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Mensageiro Sideral - Salvador Nogueira
Salvador Nogueira

Foguete da SpaceX vai abrir um buraco na Lua, e isso é ótimo

Segundo estágio do Falcon 9 lançado em 2015 vai colidir em 4 de março

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Atenção! Parem as máquinas! (Sim, eu sou da velha guarda.) O segundo estágio de um foguete Falcon 9 da SpaceX vai colidir com a Lua em 4 de março. E adivinhe só o que vai acontecer? A Lua vai ganhar uma cratera.

Eu sei, um escândalo. Quase não há crateras na Lua, né? Quase não caíram de micrometeoroides a asteroides na Lua nos últimos 4,5 bilhões de anos, certo? Pois é. Mas hoje em dia, tudo que envolve Elon Musk, ainda que tangencialmente, parece se apresentar como uma polêmica. Mesmo que não seja. Até o filme sensação "Não Olhe para Cima" estimula esse olhar (como não poderia deixar de ser, sendo um produto de sua própria época), ao retratar teorias da conspiração malucas como verdade (não, bilionários não vão fugir para um exoplaneta; isso só acontece em filmes mesmo). E na verdade, com essa iminente colisão com a Lua, estamos diante de uma boa notícia.

Sim, uma boa notícia. Porque o mais comum é estágios gastos de foguetes (e não só os da SpaceX) ficarem vagando pelo espaço como lixo espacial. Às vezes, veja você, depois de dar voltas e mais voltas no Sistema Solar, retornam às redondezas da Terra.

Falcon 9 lançado em 11 de fevereiro de 2015, de Cabo Canaveral, levando o satélite climático Dscovr, da Noaa; seu segundo estágio vai colidir com a Lua em março
Falcon 9 lançado em 11 de fevereiro de 2015, de Cabo Canaveral, levando o satélite climático Dscovr, da Noaa; seu segundo estágio vai colidir com a Lua em março - AFP/Nasa

Ao caírem na Lua, o perigo de uma futura colisão mais perigosa desaparece. Tanto é verdade que as missões Apollo, a partir da 13, foram desenhadas para que o terceiro estágio do foguete Saturn V colidisse com a Lua, em vez de ficar vagando por aí. (Dos que ficaram vagando, o da Apollo 12 voltou às proximidades da Terra em 2003, depois de ter sido lançado em 1969, e foi "redescoberto" como um asteroide, que ganhou a designação J002E3. Outros ainda estão por aí, dançando ao redor do Sol, e sabe-se lá quando voltarão à vizinhança.)

Os estágios de ascensão dos módulos lunares (as naves usadas para descer na Lua) também eram descartados em órbita lunar, com a provisão de que caíssem na superfície (talvez o da Apollo 11 ainda esteja orbitando a Lua, os posteriores caíram, e o da Apollo 10 foi parar numa órbita heliocêntrica e segue vagando pelo Sistema Solar). Jogar coisas na Lua é legal, acredite.

Não só porque limpa o lixo orbital, mas porque pode produzir ciência também. No caso do segundo estágio do Falcon 9, cientistas já estão ansiosos para encontrar o local exato do impacto para poder estudar com dados de sondas o surgimento da cratera. Eles já sabem que deve acontecer na latitude 4,93° N, longitude 233,2° E, no lado afastado da Lua, mas ainda será preciso procurar em imagens de antes/depois para ver exatamente onde foi. As espaçonaves Lunar Reconnaissance Orbiter (EUA) e Chandrayaan-1 (Índia) poderão colher essas fotos rapidamente.

Puxa, e toda essa ciência "acidental" maravilhosa certamente não pode ter sido um plano do Elon Musk, certo? Afinal, ele é um bilionário malvado que só faz malvadezas, correto? De fato, a SpaceX não planejou essa colisão na Lua nem lançou esse foguete para objetivos próprios. O Falcon 9 em questão, lançado em 2015, foi contratado pela Noaa (agência nacional de atmosfera e oceanos dos EUA) em um projeto em parceria com a Nasa (agência espacial americana), o satélite Dscovr (pronuncia-se "discover"). Não conhece? É o Observatório do Clima de Espaço Profundo. Localizado a 1,5 milhão de km da Terra, ele monitora o nosso planeta o tempo todo, para estudar e acompanhar as mudanças climáticas.

Um espetáculo de maldade, não?

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