O perfil no Twitter de humor e sátira política @jairmearrependi, conhecido como "Jairme", ganhou os holofotes durante a CPI da Pandemia, que investigou o comportamento do governo federal na condução da pandemia de Covid-19.

Com compilados de vídeos, dicas de livros, reportagens e filmes, "Jairme" figurou em uma das sessões da CPI e virou uma referência na oposição ao governo Bolsonaro nas redes, assim como outras páginas, como Bolsoregrets, Tesoureiros e Desmentindo Bozo.

O perfil destaca-se também pelo anonimato. Não mais. O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) acatou uma ação da campanha de Ciro Gomes (PDT) que pediu a retirada de um filtro temático do Twitter com a frase "Prefiro Lula" nas mesmas cores utilizadas pelo presidenciável pedetista.

Os advogados do PDT argumentam que ambos se apropriaram "ilegalmente das cores, identidade gráfica e slogan da campanha de Ciro Gomes, "Prefiro Ciro", para criar artificialmente "estados mentais capazes de confundir o eleitorado brasileiro, notadamente por percepção mnemônica de identidade visual".

A decisão determinou a identificação da pessoa responsável pelo perfil @jairmearrependi. Os dados ainda não foram revelados.

O blog #Hashtag conversou com Jairme no início da tarde deste sábado (24) sobre sua atuação nas redes sociais e os ataques que vem sofrendo.

Ela não esperava que o filtro causasse toda essa comoção. "Foi tudo uma bobagem. Um seguidor dele [de Ciro], por motivo besta, me mandou mensagens diretas me ofendendo. Eu não bato boca com quem considero do mesmo lado, então só fiquei fazendo graça. A última gracinha foi essa, copiar o filtro deles e usar no meu perfil. Mas aí eles quiseram procurar enredo".

O perfil tinha 260 mil seguidores quando o filtro foi divulgado. Cerca de 500 usuários aderiram ao Twibbon, de acordo com a criadora, uma adesão baixa e controlada dentro de uma bolha. Até que a campanha de Ciro Gomes replicou o filtro, sob acusação de apropriação da marca.

"Só aí, um meme com baixa adesão e que eu até já tinha tirado, foi distribuído nas redes do presidenciável, e a partir disso viralizou. A campanha alega que o assunto estava causando grande repercussão nas redes sociais. Até causou, mas por obra do pensamento estratégico deles."

Alguns usuários repercutiram o filtro com xingamentos.

Ela diz ter votado em Fernando Haddad (PT) para presidente em 2018 e vê com espanto a diferença nas estratégias de campanha do pedetista de 2018 para 2022. "Em 2018 teve um dos melhores jingles, estimulou uma molecada a participar. Essa é a pior campanha que eu já vi. Não fala coisa com coisa, não estimula engajamento. É cansativa de acompanhar de longe, imagina de perto?"

O movimento para tentar aproximar Lula e Bolsonaro como polos opostos e equivalentes tem atraído a atenção e apoio de direitistas e ex-bolsonaristas, como Sergio Moro, MBL (Movimento Brasil Livre) e Danilo Gentili.

"Alguns vídeos de Ciro até viralizam, mas entre bolsonaristas, até na mão do general Heleno. Eles acham o máximo, que estão furando a bolha. Se isso é um reposicionamento para se alinhar a essa direita, não sei, só sei que não traz efeito nenhum pra ele", diz Jairme.

O pedetista tem feito campanha contra o voto útil, classificando o movimento como antidemocrático. Apesar disso, em 2018, a estratégia foi amplamente divulgada por seus apoiadores, que diziam que Ciro seria o único capaz de derrotar Bolsonaro em um eventual segundo turno.

"Na época, não todos, mas um ou outro eleitor ainda ameaçava que se não fosse Ciro no segundo turno, iria anular. Mas acabou dando Haddad e tenho certeza que boa parte da militância do Ciro aderiu. O que espanta é que, em 2022, esse discurso assuma ares de antidemocráticos por quem mais o pregou", aponta Jairme.

Essa investida da campanha de Ciro Gomes foi a primeira ação oficial contra o perfil. Mas outras investigações extraoficiais ocorreram durante a CPI da Pandemia e especularam que a criadora seria a cantora Gloria Groove.

O perfil foi mostrado ao vivo na CPI da Covid para desmentir "em flagrante" o ex-secretário de Comunicação Fabio Wajngarten.

O momento mais marcante da página, para a sua criadora, é quando "aparece alguém que diz que não tinha interesse ou condições de acompanhar política e que de alguma forma foi influenciado, principalmente jovens. Ali eu tento construir pontes e consigo divulgar de podcasts a livros", diz.

Para além do imbróglio com a campanha de Ciro Gomes, Jairme, que declara voto em Lula (PT), chama atenção também para as campanhas para deputado e senador. "Tão importante quanto o voto para presidente são os votos do legislativo. Promovam seus candidatos nessa reta final".

Sobre a identidade, Jairme reflete. "Isso saiu do meu controle. Agora, se a pergunta for se eu pretendo aproveitar o episódio para me apresentar ao público, buscar a fama, tentar um ingresso pra próxima farofa da Gkay, eu não pretendo não. Eu iria me aposentar das redes logo, logo, agora não sei. Vou é focar em me formar em outra coisa. Carreira estagnada é um saco".

Ela diz ser formada em publicidade e ter experiência com marketing, mas que no momento está desempregada. "Eu uso o perfil como se fosse o meu pessoal, então eu uso por mais tempo do que eu deveria".