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Brasileiro na Austrália diverte gringos com karaokê e danças a bordo do 'canguruber'

Motorista faz sucesso no TikTok e tem parceria com a CazéTV durante Copa do Mundo Feminina

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São Paulo (SP)

Quem solicita uma corrida de Uber na Austrália e encontra o Hyundai Kona de Daniel Ferreira, quase sempre se surpreende. Dentro do veículo, os passageiros podem dar de cara com luzes de balada, bandeirolas do Brasil, enfeites de Natal ou até um karaokê. O cenário descontraído é acompanhado pelo carisma e bom papo do motorista brasileiro, que mora em Sidney há sete anos. E, também, por uma câmera.

Hashtag - Daniel Ferreira a bordo do 'canguruber'
Daniel Ferreira faz sucesso no TikTok com vídeos a bordo do 'canguruber' - Arquivo Pessoal

Há um ano e meio, ele resolveu instalar o dispositivo por questões de segurança, como forma de registrar o que acontecia nas viagens e reportar ao aplicativo de transporte caso necessário. Mas depois de ver o sucesso de um youtuber australiano chamado Darren Levy, que compartilha com mais de um milhão de seguidores corridas com passageiros, Daniel decidiu fazer o mesmo. Começou a decorar o seu "canguruber", apelido em homenagem ao animal mais representativo do país, e a pedir permissão aos viajantes para divulgar algumas interações.

A iniciativa tem rendido cenas divertidas, como a da "gringa" que acreditava que o Brasil fica na Europa.

Ou das tentativas de Daniel de ensinar aos estrangeiros coreografias do axé e do funk brasileiros.

"No bailão"


Tem também muita cantoria de passageiros festeiros.

E até comemorações de aniversário.

Os conteúdos têm repercutido especialmente entre o público brasileiro no TikTok, onde o motorista tem cerca de 200 mil seguidores e por volta de 3 milhões de visualizações. O Canguruber ainda possui canais menores no Instagram (166 mil seguidores) e no YouTube (1.900 inscritos).

"A aceitação da galera tem sido bem bacana, inclusive tem motorista brasileiro que pegou minha ideia de fazer karaokê. Viagens de Uber geralmente são muito chatas, quietas, então acho legal essa questão de trazer energia, o riso", diz Daniel em entrevista ao #Hashtag.

"E tem muita gente que diz aprender um pouco de inglês comigo, porque tento colocar legendas duplas nos vídeos, mesmo que às vezes pegue passageiros brasileiros.", completa.

No início de julho, Daniel recebeu a maior prova do alcance dos seus vídeos ao ser convidado pela CazéTV para produzir conteúdos para a Copa do Mundo Feminina, que ocorre na Austrália e na Nova Zelândia.

Especializado em transmissões esportivas, o canal propôs que o motorista fizesse vídeos levando passageiros aos estádios e assistindo aos jogos, os quais seriam aproveitados nas transmissões ao vivo da competição comandadas por Casimiro Miguel, criador do canal e um dos mais populares youtubers do Brasil.

Apesar da relativa fama, Daniel conta que o trabalho nas redes sociais ainda não garante retornos financeiros sustentáveis e que a rotina no "canguruber" não "paga muito bem". Ele encara cerca de 7 horas por dia de trabalho como motorista, além fazer escalas nas madrugadas dos fins de semana.

Entreter os passageiros e produzir os conteúdos, segundo ele, não "custa nada", embora admita gastar um tempo extra de trabalho para selecionar os trechos interessantes e enviar para uma colega editora no Brasil, responsável por fazer as publicações.

Ele sonha com o apoio de patrocinadores para seus canais ou com algum emprego formal, de preferência na área de marketing, em que já atuou, mas enfrenta dificuldades por ainda não ter o visto de trabalho.

Nascido na capital paulista, Daniel emigrou para a Austrália em 2016, logo após se formar em administração. Para sobreviver, trabalhou em restaurantes, bares, bancos e como vendedor de empréstimos em um banco.

Mesmo hoje, fazendo sucesso com o público brasileiro, ele diz que não tem intenção de voltar a morar no país natal e cita a segurança e a qualidade de vida na Austrália como principais fatores.

Ele conta, porém, que não viveu apenas experiências positivas no país e já publicou vídeos em que é parado pela polícia ou sofre xenofobia e discriminação de clientes.

"Uma vez comentei que iria para o carnaval [da cidade] de Brisbane. Um dos passageiros disse que lá havia muitos brasileiros e disse que em Sidney [onde Daniel Mora] também. Aí o cara falou ‘alguém tem que trazer a droga, né?'. E os outros passageiros riram’", conta.

Ele afirma ter reportado o rapaz para a Uber, mas "tenho certeza que eles não fizeram nada, porque eles nem pediram informações, mesmo eu dizendo que havia evidências em vídeo", relata.

Daniel diz também que tem incomodado a postura de seguidores homens em suas publicações, os quais representam a maior parcela de sua audiência. Em vídeos em que interage com passageiras mulheres são comuns comentários machistas, que enaltecem o motorista e sugerem que ele flerta com as clientes e "pega todas as gringas".

Em uma postagem, por exemplo, Daniel pede que uma passageira faça uma aposta do placar do jogo entre Brasil e França, realizado em 29 de julho pela Copa Feminina. O motorista propõe que a cada gol marcado pela seleção brasileira, a passageira lhe dê um beijo. Segundo Daniel, a cliente era uma amiga e o vídeo tinha sido combinado como a encenação de um "fora".

O motorista afirma que nunca cometeu assédio sexual contra passageiras e que repudia seguidores que estimulam esse tipo de comportamento. "Isso nunca aconteceu dentro do meu carro. Tem um monte de homem que acharia essa situação normal, que não teria problema, o que eu não concordo", diz.

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