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Professor viraliza com pesquisa sobre falta de fotos de alunos no Instagram

Enquete feita com 93 alunos aponta baixa autoestima e racismo como inibidores de presença nas redes

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São Paulo

Se você circula no Instagram, é possível que tenha se deparado com perfis sem fotos ou até sem publicações no feed. O comportamento é comum entre os mais jovens e pode intrigar aqueles acostumados a compartilhar desde seus pratos de comida a poses em viagens, registrados desde os primórdios da rede em 2010.

Foi a curiosidade sobre essa discrepância que chamou a atenção do professor de história e sociologia Victor Hugo da Silva, que dá aula em escolas públicas na cidade de Bebedouro (SP). Ele pensava que a justificativa seria o desuso da plataforma entre os mais novos, mas ouviu de seus alunos que cerca de 90% deles estão nessa rede.

Ao blog #Hashtag, o professor opina que o comportamento tem a ver com a autoestima baixa dos jovens, entre outras coisas, devido a padrões de beleza e referências majoritariamente brancas em seus feeds, já que os alunos alegam seguir mais influenciadores brancos. A pesquisa foi feita no segundo semestre deste ano com 93 alunos de 13 a 17 anos, majoritariamente negros, em uma escola periférica. Entre os motivos para evitar compartilhar fotos de si mesmos está o fato de se acharem feios, reclamando de características como seus lábios. "É impossível dissociar esse debate das problemáticas sociais e de raça", diz Victor Hugo.

Segundo pesquisadores, a questão da autoestima não é novidade. Thaís Giuliani, doutora especialista em geração Z, diz que a baixa autoestima é uma característica comum da adolescência, potencializada pelo isolamento durante a pandemia, e que o contexto socioeconômico dos jovens também pode ter um impacto relevante em suas percepções de mundo através das redes. Para ela, a pesquisa do docente precisa se aprofundar, definindo uma metodologia e uma amostragem maiores.

Ao blog, Victor Hugo diz que sua ideia realmente é se aprofundar no tema para escrever um artigo. Até aqui, a pesquisa foi feita com caráter pedagógico, e ganhou visibilidade após ser divulgada em seu perfil na rede social X. O docente conta que temas como identidade e autoestima nas redes surgem em diversos debates em sala de aula. Para ele, a proximidade e o espaço para abordar a relação com as redes sociais, propiciado pela grade curricular, permite instrumentalizar o tema na educação.

Para a antropóloga, pedagoga e diretora de pesquisa do Internetlab Fernanda K. Martins, a pesquisa "Uso e Impactos de Plataformas de Vídeos Curtos por Adolescentes do Brasil", divulgada em julho pelo Internetlab e a Rede de Conhecimento Social, pode corroborar com as noções de impacto das redes na autoestima dos jovens evidenciada pelo docente. Para ela, o recorte racial da pesquisa informal chama a atenção.

De acordo com Fernanda, é preciso avaliar que mesmo a forma como as crianças e adolescentes se percebem negras pode ser lenta. Ela acredita que hoje há maior noção identitária do que quando ela, que é uma mulher negra, estava nessa faixa etária. "Eu me descobri uma mulher negra com uns 18 anos. Passei toda a infância e adolescência sem ter a noção de que as coisas que me aconteciam ou as dificuldades que eu tinha para me olhar no espelho e me achar bonita vinham do fato de ser uma pessoa negra. Talvez isso esteja se modificando com as novas gerações", diz.

Muitas vezes os pais evitam nomear o racismo ao qual as crianças estão sujeitas na tentativa de protegê-las, "mas o processo de nomeação é muito enriquecedor", diz a antropóloga. Ela aponta que o debate sobre autoestima de jovens e mulheres negras ou jovens e meninos negros pode vir pautada por uma discussão estética a partir de produtos de beleza, por exemplo.

Para Fernanda, um dos impactos das redes na autoestima de jovens negros pode ser percebido pelo aumento do debate sobre a estética negra nas últimas décadas –o que também pode produzir padrões mesmo dentro das discussões entre grupos historicamente marginalizados.

Além disso, a diferença com a qual os jovens lidam com as redes são um reflexo de estarem mais conectados com a discussão do que é o algoritmo, como ele funciona, entre outras coisas. "Eles estão mais conscientes do uso das plataformas e mais críticos aos seus impactos", diz.

Isso fica evidente na pesquisa realizada por Victor Hugo: conscientes do uso da plataforma, os jovens apontam evitar a publicação de suas fotos por temer que terceiros as usem para criar contas falsas, além de preferirem os stories para garantir interações como curtidas e comentários de amigos próximos.

O professor de história e sociologia Victor Hugo da Silva realizou pesquisa informal com seus alunos em sala de aula
O professor de história e sociologia Victor Hugo da Silva realizou pesquisa informal com seus alunos em sala de aula - Reprodução/X

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