Mensageiro Sideral

De onde viemos, onde estamos e para onde vamos

Mensageiro Sideral - Salvador Nogueira
Salvador Nogueira

China quer trazer rochas de Marte dois anos antes da Nasa

Pouso da missão de coleta ocorreria em 2029, e o retorno, em 2031

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

A China pretende trazer amostras de Marte dois anos antes do esforço atualmente sendo planejado de forma conjunta por americanos e europeus. Se isso não é um sinal claro de que temos uma nova corrida espacial em andamento, não sei o que seria.

A revelação veio como uma surpresa durante uma apresentação feita na última segunda-feira (20) por Sun Zezhou, projetista-chefe da missão chinesa Tianwen-1, que no ano passado levou um orbitador, um módulo de pouso e um rover ao planeta vermelho. Que os chineses estavam planejando um retorno de amostras marciano para o futuro do seu programa, já se sabia. Mas a arquitetura e o cronograma eram desconhecidos, até agora.

O esforço será mais simples que a iniciativa combinada da Nasa e da ESA, agências espaciais americana e europeia. A rigor, para esses dois, a missão de retorno de amostras já começou com o rover americano Perseverance, que está colhendo material marciano escolhido cuidadosamente e colocando em tubos. Uma missão futura levaria um novo rover a Marte para colher esses tubos e colocá-los em um foguete, a ser instalado na superfície marciana por um módulo de pouso. O veículo então levaria uma cápsula à órbita de Marte, que se encontraria com uma nave-mãe lançada pelos europeus em 2027, com capacidade para se propelir de volta à Terra, retornando com as preciosas amostras em 2033.

O rover Zhurong e o módulo de pouso da missão chinesa Tianwen-1, que chegou a Marte em 2021
O rover Zhurong e o módulo de pouso da missão chinesa Tianwen-1, que chegou a Marte em 2021 - CNSA/Reuters

Já o plano chinês é mais simples e explora sucessos recentes do programa, como o retorno bem-sucedido de amostras lunares com a Chang'e-5 (2020) e o sistema de pouso marciano da própria Tianwen-1. Serão dois lançamentos apenas: um levará uma nave-mãe à órbita marciana para a volta, e o outro, um módulo de pouso e ascensão capaz de coletar amostras com alguma mobilidade, potencialmente envolvendo um robô com quatro patas.

O módulo de ascensão, para a decolagem em Marte, teria dois estágios, suficientes para atingir a velocidade orbital de 16,2 mil km/h e realizar o encontro com a nave-mãe (o planeta vermelho tem menos massa que a Terra, de modo que a velocidade necessária para atingir a órbita é menor que os cerca de 27 mil km/h requeridos por aqui).

O pouso em Marte se daria em setembro de 2029, a partida da órbita marciana ocorreria em outubro de 2030 e o retorno das amostras à Terra, em julho de 2031 – dois anos antes do que se espera para as rochas atualmente sendo colhidas pelo Perseverance.

O retorno de amostras de Marte é tido como um dos objetivos mais ambiciosos da exploração espacial atualmente –o meio mais confiável de tentarmos saber se houve ou não vida no passado do planeta vermelho–, e a China sozinha conseguir fazer isso na frente de americanos e europeus vai certamente acender um bocado de luzinhas vermelhas. Mas, claro, por ora é apenas um plano. E, como os chineses costumam jogar com as cartas bem perto do peito, só vamos saber se esse cronograma se manterá quando estivermos mais perto dos lançamentos.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.

Siga o Mensageiro Sideral no Facebook, Twitter, Instagram e YouTube

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.