No dia 17 de abril, o paranaense Moeses Fiamoncini enfrentava sua terceira tentativa frustrada de chegar ao cume da Anapurna, montanha de 8.091 metros do Himalaia considerada uma das mais difíceis da cordilheira, por suas constantes avalanches nos pontos mais críticos do trajeto. A 70 metros do topo, ele reconheceu que a exaustão e o bom senso recomendavam a desistência, e começou a voltar, como outros montanhistas que também encaravam a perigosa descida. Entre os campos C3 e C2, acima dos 5.500 metros, justamente o trecho mais perigoso do percurso, aconteceu o que ninguém quer ver —mas é cada vez mais frequente: o indiano Anurag Maloo, que fazia sua primeira escalada acima de 8 mil metros, despencou de um rapel, ao não perceber que a corda a que se prendera era curta demais para aquele trecho da descida.

Alertado pelos que estavam abaixo de que era a corda errada, não teve tempo de reagir e caiu 8 metros, batendo no chão gelado ao lado de Fiamoncini e rolando até uma greta de aproximadamente 300 metros de profundidade.

"Tentamos gritar, alertá-lo de que a corda era muito curta, mas ele não nos ouviu e não deu tempo de fazermos nada", contou Fiamoncini, que ficou ainda duas horas chamando junto com outros montanhistas e sherpas à beira da greta, sem obter resposta. "Ainda tentamos chamar o resgate pelo rádio, mas o mau tempo não permitia ao helicóptero chegar até nós", acrescenta. Só três dias mais tarde a equipe de resgate conseguiria chegar ao local indicado por Fiamoncini, que fotografou e filmou a área, imaginando que encontraria um corpo morto no fundo do buraco congelado. Para surpresa geral, Maloo foi retirado com vida do despenhadeiro e estava até esta sexta-feira (21) internado em coma em uma Unidade de Terapia Intensiva de Katmandu, capital do Nepal, para onde foi levado.

"As chances de ele sobreviver, segundo os médicos, são mínimas, algo como 2% a 3% de sinais vitais, mesmo assim é um milagre, o resgate de um em um milhão", lamentou o montanhista, falando ao blog desde o hotel em que tenta curar uma infecção pulmonar que o acompanhou ao fim da jornada, antes de decidir seus próximos passos que, até agora, só excluem o Anapurna, cuja janela de escalada está no final. "Só quero descansar, comer, dormir e me recuperar, e tentar não ficar pensando que eu podia ter insistido e chegado ao cume, faltava tão pouco...", diz, ainda com o rosto marcado pelo sol congelante da montanha. Como consolo, ele se repete que, se tivesse insistido, talvez não estivesse vivo para contar.

Apesar da experiência traumática, Fiamoncini garantiu não ter a menor intenção de desistir das altas montanhas.

"Eu acho que a gente arrisca a vida o tempo todo, basta estar vivo para morrer", explicou ele. "O melhor exemplo que sempre tenho é o de minha mãe, que um dia acordou, pôs água para fazer café, foi ao banheiro, caiu, quebrou uma costela e perfurou o pulmão, morrendo aos 51 anos", acrescentou. "Acho que todos os dias todos nós corremos riscos, achamos que estamos seguros no dia a dia, mas ninguém nunca está, é uma ilusão, então, por que deixar de encarar nossos sonhos por medo da morte, né?"

E não é que ele tem toda a razão?