Musa de Almodóvar e Buñuel, atriz laureada com o Goya, mãe de 5, avó de um punhado, Ángela Molina (Madri, 1955) é o novo rosto da campanha da Zara, do gigantesco grupo espanhol Inditex.
O anúncio foi feito esta semana e, em geral, celebrado como uma vitória contra o etarismo (embora, claro, não faltem críticas ao que seria considerado um oportunismo da marca etc).
Seja como for, e sem trocadilhos, Molina não é uma novata: aos seus 67 muy bien vividos anos, é um ícone do que-se-lixe,-sou-velha-e-bela faz tempo -- e sua força aka couro duro vem também de já ter passado por seu quinhão de episódios #ageshaming.
Como o mais recente, de 2019, que envolveu uma clínica de estética em Múrcia.
Com um anúncio que correu a Internet e incendiou os ânimos da opinião pública espanhola, o estabelecimento mostrava fotos de Molina xovem e Molina-atual, acompanhadas da seguinte legenda (tradução livre mía, vejam o original abaixo):
"Entre passar do ponto e 'não fazer nada' existe o meio-termo: 'Melhorar sem Transformar' para retardar o envelhecimento e chegar aos 60 com um melhor aspecto do que esta bela atriz, que se largou demais".
E completa, pra cereja do botox: "e olha que o Photoshop funciona...."
Aye.
Na época, a médica responsável pela clínica, Virtudes Ruiz, comentou ao Huffington Post (perplexa, tadinha): "Recebemos insultos e ameaças por parte de grupos extremistas [!] por conta da publicação e não entendemos essa perseguição... Acreditamos que não dissemos nada ofensivo".
A intenção, afirmou, era 'apenas' dar a entender que, "se você faz um tratamento estético, pode chegar melhor a certa idade".
"Não tem maior importância e estamos seguros de que ela não vai se importar", completou. Ô, desastre de resposta.
À Vanitatis, revista do El Confidencial, Molina declarou depois que não processaria a clínica. E emendou, elegante: "não me importo que me digam que eu tenho rugas. São minhas e estou encantada".
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Essa é a história oficial. Não dá pra saber se, lá no íntimo, a Molina ficou doída. É bem possível. Deve ser um saco passar a vida sob escrutínio público e se meter em embrulhadas à própria revelia.
Celebro sua beleza, inclusive em outdoors de uma marca de fast fashion. Necessitamos mais disso. E celebro sua inteligência, referência para as que estamos a caminho.
Em entrevista para La Voz de Galícia no ano passado, ela refletiu: "Já estou entrando na velhice e a amo pelo que ela é, que é o tempo de vida".
"E, é lógico, a beleza vai se perdendo. Mas, também, o que é a beleza senão viver?".
"O resto é consequência de ser uma pessoa que passa por todas as fases. É preciso também saber se despedir da beleza..."
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