Não Tem Cabimento

Joana e Ana Carolina, sob pseudônimos, falam sobre anorexia, bulimia e outros transtornos alimentares e de imagem

Não Tem Cabimento - Joana e Ana Carolina
Joana e Ana Carolina
Descrição de chapéu saúde mental dieta

Cobrança estética pode afastar bailarinos da prática

Dançarinos da modalidade clássica têm mais chances de desenvolver transtornos, diz psicóloga; 'não é o plié que faz o transtorno alimentar'

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Na profissionalização em balé, como em outros esportes, a alta carga de treinos diários intensos é imperativa. O peso dos atletas é destaque entre as preocupações, o que pode ser gatilho para pessoas predispostas a desenvolver transtornos alimentares.

De acordo com Maria Cristina Lopes, mestre em psicologia que atua com professores de dança desde 2013, bailarinos da modalidade clássica têm até 3 vezes mais chances de sofrer com doenças do tipo.

No balé desde criança, Maria Eliza Contri, 28, diz que decidiu ser nutricionista justamente por ter enfrentado a bulimia. "Me lembro de um colega dizer em frente a todos que não faria dupla comigo pois eu era muito pesada", diz ao blog. Ela não atribui o seu período com a doença ao balé, mas usa sua experiência para criar um ambiente seguro no Espaço Co.Art, escola de dança que dirige junto da irmã, Carol Contri, 35.

Perna de bailarina com sapatilha e tutu brancos
CRISTINA QUICLER/AFP

"É preciso cuidado com o que se diz sobre os corpos das pessoas. Todos estamos vulneráveis", diz a nutricionista. Para a psicóloga Maria Cristina, no entanto, a exposição à cobrança estética nas fases de desenvolvimento, como infância e adolescência, pode ter maior impacto do que na vida adulta. Quem começa a prática quando criança pode visar a profissionalização e sofrer mais pressão do que quem inicia mais tarde no balé. "Não é o plié que faz o transtorno", diz.

No balé, a ortorexia, caracterizada pela obsessão por alimentos saudáveis, é um dos transtornos mais comuns, diz a nutricionista.

Jenifer Santana de Almeida, 23, sonhava em dançar para companhias de balé e ganhou uma bolsa de estudos em uma instituição de dança aos 16 anos. Mesmo dedicando oito horas diárias às aulas, começou a se sentir desmotivada pela diretoria, que criticava suas características físicas para desencorajá-la sobre seu sonho. Aos poucos Jenifer parou de se alimentar.

"Eu fazia toda sequência das aulas com caneleira para ver se perdia gordura das pernas", diz. Após desmaiar em casa, exames médicos apontaram anemia. Quando sua mãe se tornou vigilante, ela passou a vomitar suas refeições e chegou a pesar menos do que o recomendado para sua altura.

Em mais de uma ocasião, a bailarina se lesionou e enfrentou recuperações lentas, o que atribui à falta de nutrientes. A teoria é correta: a diretora Carol Contri diz que um nível de gordura e massa muscular adequadas são essenciais para proteger órgãos e ossos, algo prejudicado sem a ingestão correta de nutrientes.

Carol, que sempre foi bastante magra, diz que se sentia mais bonita de collant. Como ela, a fisioterapeuta Giulia de Souza, 25, não foi impactada pelas cobranças do meio artístico, mas dançando por companhias, Giulia presenciou abusos sofridos por colegas, que eram pesados e medidos.

Formada pela Escola de Dança do Theatro Municipal de São Paulo, teve contato com diferentes modalidades de dança e por isso via a possibilidade de ter músculos, por exemplo, como na dança contemporânea. "Você enxerga brechas para diversidade", diz.

Atualmente Jenifer faz acompanhamento no setor de ginecologia do esporte da Unifesp e vai iniciar num grupo de apoio para pessoas com transtornos alimentares. Ela desistiu de dançar por companhias e abraçou a vocação de ensinar balé.

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