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De Grão em Grão - Michael Viriato
Michael Viriato

Novo ciclo de alta da Selic; veja por que este não é o momento de assumir mais risco

Com a taxa de juros em alta, entender o impacto nas diferentes classes de ativos pode ser a chave para proteger seus investimentos e evitar decisões precipitadas

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Imagine que você está navegando em alto-mar. O clima estava calmo, mas, de repente, as nuvens começam a se formar no horizonte. Você tem duas opções: acelerar e tentar cruzar a tempestade, ou reduzir a velocidade e navegar com cautela até a calmaria. Da mesma forma, quando o Banco Central (BC) sinaliza um novo ciclo de alta da Selic, o investidor deve decidir se aumenta ou reduz o risco da sua carteira.

Gráfico apresenta a evolução da taxa Selic (em azul com escala invertida no eixo na direita) e o retorno de 12 meses do Ibovespa em excesso ao CDI (em vermelho com escala no eixo na esquerda).
Gráfico apresenta a evolução da taxa Selic (em azul com escala invertida no eixo na direita) e o retorno de 12 meses do Ibovespa em excesso ao CDI (em vermelho com escala no eixo na esquerda). - Michael Viriato

Depois de três reuniões com decisão de manutenção da taxa Selic, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC deve iniciar nesta próxima quarta-feira um novo ciclo de alta dos juros que se estenderá por pelo menos mais três reuniões do Copom. O mercado espera que neste ciclo a Selic suba entre 0,75% a 1,5% para uma faixa entre 11,25% e 12% ao ano. Nesta próxima quarta-feira a alta esperada para a Selic é de 0,25%.

Historicamente, os ciclos de alta da Selic impõem desafios a diversas classes de ativos. Desta forma, o mais recomendado neste momento é manter a cautela e não elevar o risco da carteira, esperando o momento de retomada do ciclo de queda para assumir riscos. Explico a seguir as razões.

No investimento em ações, quando os juros sobem, empresas listadas na Bolsa enfrentam aumento nas despesas financeiras, o que impacta diretamente seus lucros. Além disso, o custo de capital dessas empresas sobe, reduzindo o apetite dos investidores por ações. O custo de oportunidade também se eleva, já que a renda fixa passa a oferecer retornos mais atraentes com menor risco.

No gráfico acima, observamos a relação entre a evolução da taxa Selic (invertida, em azul) e o retorno do Ibovespa em excesso ao CDI (em vermelho). A linha da Selic invertida mostra que, quando os juros caem, o Ibovespa tende a subir, beneficiado pelo ambiente de crédito mais barato e maior disposição ao risco. No entanto, quando a Selic está em alta, o índice de ações sofre.

A lógica por trás disso é simples: empresas sofrem com custos financeiros mais altos e o retorno esperado de ações passa a não compensar o risco em comparação com a renda fixa. Investidores buscam segurança em momentos de alta de juros, e o mercado de ações tende a ser deixado de lado.

Gráfico apresenta a evolução da taxa Selic (em azul com escala invertida no eixo na direita) e o retorno de 12 meses do índice de Fundos Multimercados (IHFA) em excesso ao CDI (em vermelho com escala no eixo na esquerda).
Gráfico apresenta a evolução da taxa Selic (em azul com escala invertida no eixo na direita) e o retorno de 12 meses do índice de Fundos Multimercados (IHFA) em excesso ao CDI (em vermelho com escala no eixo na esquerda). - Michael Viriato

Essa dinâmica também se aplica a outros ativos de risco. Fundos multimercados (gráfico acima), que apostam em estratégias mais arriscadas, também podem enfrentar dificuldades em superar o CDI, um benchmark que se torna cada vez mais vantajoso.

Gráfico apresenta a evolução da taxa Selic (em azul com escala invertida no eixo na direita) e o retorno de 12 meses do índice de títulos públicos referenciados ao IPCA e prefixados em excesso ao CDI (em vermelho e laranja com escala no eixo na esquerda).
Gráfico apresenta a evolução da taxa Selic (em azul com escala invertida no eixo na direita) e o retorno de 12 meses do índice de títulos públicos referenciados ao IPCA e prefixados em excesso ao CDI (em vermelho e laranja com escala no eixo na esquerda). - Michael Viriato

Títulos prefixados e atrelados ao IPCA, devido à marcação a mercado, podem ter o desempenho comprometido no curto prazo em relação ao CDI durante os ciclos de alta, já que os novos títulos emitidos com juros mais altos desvalorizam os títulos anteriores. Reforço que isso não quer dizer que nenhum título referenciado ao IPCA deva ser comprado. Os títulos referenciados ao IPCA continuam sendo uma excelente forma de proteção para a inflação e ganho de um juro real, principalmente, neste momento que os juros estão mais elevados. Apenas no curto prazo eles podem se mostrar menos favoráveis.

Gráfico apresenta a evolução da taxa Selic (em azul com escala invertida no eixo na direita) e o retorno de 12 meses do Dólar em excesso ao CDI (em vermelho com escala no eixo na esquerda).
Gráfico apresenta a evolução da taxa Selic (em azul com escala invertida no eixo na direita) e o retorno de 12 meses do Dólar em excesso ao CDI (em vermelho com escala no eixo na esquerda). - Michael Viriato

No caso do câmbio, o efeito pode ser distinto. O real tende a se valorizar em relação ao dólar quando a Selic sobe, pois o Brasil se torna mais atraente para investidores internacionais buscando retornos seguros em renda fixa.

Diante desse cenário, o melhor caminho é não elevar o risco da carteira e adotar uma postura mais conservadora. Títulos e fundos pós-fixados atrelados ao CDI, que se beneficiam diretamente da alta dos juros, são uma escolha adequada para novos aportes ou para reservas de curto prazo. Como um navegador experiente que ajusta suas velas para enfrentar a tempestade, o investidor deve adaptar sua estratégia e esperar as condições mais favoráveis para aumentar o risco.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.

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