Era Outra Vez

Literatura infantojuvenil e outras histórias

Era Outra Vez - Bruno Molinero
Bruno Molinero
Descrição de chapéu Livros

Como falar de morte com crianças? Conheça o livro 'O Pato, a Morte e a Tulipa'

Clássico do alemão Wolf Erlbruch volta a ser publicado no Brasil após edições da finada Cosac Naify custarem quase R$ 500

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Pode esquecer a cara carrancuda, as mantas góticas, a foice assustadora e o jeitão cadavérico. A Morte veste roupas claras e um sapatinho baixo, sustenta um sorriso simpático, odeia entrar em lagos, mas gosta de subir em árvores e de ser abraçada até se esquentar. Ao menos é assim em "O Pato, a Morte e a Tulipa".

Escrito e ilustrado pelo alemão Wolf Erlbruch, o livro rapidamente se tornou um clássico para crianças ao contar a história do Pato, que um dia olha para trás e percebe que está sendo seguido por ninguém menos do que a Morte.

Ilustração do livro "O Pato, a Morte e a Tulipa", de Wolf Erlbruch
Ilustração do livro 'O Pato, a Morte e a Tulipa', de Wolf Erlbruch - Divulgação

Primeiro a ave acha que vai empacotar com a visita. Mas depois descobre que a Morte é bem simpática e sempre esteve por perto, mais por via das dúvidas mesmo, já que nunca se sabe quando vai chegar aquela gripe forte ou o acidente que fará com que ela entre em ação.

O que pode parecer macabro ganha uma delicadeza sem tamanho no livro de Erlbruch, que morreu em dezembro do ano passado. Não à toa ele ganhou os principais prêmios internacionais da literatura infantojuvenil, como o Astrid Lindgren e o Hans Christian Andersen, considerado o Nobel dos livros para esse público. Agora o título volta às livrarias do Brasil, desta vez pelas mãos da Companhia das Letrinhas. Antes a obra já havia sido lançada pela finada Cosac Naify, em 2009, cujos exemplares hoje alcançam quase R$ 500 em sebos.

A leveza do livro começa a brotar já na paleta de cores escolhida, sempre com tons claros, meio pastéis, misturando a estética do esboço e da colagem, que se transformam em metáforas para a própria vida —e, por que não, também para a morte.

Mas a suavidade não é só a estética. Ela mora na figura da Morte, que é uma graça. Pequena, sorridente e um pouco brincalhona, a personagem quebra em segundos a atmosfera assustadora e sombria que costuma rondar o fim da vida. Até que se torna corriqueira, natural, por vezes carinhosa.

É quando já estamos achando o papo da Morte com o Pato o maior barato que um corvo cruza uma das páginas. A partir dali, as duas personagens passam a ir cada vez menos ao lago. A ave em seguida sente o primeiro calafrio. Mais adiante, não se levanta mais. E o que poderia ser triste, simplesmente não o é. Afinal de contas, assim é a vida, diz a potência poética criada a partir do contato entre a narrativa visual e a escrita.

Aliás, o livro se chama "O Pato, a Morte e a Tulipa", mas até agora não toquei no nome da flor. É que essa palavra não aparece em nenhum momento do texto. As pétalas coloridas estão representadas somente nas ilustrações e surgem logo no início, carregadas pela Morte. Depois desaparecem e acabam diluídas pelas imagens. No fim, dão as caras mais uma vez e são levadas pelo Pato.

A tulipa é parte fundamental da narrativa, não gratuita —ou então ela não estaria no título. Mas cabe ao leitor interagir com o livro, juntar as pontas e preenchê-la de significados. É o que a boa literatura sempre costuma instigar.

O Pato, a Morte e a Tulipa

  • Quando Lançamento em 28/3
  • Preço R$ 64,90 (40 págs.)
  • Autoria Wolf Erlbruch
  • Editora Companhia das Letrinhas
  • Tradução José Marcos Macedo

Em tempo: o Era Outra Vez volta à ativa após três anos e meio. A partir deste sábado (18), vamos ter encontros semanais por aqui, com resenhas, conversas com escritores e ilustradores e tudo o que ronda o universo da literatura infantojuvenil. Dicas, reclamações e elogios podem ser feitos pelo email blogeraoutravez@gmail.com ou pelo Instagram @blogeraoutravez. Em breve teremos mais canais para conversar e trocar ideias.

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