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É Logo Ali - Luiza Pastor
Luiza Pastor

Ibirapuera, o parque que é a cara dos paulistanos

Equipamento recordista de visitação no país já recebeu 8,7 milhões de pessoas este ano

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Desde que comecei a publicar este blog, pensava em falar sobre o Parque Ibirapuera, o mais visitado da cidade de São Paulo e, a propósito, de toda a América Latina, tendo registrado nada menos que 8.721.822 visitantes entre janeiro e julho deste ano. E por que não falamos desse monumento ao lazer paulistano antes? Pensando aqui, provavelmente porque, de tão vizinho, de tão familiar a nós, paulistanos, é quase como falar do quintal da nossa casa, algo assim como expor o óbvio.

Só que de óbvio o Ibirapuera não tem nada. Ah, e antes que alguém caia na tentação de invocar intimidades e chamá-lo de "Ibira", vamos deixar claro que isso é mais ou menos como quem quer parecer paulistano e chama São Paulo de "Sampa". Esqueçam, colegas, só forasteiros caem nessa armadilha. Isto posto, sigamos.

Lago do Parque Ibirapuera - Eduardo Knapp - 13.jul.22/Folhapress

Com área verde total de 1.584.000 metros quadrados, o Ibirapuera foi inaugurado em 21 de agosto de 1954, como parte das comemorações do 4° Centenário de São Paulo, com projeto dos arquitetos Oscar Niemeyer, Ulhôa Cavalcanti, Zenon Lotufo, Eduardo Kneese de Mello, Ícaro de Castro Mello, e paisagismo de Augusto Teixeira Mendes, criado por Roberto Burle Marx. Esse grupo de notáveis aceitou o desafio de transformar em área de lazer uma área alagadiça que, na época da colonização, abrigava uma aldeia indígena responsável pela denominação Ypy-ra-ouêra, pau podre em tupi guarani.

A ideia de se transformar o lamaçal em parque data da década de 1920, quando o então prefeito de São Paulo, José Pires do Rio, achou que valia a pena fazer no local algo semelhante ao Bois de Boulogne, em Paris (França), o Hyde Park, em Londres (Inglaterra), ou o Central Park, em Nova York (EUA). Em 1927, Manuel Lopes de Oliveira, o "Manequinho Lopes" (que dá nome ao viveiro de mudas que abastece a cidade até hoje), plantou no local centenas de eucaliptos australianos para drenar o terreno e eliminar o excesso de umidade, dando vida ao embrião do que viria a ser um dos mais importantes símbolos paulistanos —e sem nada a ver com os parques que inspiraram Pires do Rio. Com seu traçado único e reunindo importantes museus, auditórios e monumentos da cidade, o Ibirapuera é um parque de personalidade própria e, ao mesmo tempo, tão incorporado à rotina da cidade quanto qualquer um dos supra citados lá fora.

Pavilhão das Culturas Brasileiras no Parque Ibirapuera - Divulgação

Tombado pelo Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo) e pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo), o Ibirapuera é aquele espaço onde caminhantes, corredores, ciclistas, patinadores e praticantes de cada vez mais variados esportes se exercitam diariamente.

Movimentação de turistas e visitantes no parque Ibirapuera, zona sul de SP, durante o feriado de Tiradentes - Mônica Bento - 21.abr.22/Folhapress

A convivência de tantas tribos, claro, nem sempre é das mais tranquilas, especialmente em feriados e finais de semana, quando o número de usuários é maior. No passado mês de julho, por exemplo, o parque registrou número recorde de visitantes, nada menos que dois milhões de pessoas de todas as idades que correram para desfrutar das férias —e do fim das restrições provocadas pela pandemia de Covid-19. Mas, vamos lá, com um pouco de paciência e boa vontade, todos podem aproveitar.

Vale lembrar que, para quem gosta de andar em trilho, sem sair de faixas demarcadas, o circuito que roda todo o contorno do Ibirapuera não é dos maiores, algo próximo dos 3 quilômetros apenas. Mas o grande diferencial, ali, é justamente poder sair do óbvio e explorar as muitas variantes e alamedas que ligam os museus, esculturas e monumentos, dar a volta ao lago (onde em dias de sol vale até levar uma toalhinha e um bom protetor solar para um bucólico piquenique), e percorrer o circuito cultural que se apresenta ao visitante.

Concessão pioneira

Nos últimos anos, toda uma polêmica envolveu a concessão ao setor privado do Ibirapuera, que acabou sendo concedido em outubro de 2020. A empresa que levou o que era considerado o mais atraente dos equipamentos oferecidos a concessão foi a Urbia Parques, que administra, além desse, mais cinco parques urbanos em São Paulo: Tenente Brigadeiro Faria Lima, Jacintho Alberto, Jardim Felicidade, Eucaliptos e Lajeado. E que, desde abril deste ano, passou a cuidar também dos parques estaduais Horto Florestal e Floresta Cantareira.

Samuel Lloyd, diretor da Urbia Parques, gestora do parque Ibirapuera - Kleber Marques/Divulgação

"Foi um grande desafio assumir a gestão do primeiro parque urbano concedido em todo o mundo", conta Samuel Lloyd, 40, diretor da Urbia. O desafio foi ainda maior uma vez que a concessão se iniciou em plena pandemia, com todas as restrições impostas a atividades que pudessem gerar renda, como a abertura de restaurantes e serviços pagos, enquanto se investia na manutenção cotidiana dos equipamentos e da área. "Foi um início conturbado, mas sabíamos que estávamos investindo também na saúde mental do usuário, que era muito importante na pandemia", acrescenta.

Com todas as dificuldades de um começo atípico, em menos de dois anos, Lloyd diz que a Urbia já investiu R$ 78,4 milhões dos R$ 180 milhões previstos no contrato da concessão. "E acreditamos que vamos chegar a esse valor em, no máximo, mais 4 a 5 anos". A maior parte desse investimento, explica, foi para a recuperação da extensa área verde, das vias e da infraestrutura do parque, como drenagem, reforma de banheiros e das pistas.

Banheiro reformado no parque Ibirapuera - Divulgação

Mas um projeto em especial vem sendo tocado com carinho pela Urbia para os próximos anos e leva o simpático nome de Eco 360. Desde que assumiu a gestão, Lloyd conta que foram recicladas, já, mais de 35 toneladas de resíduos, que contabilizam uma redução de carbono da ordem de 24.425 quilos. O projeto como um todo nasceu da percepção de que um dos maiores volumes de lixo gerados dentro do parque diariamente é representado pelas cascas de cocos verdes vendidos por mais de 160 ambulantes que há anos atuam no local e que são parte indissociável da paisagem do parque.

"Até 2025, temos a meta de aterro zero, ou seja, vamos reciclar ou destinar a compostagem tudo o que for possível", diz o diretor. No caso da casca de coco, o projeto é transformá-la em copos biodegradáveis que, descartados, serão mandados para compostagem", afirma Lloyd.

Como se trata de parque, o Ibirapuera tem horário de funcionamento, que é das 5 às 23h. Ah, e a entrada, ao contrário do que espalhavam os boatos na época da licitação da concessão, é totalmente gratuita.

Erramos: o texto foi alterado

Diferentemente do inicialmente publicado, uma das fotos é do Pavilhão das Culturas Brasileiras, e não do Pavilhão da Bienal

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