Guia Negro

Afroturismo, cultura negra e movimentos

Guia Negro - Guilherme Soares Dias
Guilherme Soares Dias

Retrospectiva: os 8 melhores sambas em que fui em 2023

Além do entretenimento, ritmo provoca debate social e produz cultura alternativa

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Guilherme Soares Dias

O samba voltou ao seu lugar de destaque com rodas cheias, algumas famosas e outras nos fundos de quintais Brasil adentro. Há também cantores e grupos locais que atraem público por onde passam. Além do entretenimento, o samba provoca debate social, promove ações sociais e produz uma cultura alternativa, engajada, crítica e sobretudo negra.

Claudia Alexandre, jornalista e doutora em Ciência da Religião, pesquisa escolas de samba de São Paulo e é autora do livro Orixás no Terreiro Sagrado do Samba (Exu e Ogum no Candomblé da Vai-Vai) e lembra que as rodas de samba, o samba de mesa, os pagodes ao vivo embalam espaços de sociabilidade e de interação de forma democrática.

"É interessante olhar rodas, como Quintal dos Prettos e Quintal da Xica, em São Paulo, por exemplo, e ver o protagonismo de jovens negros atraindo pessoas diversas se aproximando e experimentando todas as linguagens, pois cantam com os artistas, batem na palma da mão, dançam juntas e separadas. É um misto de boas sensações, por meio de um ritmo que faz parte da identidade nacional", resume.

Por conta do meu trabalho no Guia Negro, que realiza experiências turísticas com foco no afroturismo, rodei algumas cidades brasileiras em 2023 e em todas busquei um samba. Listei aqui os oito que mais me marcaram ao longo do ano:

1 – Samba da Uva – Poço das Antas (RS)

A experiência marca um evento ser considerado bom ou ruim. Aqui o samba divide a atenção com vinho, parreiral de uvas e pisa na uva. Tudo isso no interior gaúcho, numa região de colônia alemã. O samba que curti em janeiro era com o grupo Cavaquineos, mas a cada edição uma nova atração se apresenta. A vista é para o Sítio Rosa do Vale chefiado por Miriam Krindges, que idealizou a experiência e vende itens produzidos no local como pães, geleia e o próprio vinho. Inesquecível.

2 – Grupo Sampri – Campo Grande

Três irmãs que tocam samba numa das capitais do sertanejo. Além de cantar, cada uma das irmãs toca um instrumento diferente: Magally no cavaquinho, Luciana no pandeiro, e Renata no violão. O grupo começou em 2002, influenciado pelas rodas de samba realizadas no quintal da casa do avô paterno das artistas. O trio toca em diferentes casas de shows e festas da capital sul-mato-grossense levando canções autorais e releituras de grandes mestres do ritmo, como Cartola, Dorival Caymmi e Zeca Pagodinho.

3 – Adriana Araújo – Belo Horizonte

A cantora se apresenta em várias casas, entre elas o Bar do Cacá e o 3 Pretos Bar, e tem aquela voz grave de arrepiar. Nascida na comunidade da Pedreira Prado Lopes, na região da Lagoinha, berço do samba da capital mineira, ela está lançando um DVD em que canta músicas de Alcione. Entre os trabalhos autorais, está o álbum "Minha Verdade", no qual passeia por várias vertentes do samba. Além do poder vocal é o carisma que arrasta o público pelas rodas de samba que comanda. O Quintal das Pretas, por exemplo, reúne apresentações de outras mulheres negras.

4 – Samba do Quilombo dos Pintos – Salvador

Roda de samba realizada mensalmente por amigos que é extensão do Terreiro Nzo Onimboyá, localizado na mesma rua e para o qual arrecada fundos. O local no Engenho Velho da Federação é batizado como Quilombo dos Pintos e era o quintal de Makota Valdina, educadora, sacerdotisa religiosa e ativista que faleceu em 2019. O partido alto rola solto, reunindo músicos, compositores e um público animado num clima familiar (o espaço é limitado). Canções sobre os orixás estão sempre presentes no repertório.

5 – Samba Trator – Salvador

"Máquina avassaladora", não deixa ninguém parado quando começa a tocar. Faz apresentações em espaços do Pelourinho, da Feira de São Joaquim e outras casas show de Salvador. Juraci Santos, que é o vocalista do grupo mete dança no palco e na pista, onde costuma se juntar ao público fiel que segue o samba junino, manifestação cultural que é "pai do pagode baiano" e que é patrimônio imaterial da capital baiana. Por conta disso, as coreografias estão sempre presentes nas apresentações.

6 – Samba do Cruz – São Paulo

A dança do passinho no tradicional Baile dos Aniversariantes, do Grêmio Recreativo Cruz da Esperança, no bairro da Casa Verde em São Paulo (Marina Rago/Folhapress) - FOLHA DE S.PAULO

Localizado atrás da quadra de futebol, do time de várzea Cruz da Esperança, na Casa Verde, zona norte paulistana, o samba embala noites de sábado, algumas nas quartas-feiras e tardes de domingo. Costuma ser gratuito e é frequentado majoritariamente por pessoas negras. A roda de samba, considerada uma das melhores da cidade, invade a madrugada, e é after certo de vários eventos que rolam mais cedo, como a roda de samba Poeira Pura. Entre as músicas estão pontos de candomblé e hits clássicos do samba.

7 - Samba do Pagode do Quilombo de São Benedito - Manaus

Localizado no bairro Praça 14 de Janeiro, reúne músicos locais, como os grupos Samba do Quilombo e Pão Torrado, e de outros estados que tocam aos sábados, quando ocorre a roda de samba. A programação começa por volta das 16h, com venda de bebidas e também de feijoada. O samba começou em 2015, um ano depois do local que é o primeiro bairro negro da capital amazonense ser reconhecido como quilombo pela Fundação Palmares. Por lá, tocam samba raiz, samba de terreiro, samba de quadra e pagode.

8 – Vaca Atolada – Rio de Janeiro

0
"Despedida" do Bar Vaca Atolada, na Lapa que chegou a fechar em dezembro de 2020, mas reabriu sete meses depois (Foto: Tércio Teixeira/Folhapress) - Folhapress

Também chamado de "embaixada carioca", o botequim abre de terça à sábado com rodas de samba todos os dias, sem pagamento de entrada. Democrático e animado, é referência para quem gosta do ritmo, reunindo frequentadores assíduos em um dos bairros mais boêmios do Rio, a Lapa. Durante o carnaval tem os sambas-enredos como carro-chefe, sendo um importante espaço da cultura popular. Funciona desde 2009 e chegou a anunciar o fechamento definitivo durante a pandemia, retomando as rodas ao fim do período mais crítico.

E, você, quais foram os melhores sambas que foi em 2023? Quais você tem vontade de conhecer em 2024?

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.