Mensageiro Sideral

De onde viemos, onde estamos e para onde vamos

Mensageiro Sideral - Salvador Nogueira
Salvador Nogueira

E se a humanidade estiver mesmo sozinha no Universo?

Talvez seja nossa tarefa não só preservar a vida na Terra, mas espalhá-la pelo cosmos

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Muita gente considera esta hipótese próxima do impossível, dados os números superlativos que a astronomia traz. Sabemos que, apenas em nossa galáxia, há bilhões de planetas similares à Terra, e além dela, bilhões de galáxias similares, gestados ambos ao longo dos 13,8 bilhões de anos de vida do Universo, nos quais o Sol e nosso planeta só tomaram parte pelos últimos 4,6 bilhões. Mas e se, a despeito disso tudo, estivermos de fato sozinhos no Universo?

Convenhamos, não é de todo irrazoável. É verdade que nossa busca por vida em outros cantos do Sistema Solar, e mesmo fora dele, está apenas no começo e não fizemos mais que dar uma olhada superficial. Mas também é verdade que não sabemos bem como a vida de fato começou na Terra, o que significa admitir que nos falta uma estimativa da probabilidade de que o mesmo fenômeno venha a ocorrer repetidas vezes, mesmo em condições muito similares.

Indo mais adiante, embora haja dúvidas sobre a origem da vida, sabemos muito bem como ela evolui –movida pela seleção natural–, e não há sinal claro de que a inteligência seja uma característica selecionada com frequência. Nos 4 bilhões de anos de existência da vida na Terra, houve somente uma espécie capaz de ler esse texto. Se ela sumisse, é bem possível que não haja tempo para que outra com capacidade similar apareça, ao longo do último bilhão de anos que resta antes que o planeta se torne inabitável em razão do aumento de brilho do Sol.

Imagem obtida pela sonda Voyager-1 registra a Terra de uma distância de 6 bilhões de km, em 1990 –o "pálido ponto azul", nas palavras de Carl Sagan
Imagem obtida pela sonda Voyager-1 registra a Terra de uma distância de 6 bilhões de km, em 1990 –o "pálido ponto azul", nas palavras de Carl Sagan - Nasa/JPL-Caltech

Diante do desconhecido, tendo a adotar, como (suponho) a maioria, a hipótese mais otimista: a de que a Terra é apenas um dos muitos abrigos para a vida, que por sua vez seria um fenômeno relativamente comum, de modo que, mesmo diante da baixa probabilidade do surgimento de espécies inteligentes vez por outra gerasse criaturas capazes de contemplar o Universo e tentar interpretá-lo. Talvez muito distantes de nós no espaço ou no tempo para que os encontremos, verdade. Ainda assim, estariam lá. Mas e se estivermos errados nessa? E se formos mesmo só nós?

Isso dá um relevo ainda mais assustador ao que estamos fazendo ao nosso belo mundo. Com a devastação dos ecossistemas e as mudanças climáticas, já estamos produzindo efeito comparável às grandes extinções em massa marcadas no registro fóssil. Diante de tantos desafios, dos ambientais aos sociais, passando pelos tecnológicos, multiplicamos as probabilidades de um colapso civilizacional. E, nessa, talvez estejamos não só jogando no lixo a nossa vez na história do cosmos. Talvez estejamos jogando fora a chance de o Universo se tornar de fato vivo, com vida em toda parte.

Nossa solidão cósmica, enquanto perdurar, aumenta em muito nossa responsabilidade –talvez caiba a nós não só darmos um jeito de preservar a saúde de nossa biosfera (o que seria nosso dever de todo modo), mas também levar a vida a outros cantos do espaço, para que ela possa prosperar além do nosso planeta. Olhando por esse lado, a colonização de Marte deixaria de ser devaneio de bilionários e passaria a ser uma das tarefas mais importantes que a humanidade tem a realizar.

Esta coluna é publicada às segundas-feiras na versão impressa, na Folha Corrida.

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