% 55,6%
10 anos 214,3% 220,3%
15 anos 451,7% 299,8%
20 anos 852,6% 302,6%
25 anos 1.838,0% 1.098,0%

Mesmo se considerarmos no intervalo o título brasileiro perdeu, a diferença foi muito pequena. Entretanto, quando consideramos o desconforto da volatilidade do câmbio, a preferência de qualquer investidor teria sido ganhar menos.

A volatilidade de um título internacional é muito maior devido à volatilidade do câmbio. A volatilidade da treasury em dólar alcança 19,4% ao ano. Isso é equivalente a volatilidade do Ibovespa. Já o título referenciado ao IPCA possui apenas metade desta volatilidade.

Logo, quando se calcula o Sharpe, ou seja, o retorno pelo risco de ambas as alternativas, o título brasileiro ganha por margem ainda maior.

Portanto, quando aquele amigo perguntar se você investe lá fora, pergunte a ele se ele sabe quanto teria rendido um título referenciado ao IPCA no passado e como o título que ele sugere renderia com as taxas de juros atuais.

Nossas taxas de juros, neste momento, se encontram muito atrativas para serem desprezados por uma simples fantasia de investir internacionalmente.

Ressalto que o mesmo raciocínio não pode ser empregado para o investimento em renda variável. Para esse, olhem o que escrevi há algumas semanas.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.

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