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Salvador Nogueira

Estudos trazem dois novos lances à busca por vida em Marte

Curiosity encontra potencial bioassinatura em amostras de carbono no planeta

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A busca por evidências de vida em Marte teve dois novos lances neste começo de 2022. No lado do copo meio vazio, uma análise das moléculas orgânicas presentes num meteorito marciano indica que sua origem é geológica, não biológica. No lado do copo meio cheio, o rover Curiosity, da Nasa, detectou algo que, se fosse visto na Terra, seria interpretado como evidência de atividade biológica. Em Marte, claro, a barra é mais alta.

Começando pela história do meteorito. Estamos falando do mais famoso exemplar conhecido, o ALH84001, achado na Antártida em 1984. Foi essa a pedra que, depois de ser analisada pela equipe de David McKay, da Nasa, causou alvoroço em 1996, com o anúncio de que havia possíveis microfósseis provenientes de Marte nela. Desde então, tornou-se consenso que não eram microfósseis.

Agora, realizando uma análise mineralógica nanoscópica da rocha de 4 bilhões de anos, o grupo de Andrew Steele, da Instituição Carnegie para Ciência, nos EUA, mostrou que a origem das moléculas orgânicas presentes no meteorito é abiótica, ou seja, não tem conexão com vida. Em vez disso, ela foi produzida por reações de carbonatação e serpentinização, processos geológicos que envolvem a interação de minerais com água e que também ocorrem na Terra. O trabalho foi publicado na Science.

Mosaico produzido a partir de imagens feitas pelo rover Curiosity na cratera Gale, em Marte.
Mosaico produzido a partir de imagens feitas pelo rover Curiosity na cratera Gale, em Marte. - AFP/Nasa

Na sequência, foi a vez de cientistas envolvidos com um dos principais instrumentos do rover Curiosity publicarem novos resultados da perambulação do veículo por Marte. Em artigo na PNAS, a revista da Academia Nacional de Ciências dos EUA, os pesquisadores indicaram que a análise de várias amostras de rocha transformadas em pó pelo rover apresentaram um enriquecimento em um tipo de carbono que, na Terra, é associado a processos biológicos.

Sabemos que átomos podem vir em vários "sabores", os chamados isótopos, em que varia a quantidade de nêutrons no núcleo. A vida, ao menos aqui em nosso planeta, prefere carbono-12, o mais comum e leve. Por isso, sinais de carbono deixados por formas de vida costumam ser enriquecidos nesse isótopo.

E foi exatamente esse padrão o observado em algumas das amostras do Curiosity. Se fossem rochas da Terra, a aposta na explicação biológica seria de longe a mais simples. Em Marte, é preciso pensar fora da caixa. Então os pesquisadores apresentaram três possibilidades: a primeira seria vida deixando para trás essa assinatura de carbono ao liberar metano na atmosfera. A segunda seria fruto da interação da luz ultravioleta do Sol com o dióxido de carbono na atmosfera, produzindo moléculas orgânicas que assentariam na superfície. E uma terceira hipótese especula que o padrão poderia ser explicado por um raro evento em que o Sistema Solar teria passado por uma nuvem molecular gigante rica em carbono-12.

As três são plausíveis, e só será possível dizer qual está certa com mais estudos.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

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