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Aymeê Rocha viraliza com música sobre exploração sexual de crianças na Ilha de Marajó (PA)

Cantora gospel apresentou 'Evangelho de Fariseus' no programa Dom Reality

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São Paulo

Matéria de investigações do MPF (Ministério Público Federal) entre os anos de 2006 e 2015, as denúncias de suposto tráfico e exploração infantis na região de Marajó (PA) tiveram alta nas buscas no Google, nesta quarta (21), após a cantora gospel Aymeê Rocha viralizar cantando a música "Evangelho dos Fariseus".

A apresentação viral ocorreu no programa Dom Reality, uma competição de música gospel aos moldes do The Voice. Uma das finalistas da 2ª temporada do programa, Aymeê não só levou Marajó a ter alta de buscas, como também desencadeou a discussão nas redes sociais, em especial o TikTok.

"Enquanto isso no Marajó, o João desapareceu / Esperando os ceifeiros da grande seara / A Amazônia queima / Uma criança morre / Os animais se vão / Superaquecidos pelo ego dos irmãos / Um Evangelho de Fariseus", diz o trecho viral. A canção procura denunciar a hipocrisia da Igreja e o descaso com a exploração sexual de crianças.

"Marajó é uma ilha a alguns minutos de Belém, a minha terra. Lá tem muito tráfico de órgãos, lá é normal. Lá tem pedofilia em "nível hard". As crianças com 5 anos, quando elas vêm um barco vindo de fora com turistas – Marajó é muito turístico e as famílias são muito carentes –, as criancinhas saem em uma canoa, 6,7 anos, e elas se prostituem no barco por R$ 5", diz Aymeê aos jurados.

Com a repercussão, Aymeê ultrapassou 1 milhão de seguidores no Instagram e, no Spotify, passou a ter 70,2 mil ouvintes mensais.

A hashtag "Ilha de Marajó" ficou em alta na plataforma da Bytedance, com explosão de vídeos e comentários pedindo atenção à situação do local. Nesta quinta-feira (22), "Marajó" ficou entre os assuntos mais comentados do X, antigo Twitter, com 211 mil postagens.

A Ilha de Marajó é uma das regiões mais pobres do país. O município de Melgaço, localizado na ilha, é apontado como o local com o menor IDH do país, segundo dados de 2010 do Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento).

As denúncias sobre exploração sexual de menores no arquipélago não são novidade. Desde 2006, o bispo dom José Luís Azcona denuncia a exploração sexual de menores na ilha. Há 30 anos, ele chama atenção para a situação do arquipélago e foi peça-chave na instalação da CPI da Pedofilia, em 2008. Notícia da Folha de 2009 mostra meninas que se prostituíam pelo mesmo preço de um cachorro-quente.

O caso de Marajó, porém, é envolto em denúncias sem provas. Em 2022, durante o governo Bolsonaro, a então ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves (Republicanos), afirmou em culto ter conhecimento de casos de estupro de recém-nascidos e de crianças quem tinham seus dentes retirados para praticar sexo oral e comiam alimentos pastosos para serem submetidas ao sexo anal.

Damares não apresentou evidências que corroborem este relato de exploração sexual na região. Arnaldo Jordy (Cidadania), relator da CPI que investigou 100 mil casos de crimes sexuais contra crianças no Pará, afirmou não ter encontrado nenhum caso como o descrito pela hoje senadora.

Em entrevista à Folha, o ex-deputado federal diz que a cantora acertou ao chamar atenção para os problemas da região, mas que deixou a impressão de que "você anda pelos rios e as meninas estão se oferecendo para fazer serviços sexuais. Não é isso. Na maioria dos casos, a violência contra crianças acontece nas cidades".

O Observatório do Marajó publicou uma nota sobre o caso em suas redes sociais. "A propaganda que associa o Marajó à exploração e o abuso sexual não é verdadeira: a população marajoara não normaliza violências contra crianças e adolescentes. Insiste nessa narrativa quem quer propagá-la e desonrar o povo marajoara."

Na época das denúncias de Damares, alguns artistas, entre eles a Xuxa, divulgaram uma petição pedindo a cassação da então senadora recém-eleita. Em setembro de 2023, o MPF ajuizou uma ação civil pública pedindo que Damares e a União indenizem em R$ 5 milhões a população do Arquipélago do Marajó por danos morais e coletivos.

Por isso, nos últimos dias, "Xuxa" figura entre os assuntos mais comentados nas redes, com mais de 50 mil tuítes. Já "Damares" alcançou mais de 95 mil e é o assunto mais comentado no Twitter até o fim da manhã desta sexta (23).

A maioria das postagens ou cobra a apresentadora por uma declaração a respeito de Marajó ou pedem explicação sobre a petição contra Damares.

Alguns internautas dizem que Damares estava certa quando fez a denúncia. Outros expressam surpresa e afirmam que, antes de ouvirem a música de Aymeê, desconheciam as denúncias de exploração feitas a respeito da região.

A repercussão nas redes sociais também teve o engajamento de artistas, influenciadores e ex-BBBs, com manifestações de celebridades como Rafa Kalimann, Juliette, Eliezer, Thaila Ayala e Virginia Fonseca. João Lucas, marido de Sasha Meneghel e genro de Xuxa, saiu em defesa da sogra nas redes sociais.

Políticos ligados ao bolsonarismo, mas não só, também foram às redes falar a respeito, ora cobrando Xuxa ora defendendo as declarações de Damares a respeito de Marajó. Bolsonaristas criticam o governo Lula por ter revogado o projeto da ex-ministra na ilha.

Lançada em 2020 pela gestão Bolsonaro, a iniciativa tinha como objetivo combater as denúncias de exploração sexual de crianças na região. Segundo a gestão Lula, o programa foi alvo de denúncias e não trouxe benefícios à população local, de forma que foi substituído por outra ação governamental com a mesma finalidade.

Por conta da repercussão, o Ministério dos Direitos Humanos, assim como seu ministro Silvio Almeida, se manifestaram no Twitter.

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