Quando Elisa, minha filha, nasceu, os médicos suspeitaram de uma luxação no quadril, tecnicamente chamada de displasia do desenvolvimento do quadril. Conversando com a doutora Norma Sueli Moreira, ortopedista pediátrica na Rede D’Or, entendi melhor os fatores de risco que levaram ao diagnóstico, que só é finalizado após o nascimento.
Um deles é que ela havia ficado sentada no útero no final da gravidez, posição pélvica. Segundo a especialista, os casos não são muito comuns e a incidência varia de 0,06 a 76 a cada mil nascidos vivos. Estudos apontam que há mais casos em meninas, primeira gestação da mãe ou pouco líquido amniótico na reta final da gravidez. O histórico familiar também deve ser levado em consideração, principalmente se o parente for de primeiro grau.
A ortopedista explica que, hoje, a maioria dos hospitais tem um protocolo para analisar os fatores de risco e, se for o caso, já fazer o encaminhamento do paciente ao ambulatório e iniciar o tratamento.
Com todas as evidências que o caso apresentava foi realizado o ultrassom no quadril da minha bebê ainda na maternidade, mas naquele momento ainda não era possível fechar o diagnóstico. Na dúvida, a pediatra pediu para repetir o exame dentro de 15 dias.
Na consulta, após novo exame, a ortopedista que tratou minha filha confirmou que ela tinha a luxação e teria que usar um item ortopédico, chamado suspensório de Pavlik, cujo tratamento varia entre seis e 12 semanas.
A médica garantiu que não seria nada de demais e pediu que aguardasse na sala de espera até que meu marido comprasse o aparelho, pois teria que colocá-lo naquele mesmo dia. A urgência é justificável, quanto mais cedo iniciar o tratamento, melhor.
"Usamos o Pavlik até os seis meses da criança. Quanto mais cedo, melhor a resposta. Depois, a maior indicação é que se use o gesso e, às vezes, precisa fazer cirurgia", diz Norma Moreira.
Pagamos em uma loja especializada R$ 350 pelo suspensório, média cobrada pelo mercado. De acordo com a médica, embora o acessório seja fundamental para o tratamento, não é fornecido pela rede privada ou pública de saúde.
A ortopedista afirma que o ideal é que o médico coloque e regule as tiras do suspensório e não repasse essa responsabilidade aos pais.
"Peço que não tirem [o suspensório], que a criança fique com ele 24 horas, pois se tirar da regulagem o quadril pode sair do lugar. Com o tempo os pais pegam prática, mas no início pode ser difícil manuseá-lo."
No entanto, os pais podem ficar tranquilos, pois o Pavlik não machuca a criança. "Se colocado corretamente, o suspensório é a oportunidade que a criança tem de ficar com o quadril normal, sem sequela", diz a médica.
A ortopedista explica que o tratamento consiste em centrar a cabeça do fêmur no lugar dela, que é no fundo do acetábulo. Assim eles poderão se remodelar. "Quanto mais nova a criança, você consegue esse posicionamento correto para não ter sequela. Seja no suspensório ou com posições fisiológicas, como no uso de sling, na qual o bebê fica abraçado na mãe, de frente com ela."
Apesar do coração de mãe ficar aflito ao ver aquele serzinho voltando para casa com limitações no movimento, seguimos as orientações à risca, pois sabíamos da importância do tratamento. Não imaginava que um bebê poderia ficar um mês sem tomar banho, higiene só a base de paninhos. Ficamos peritos em troca de fraldas com obstáculos.
Exame físico
No entanto, nem todo bebê com displasia no quadril apresenta algum fator de risco. Por isso, o exame físico do pediatra é essencial para o encaminhamento ao ortopedista.
Por isso os pais devem levar em consideração a informação que possuem. Se não foi diagnosticado na maternidade, mas percebem algum fator de risco podem investigar. "Por mais que o pediatra não tenha falado nada, mas se o cuidador da criança percebe que faz um clique no quadril, quando mexe as perninhas na hora de trocar a fralda pode apresentar isso ao pediatra e tirar a dúvida", afirma a médica.
Elisa teve o exame físico ainda na maternidade, fez o tratamento e, agora está com quase 11 meses. Porém, até os seus dois meses, foram necessários fazer e repetir ultrassons, ir à consultas a cada 15 dias e tomar os cuidados necessários com o uso do Pavlik, mas após essa tormenta o último ultrassom mostrou que não havia mais luxação, um grande alívio para esse coração de mãe e para nossa família.
Apenas para acompanhamento, foi feito um raio-x no último mês e a médica confirmou que ela está perfeitamente saudável. Agora, vou preparar o meu coração para vê-la correndo em breve por aí.
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