Elon Musk decidiu remover, neste domingo (2), o selo de verificação da conta principal do New York Times após o jornal americano divulgar que não pagaria para manter o sinal de autenticidade.
O veículo foi um dos poucos a sofrer com as novas regras da rede, que supostamente limitaria o distintivo a assinantes em 1º de abril, mesmo tendo uma das contas mais influentes no mundo com 55 milhões de seguidores. Sem o selo, perfis de relevância pública podem ser confundidos com fakes.
Musk indicou, horas antes, que faria pessoalmente a remoção ao comentar um meme que ironizava a recusa do jornal. "Ok, então vou tirá-lo então [o selo] ", disse.
Até esta terça-feira (4), outras instituições e personalidades que também anunciaram publicamente que não bancariam o recurso não tiveram seus perfis afetados, a exemplo do jogador de basquete Lebron James, do influenciador Felipe Neto e das publicações Los Angeles Times e The Washington Post.
Pouco depois da medida, chamou atenção na rede social os ataques feitos pelo dono da plataforma ao veículo. O bilionário tuítou que o conteúdo produzido pelo jornal é "propagada que nem é interessante" e que o feed da publicação na rede é "ilegível" e "equivalente a uma diarreia".
Ainda no domingo, respondeu a um post dizendo que o New York Times era "incrivelmente hipócrita, pois são superagressivos ao forçar todos a pagar por 'suas' assinaturas".
O posicionamento condiz com o histórico de declarações de teor cético, e muitas vezes hostil, do empresário em relação a veículos de mídia. Muito ativo nas redes sociais, Musk dedica boa parte dos seus posts à defesa de uma visão antagônica ao que chama de "mídia corporativa", ou "grande mídia", cuja credibilidade foi minada ao longo dos anos, segundo ele, por ser enviesada e espalhar fake news.
Apesar de se declarar um "absolutista da liberdade de expressão", Musk costuma tratar veículos da imprensa tradicional como opositores. A postura o aproxima de populistas de direita como os ex-presidentes Bolsonaro e Trump, que têm discursos similares.
"Máquina de caça-cliques" e "máquina de ódio" são alguns dos termos usados por ele para caracterizar as empresas de mídia, que buscariam "controlar o que você sabe" em função de lucros com publicidade.
O empresário defende, por outro lado, a ideia de "jornalismo cidadão", promovido por usuários comuns na rede. É assim que justifica, em parte, a decisão de acabar com o selo de verificação no Twitter, antes concedido gratuitamente a perfis notáveis. Distribuir o distintivo a qualquer um que pague seria uma forma de "democratizar o jornalismo e empoderar a voz do povo", segundo Musk afirmou em um tuíte.
"A mídia convencional ainda prosperará, mas o aumento da concorrência dos cidadãos fará com que sejam mais precisos, pois seu oligopólio de informações será interrompido", disse ele em outro post sobre a decisão.
Em muitos casos, as críticas de Musk são reações a coberturas da imprensa que desagradam ao próprio empresário. Em resposta a uma série de reportagens de veículos americanos sobre acidentes com carros da Tesla, por exemplo, ele afirmou que as publicações adoçavam a mentira.
"A hipocrisia das grandes empresas de mídia que reivindicam a verdade, mas publicam apenas o suficiente para adoçar a mentira, é o motivo pelo qual o público não as respeita mais", escreveu.
No caso do Twitter Files, um conjunto de documentos internos que apontam a filtragem política na rede em anos anteriores à sua gestão, Musk reclamou da pouca repercussão em veículos tradicionais americanos.
Em 2018, ele chegou a anunciar a criação de uma plataforma que pontuaria a credibilidade de conteúdos jornalísticos, assim como de jornalistas e editores. "Mesmo que parte do público não se importe com a pontuação de credibilidade, os jornalistas, editores e publicações o farão. É como eles se definem", disse à época. A proposta, entretanto, nunca se concretizou.
Já em dezembro de 2022, Musk suspendeu as contas de vários jornalistas dos EUA, incluindo do New York Times e do Washington Post, após uma polêmica envolvendo a publicação da rota de aviões de governantes e figuras públicas — como ele mesmo.
"As mesmas regras de doxxing se aplicam a ‘jornalistas’ como a todos os outros", disse ele na ocasião, se referindo às regras da plataforma que proíbem o compartilhamento de informações pessoais.
Após duras reações de oficiais de governos, grupos de defesa e organizações jornalísticas de várias partes do mundo, com alguns dizendo que o Twitter estava colocando em risco a liberdade de imprensa, as contas foram restauradas.
Já neste ano, desde março, o email global de atendimento à imprensa do Twitter passou a responder automaticamente a qualquer mensagem com um emoji de fezes. O endereço é utilizado por profissionais do jornalismo para solicitar posicionamentos da empresa e teve a atualização divulgada pelo próprio Musk.
Em meio a um cenário de cortes e redução de equipes, a empresa deixou de contar com profissionais de comunicação e assessoria de imprensa em alguns países. O Brasil é um deles.
Veja o que Musk já disse sobre a imprensa
"A mídia é uma máquina de busca de cliques disfarçada de máquina de busca da verdade."
"A mídia quer controlar o que você sabe, e é por isso que o jornalismo cidadão é essencial."
"A verificação generalizada [por meio de assinaturas de serviços do Twitter] democratizará o jornalismo e capacitará a voz do povo."
"ChatGTP para a grande mídia: olha para mim, eu sou o capitão da propaganda agora."
"Enquanto o Twitter persegue o objetivo de elevar o jornalismo cidadão, a elite da mídia fará de tudo para impedir que isso aconteça."
"Por que tantos na mídia são contra a liberdade de expressão? Que confusão."
"É comovente assistir à ascensão do individualista contra a mídia corporativa."
"O problema [da mídia] é que os jornalistas estão sob pressão constante para obter o máximo de cliques e ganhar dinheiro com publicidade ou ser demitidos."
"Por que a mídia "tradicional" é uma fonte de ódio tão implacável? Pergunta real."
"A mídia é racista."
"Wikipedia é controlado pelo mídia mainstream."
"Então você acha que a grande imprensa é parcial? Hmm, é preciso que a grande imprensa faça uma checagem disso. Não, eles disseram que está tudo bem."
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.