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Descrição de chapéu tiktok

Conheça Joyce Müller, que viralizou falando sobre subúrbio do Rio

Criadora de conteúdo transforma pai em personagem e conquista público com roteiros críticos e leves

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São Paulo

"Oi, meu nome é Joyce", diz Joyce Müller, 31, no início de todos os seus vídeos, ainda que a criadora de conteúdo do Rio de Janeiro já seja figura conhecida nas redes sociais. Em pouco mais de um ano trabalhando, já construiu uma relação próxima com um público composto por meio milhão de pessoas.

Essa intimidade se aprofunda porque sua matéria-prima para abordar quaisquer temas são as dinâmicas entre vizinhos e familiares –e, com isso, gera identificação. Seu reconhecimento pode ser percebido nos números alcançados de junho de 2022 até agora: já são quase 487,4 mil seguidores no TikTok, 563 mil no Instagram, e vídeos que ultrapassam 50 milhões de visualizações.

Montagem mostra telas de vídeo da criadora Joyce Müller
Criadora de conteúdo do RJ faz sucesso ao falar da vida no subúrbio carioca - Reprodução/TikTok

Ao blog #Hashtag, Joyce conta que é advogada formada pela UFRJ "por acaso do destino". Ela ingressou no curso ao finalizar o Ensino Médio, aos 17 anos. "Eu busquei uma opção a partir da minha nota no ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), mas desde a primeira aula, não gostei", diz.

Depois de formada, Joyce estudou para ser diplomata, em curso multidisciplinar, além de estudar francês, inglês e espanhol. Ainda durante a pandemia, no início de 2022, decidiu fazer doces. "Eu comecei a frequentar aulas na academia, como alongamento, para me aproximar de pessoas que poderiam comprar meus pães de mel". Logo a clientela minguou e o negócio fechou, embora os exercícios físicos tenham permanecido em sua vida.

Foi quando publicou seu primeiro vídeo no TikTok que um novo e certeiro caminho se abriu à sua frente. Para reunir os amigos em uma festa junina, finalmente possível após dois anos de pandemia, Joyce explicava a novela Pantanal a fim de contextualizar o tema proposto ao grupo.

Em seguida, em vídeos bem-humorados, ela aparece contando como é a vida e como são os moradores do subúrbio, ou periferia, do Rio de Janeiro. O vídeo viralizou, Joyce recebeu ofertas de trabalhos e viu suas perspectivas mudarem. De repente, ela se entendeu como criadora de conteúdo.

Até então, para ela, todo o estudo e trabalho feitos não tinham sentido em sua trajetória.

"Eu pensava: joguei anos da minha vida no lixo. Hoje vejo que todas as coisas que eu escolhi fazer contribuíram para chegar aqui. O direito veio muito para despertar minha consciência política e trazer uma bagagem cultural à qual eu não teria acesso em outro lugar", diz. Agora, pensa que foi esse caminho que a habilitou para fazer bons roteiros.

A roteirização é um dos passos mais importantes do trabalho, o que justifica intervalos de até uma semana entre publicações. Cada publicidade feita também merece atenção: ela quer que o público desfrute do conteúdo e suas informações, por isso se dedica a todos os textos sem distinção.

Mesmo assim, frequentemente, sua aparência jovem e o fato de ser mulher são alvo de comentários e questionamentos sobre a autoria de seus projetos.

Para Joyce, divulgar armações de óculos, por exemplo, pode ser também uma oportunidade para denunciar a superlotação dos trens na capital do RJ. "Humanos enlatados, shopping sobre trilhos: esse é o trem. A linha que define o que é o subúrbio no mapa. Nem sempre ele está lotado, às vezes ele está apenas cheio", diz, em vídeo crítico e descontraído feito em parceria com a marca de óculos Zerezes.

"Quando a gente imagina o subúrbio pensa naquela coisa: 'A Grande Família' [seriado da TV Globo], bairro da Tijuca e São Cristóvão. Apesar dos problemas que enfrentam nesses locais, existem bairros ainda mais distantes do centro que estão esquecidos pelo poder público", diz.

A fluminense, que vive em Campo Grande, bairro da zona oeste a mais de 50 km do centro da capital, aproveita o espaço que conquistou como forma de reunir seus conhecimentos para debater temas sérios com leveza. Para ela, pessoas que não vivem no subúrbio podem ter uma "visão folclórica" sobre ele.

Hoje em dia, alguns dos seus conteúdos mais famosos envolvem um outro protagonista: seu pai, Maurício de Oliveira Müller.

Foi em um dia sem muitas ideias que ela decidiu acompanhar as alterações que seu pai fazia pela casa, como uma mudança inoportuna de peças no fogão, na hora do almoço. Quase sempre sem camisa, seu pai tem um apreço por trabalhos manuais e frequentemente transforma panelas em churrasqueiras. Até agora, já são cinco: "A gente come muito churrasco", ri.

Agora, após participar de um painel sobre contação de histórias na Bienal do Livro em 8/09, no Rio de Janeiro, diz que finalmente vislumbra a possibilidade de trazer ao mundo o desejo antigo de escrever um livro.

"Eu quero falar com a criança suburbana, aquela que é cuidada pelos avós enquanto os pais trabalham, e que não se veem representadas", diz ao blog.

Mas isso não é um próximo passo, explica: é apenas mais uma possibilidade para ser tudo o que ela é.

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