Acontece nesta sexta-feira (9) o lançamento, nas plataformas digitais, do álbum inédito de voz e violão da cantora Rosa Passos e do violonista Lula Galvão.
Lançado pela gravadora Biscoito Fino, o álbum do duo registra 38 anos de parceria musical ente os dois artistas.
Segundo a cantora e também excelente violonista, as afinidades entre ela e Lula Galvão acontecem desde os anos 1980, quando tocavam na noite de Brasília. Dos 22 discos que Rosa Passos gravou, 19 contam com arranjos, sensacionais, canetados pelo exímio instrumentista.
No repertório do novo álbum, "Piatã", de Lula Galvão, "Outono" e "Verão", de Rosa Passos com Fernando de Oliveira, e clássicos da MPB. Entre eles, dois do mestre Nelson Cavaquinho (1911-1986): "Palhaço", dele com Oswaldo Martins e Washington Fernandes, e "Folhas Secas", em parceria com Guilherme Brito.
Servindo de base para a conversa musical, entre Rosa Passos e Lula Galvão, duas outras conversas mostram a intimidade existente entre os dois músicos: "Conversa de Botequim", de Noel e Vadico, e "De Conversa em Conversa", de Lúcio Alves e Haroldo Barbosa.
Rosa, como sempre, se comporta rigidamente com relação à afinação, mas se torna quase uma infratora com relação às notas pendurando-as, esticando-as, engordando-as, embelezando-as e atrasando-as, por entre harmonias ‘enluladas’ de seu velho parceiro. O resultado? Assim como Lula, ela nunca comete um crime ofendendo um andamento, uma harmonia ou especificamente, no seu caso, contra uma palavra.
Nesse papo de Rosa Passos e Lula Galvão há muito acolhimento. Além, é claro, de muita atenção, respeito, boas maneiras, amabilidade, fineza, humor e civilidade. O resultado é uma conversa prazerosa e suingada, muito suingada. Tudo porque um ouve o outro.
Contudo uma conversa entre apenas dois músicos sempre pode ser muito perigosa. Por quê? Porque um erro pode derrubar o outro, rapidamente, e a falta de intimidade, nesse momento, aflora e feio. Maquiar erros em qualquer formação musical é possível, mas em duo não. Guarde essa máxima: "Em duo não se mente".
Claro que Rosa e Lula são um duo de verdade e não mentem. Há muito tocam juntos e isso poderia até ser de se esperar. Mas engana-se quem pensa que o álbum é apenas um duo de voz e violão. Quem assegura isso é Hermínio Bello de Carvalho, que assina o texto do bem elaborado trabalho: "E que logo se esclareça: este não é mais um disco de voz e violão - mas sim um trabalho artesanal onde Lula Galvão se assemelha a um jardineiro-escultor, tecendo tramas belíssimas em seu instrumento para que Rosa Passos possa atravessar, com tranquilidade, esse vasto jardim encharcado de beleza".
"Doce de Coco", de Jacob do Bandolim, "Ilusão à Toa", de Johnny Alf, e "Cansei de Ilusões", de Tito Madi, são outros temas abordados pelos dois artistas, certificando que a arte de conversar surge do bem dizer e bem ouvir.
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