O Mundo É uma Bola

O Mundo É uma Bola - Luís Curro
Luís Curro
Descrição de chapéu Guerra na Ucrânia

'Futebol não existe mais para mim', diz ucraniano Shevchenko, ídolo do país

Mãe e irmã de Andriy Shevchenko, maior artilheiro da seleção de seu país, recusam-se a deixar Kiev

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Considerado o melhor jogador da história do futebol da Ucrânia desde que o país se separou da extinta União Soviética (em 1991), Andriy Shevchenko tem passado dias de aflição a partir da eclosão da guerra em seu país.

Casado e pai de quatro filhos, com residência na Inglaterra e forte ligação com a Itália, Shevchenko, 45, afirma que a invasão russa o fez se desligar completamente do futebol.

O ex-atacante, maior artilheiro da seleção ucraniana (48 gols), segue a carreira de treinador.

Comandou a Ucrânia na Eurocopa de 2020 (disputada em 2021 devido à pandemia de coronavírus), atingindo as quartas de final, e dirigiu o Genoa até a metade de janeiro deste ano.

Então treinador do Genoa, o ucraniano Andriy Shevchenko acena com a mão esquerda em partida contra o Milan no Campeonato Italiano
O ucraniano Andriy Shevchenko comanda o Genoa em partida contra o Milan no Campeonato Italiano - Daniele Mascolo - 1º.dez.2021/Xinhua)

Porém o esporte, para ele, está há uma semana "jogado para escanteio", deixado de lado, esquecido.

"O futebol não existe mais para mim. Não penso nisso, não é hora para isso. Não estou vendo nenhum esporte, nada", disse Shevchenko ao canal londrino Sky Sports.

"Todo o meu foco, quando acordo, é em pensar em como ajudar meu país, o que posso fazer. Esse é o meu campo, a minha concentração, agora."

O segundo jogador a mais vezes ter vestido a camisa da seleção ucraniana –111, atrás apenas do ex-volante Anatolyi Tymoshchuk (144)– tem parentes muito próximos e vários amigos morando na Ucrânia, principalmente na capital.

"É um momento muito difícil para meu país, meu povo, minha família. Minha mãe [Mykola] e minha irmã [Elena] estão em Kiev, e há coisas terríveis acontecendo. Pessoas estão morrendo, mísseis estão apontados para as casas."

Informações sobre óbitos, tanto do lado ucraniano (militares e civis) como do lado russo (militares) não são precisas.

De acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas), até terça-feira (1º) 227 civis perderam a vida no confronto. Há centenas de feridos, e os refugiados passavam do milhão.

"Precisamos parar essa guerra, precisamos encontrar um jeito de parar a guerra. Temos refugiados, precisamos de ajuda humanitária, de apoio médico, de alimentos", declarou o ex-atacante do Milan, do Chelsea e do Dinamo de Kiev, em tom de apelo ao mundo.

Após quatro meses de crise com o Ocidente, a Rússia de Vladimir Putin decidiu atacar a Ucrânia em 24 de fevereiro. É a mais grave crise militar na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.

Shevchenko afirmou ter tentado convencer a mãe e a irmã a saírem da cidade e do país, sem sucesso. "A resposta é não. Querem ficar lá. Esse é o espírito ucraniano."

O ex-artilheiro, que tem agido para estimular e organizar campanhas de doações para ajudar seus compatriotas na guerra, capitaneou a Ucrânia na primeira e até hoje única participação do país em uma Copa do Mundo.

Em 2006, na Alemanha, a seleção ucraniana, famosa pelo uniforme amarelo, avançou até as quartas de final, quando foi eliminada pela Itália, que se sagraria campeã da competição.

Apontando com o dedo indicador da mão direita para o alto, Shevchenko, que usa a camisa 7, e Voronin, que usa a camisa 10, festejam a vitória da Ucrânia contra a Tunísia na Copa do Mundo da Alemanha, em 2006
Shevchenko (camisa 7) e Voronin festejam a vitória da Ucrânia contra a Tunísia na Copa do Mundo da Alemanha, em 2006, em Berlim - Arnd Wiegmann - 23.jun.2006/Reuters

Shevchenko ganhou uma Champions League, em 2003, com o Milan, e é dono de uma Bola de Ouro (2004), tradicional prêmio dado pela revista France Football ao melhor jogador do mundo.

Também em 2004, recebeu a honraria de "Herói da Ucrânia", concedida pelo governo, a mais alta distinção que pode ser oferecida a um cidadão do país.

Shevchenko chegou a tentar a carreira política no começo da década passada, filiando-se ao social-democrata Ukraine - Forward. O partido, contudo, não obteve êxito nas eleições legislativas.

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