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Como é passar duas semanas com alongamentos de unhas de gel

Aplicação pode levar mais de duas horas e inclui procedimentos controversos, como cutilagem com broca e uso câmara de luz UV

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São Paulo

Entre um mar de brocas, pincéis, tesouras e mini cabines de luz ultravioleta, os salões de beleza, antes marcados por bacias de água morna e alicates, agora parecem mistura de consultório de dentista e nave espacial. A chegada das unhas de gel mudou tudo.

A semelhança com consultórios médicos não é por acaso. Foi um dentista que criou, em 1957, as peças postiças a partir de materiais odontológicos para tratar um machucado na unha.

A imagem mostra uma mão com unhas longas e pontudas, decoradas com um design que combina cores metálicas e detalhes coloridos, como rosa e verde. O fundo é uma superfície de concreto com folhas secas ao redor.
A nail artist Lorena Moura, da Blunt Nails, fez a decoração em prata e com um efeito celofane, o design que chamou a atenção em caixas de mercado e restaurantes - Bárbara Blum/Folhapress

Hoje, existe um mercado forte de unhas de acrigel, soft gel, banho de gel, alongamento em fibra de vidro, chips.

O resultado final pode chegar a centímetros de comprimento, à la Cardi B., rapper americana que virou meme por suas unhas em formato stiletto com pedrarias e cores extravagantes.

Tudo isso pede algumas adaptações no cotidiano —nos Estados Unidos, existe um chaveiro que funciona como uma pinça para pegar e usar cartões, por exemplo. Lorena Moura fez algumas adaptações no seu estúdio Blunt Nails, na Vila Madalena, na zona oeste de São Paulo, como incluir um botão para descarga no banheiro, que impede que as clientes prendam ou forcem as unhas na válvula.

Moura se apresenta sob o título de nail artist. O status de arte dado às unhas que produz não é à toa —ela assina as garras de celebridades como as funkeiras Tasha e Tracie e até guarda alguns exemplares usados em clipes e sessões de fotos.

A clientela é tão dedicada quanto as profissionais, já que a colocação pode ultrapassar as três horas de duração. A vida se adapta às unhas, não o contrário, como provaram as duas semanas que passei com as unhas alongadas —e decoradas— para entender o cotidiano de quem opta por esse método.

Parecia impossível adaptar o visual a um cotidiano de transporte público, trabalho no computador, lavar louça e limpar areia de gatos.

A maratona de etapas complexas envolve técnicas bem distintas de uma manicure normal. O método escolhido foi soft gel, recomendado por Moura por ser de remoção mais simples do que o alongamento em gel ou fibra de vidro. Consiste em moldes em gel duro no formato de unhas inteiriças que são posicionados rentes às cutículas, e fixados com camadas de gel líquido, que é endurecido com luz ultravioleta.

Começa nas cutículas a diferença da manicure tradicional. Sem bacias de água morna e os cremes amolecedores, a cutilagem é feita a seco e uma broca faz as vezes do alicate, raspando a pele que margeia as unhas. Dói menos, mas o método é controverso. Assim como a remoção comum de cutículas, cresce o risco de infecções por causa da remoção dessa barreira protetora.

A preparação da unha vem na sequência. Com uma lixa fina, raspa-se um pouco da camada externa da unha, deixando-a áspera. Segundo Moura, isso é necessário para que o gel líquido tenha aderência para fixar a extensão.

Segue-se uma sequência de demãos de gel, inclusive para a arte, e um tira-e-põe de mãos da cabine de raios UV para curar a substância, outra etapa controversa do alongamento de unhas.

A cabine usa a mesma tecnologia das câmaras de bronzeamento artificial proibidas pela Anvisa (Agência Nacional Vigilância Sanitária) por aumento do risco de câncer de pele. Cada mão faz ao menos cinco passagens pela câmara e o tempo gasto não passa de 60 segundos por vez. Ainda não há pesquisas que cravem uma correlação no caso das unhas de gel, mas recomenda-se atenção para a falta de estudos conclusivos.

Terminada a aplicação, quase três horas depois, a sensação das unhas de gel é a de ter dedos muito mais longos. Mover as mãos exige novos cálculos —são alguns milímetros a mais e de pontas mais delicadas.

A mudança no dia a dia que muitas mulheres relatam fazer, com suas pinças pegadoras de cartões de crédito e botões para descarga, se mostram necessárias. Tirar um cartão da carteira exige cuidado, já que a precisão do movimento se perde com o tamanho e a espessura das garras.

No começo, tudo que envolve as mãos causa estranhamento. Lavar o cabelo, usar o celular —o tic tic tic das unhas batendo na tela virou companhia constante—, limpar a caixa de areia dos gatos. Ir ao banheiro exige delicadeza. Mas não demora até que a maioria das atividades se torne normal.

Algumas coisas são sempre difíceis, não importa se as unhas foram colocadas há uma hora ou dez dias: abrir latas, dar descargas, apertar botões para o semáforo de pedestres ou para descer do ônibus, digitar no teclado mecânico. Moura conta de uma cliente que usa hashis para digitar no trabalho.

Existem, ainda, atividades desaconselhadas, basicamente qualquer coisa que envolva mergulhos prolongados na água. Segundo a nail artist, isso deixa as unhas mais frágeis e propensas a acidentes, além de criar um ambiente propenso a proliferação de fungos.

O tamanho das unhas —e, talvez, a nail art prateada com um efeito de pedraria— chamaram a atenção. Era frequente ouvir comentários sobre as unhas. Muitas compras que fiz no período foram arrematadas com comentários positivos das atendentes do caixa. Cheguei a ser reconhecida num restaurante por causa das unhas.

Tirar foi mais rápido do que colocar —efeito de um produto facilitador aplicado por Moura. Acetona e removedor não têm função aqui. O gel precisa ser removido de forma física, não química. Normalmente, o acrigel precisa ser raspado com a broca. No meu caso, as próteses foram empurradas com uma espátula e poucos detalhes remanescentes foram lixados.

Moura conta que a retirada total é pouco comum. Ela lembra um caso em que precisou ir às pressas para o hospital fazer a remoção para uma cliente que precisou de uma cirurgia de emergência.

A extensão de unhas, diz a artista, acaba sendo um instrumento de autoestima para várias mulheres. O gel acaba sendo uma forma de ter unhas longas para quem não consegue manter elas maiores sem que quebrem, ou sem roer.

É um investimento inicial de cerca de R$ 300, sem contar as manutenções, que devem acontecer na janela de quinze dias a um mês para evitar a proliferação de fungos. Para quem planeja mergulhar nesse universo a longo prazo, a conta pode fechar.

A durabilidade é bem superior à de uma manicure comum. Durante o uso das extensões, tive unhas perfeitas. Quando bati um dos meus dedos e temi pela quebra da unha, me surpreendi ao passar dias com dor no dedo —e a garra intacta.

O cenário mudou na retirada. Depois de tirar as próteses, Moura aplicou uma base fortalecedora com fios de nylon e alertou que, em um primeiro momento, a unha poderia ficar menos rígida, já que perdeu uma camada. Se bem cuidada, ela disse, não se tornaria quebradiça.

Na prática, foram semanas de unhas lascadas e irregulares. Ao passo que crescia, desníveis de cor, espessura e textura se tornaram notáveis entre o trecho que recebeu a extensão e a unha que começa a crescer.

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