O Mundo É uma Bola

O Mundo É uma Bola - Luís Curro
Luís Curro
Descrição de chapéu Copa do Mundo 2022

Estreantes, mulheres da arbitragem são relegadas a figuração na Copa

Seis profissionais, incluindo a bandeirinha brasileira Neuza Back, só atuaram em funções secundárias passados 32 jogos

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Uma das gratas novidades da Copa do Mundo no Qatar masculina é a presença, pela primeira vez, de mulheres na arbitragem.

Seis profissionais, três árbitras e três assistentes (bandeirinhas), foram escolhidas pela Fifa para pela primeira vez atuarem na competição masculina mais importante do futebol.

São elas a francesa Stéphanie Frappart, 38, a ruandesa Salima Mukansanga, 34, a japonesa Yoshimi Yamashita, 36, todas árbitras, e as auxiliares Neuza Back, 38, do Brasil, Karen Díaz Medina, 38, do México, e Kathryn Nesbitt, 34, dos EUA.

A árbitra francesa Stéphanie Frappart posa com Cristiano Ronaldo antes de Portugal x Gana na Copa do Qatar
A francesa Stéphanie Frappart posa com Cristiano Ronaldo antes de Portugal x Gana na Copa do Qatar; ela atuou como quarta árbitra na partida - Hannah Mckay - 24.nov.2022/Reuters

Para aplaudir, certo? A ideia, sim, e de pé. A colocação da ideia em prática, não. Merece vaias, isso sim.

Pois, com duas rodadas inteiras completadas do Mundial, ou 32 partidas, ou nove dias de competição, nenhuma delas esteve em papel relevante na Copa qatariana.

Por papel relevante entenda-se ser o responsável por conduzir o jogo, ou seja, apitá-lo, ou correr nas laterais do gramado marcando impedimentos, faltas, saídas de bola, ou seja, fazer o papel de assistente do árbitro em campo.

Para os menos entendidos em futebol (será que alguém menos entendido lê este blog?), cada partida possui dois bandeirinhas (assim chamados porque seguram uma bandeira, erguida quando há uma marcação), um de cada lado do campo.

Todas as citadas, incluindo a conceituada Frappart –que já apitou jogo da Champions League masculina e partida das Eliminatórias para a Copa em andamento, além de decisão da Copa da França masculina–, estão sendo relegadas ao papel de figuração no Mundial.

A francesa foi escalada duas vezes, para México x Polônia e Portugal x Gana. Sua função? Quarta árbitra. Ou reserva do árbitro –caso este se machuque ou passe mal, o quarto árbitro o substitui.

A chance de ocorrer é mínima, então resta ao quarto árbitro ficar levantando a placa no momento das substituições dos jogadores, indicando o número de quem entra e o de quem sai.

Quarta árbitra em Bélgica x Canadá, a japonesa Yoshimi Yamashita levanta placa que anuncia substituição no time belga na partida da Copa no Qatar
Quarta árbitra em Bélgica x Canadá, a japonesa Yoshimi Yamashita levanta placa que anuncia substituição no time belga na partida da Copa no estádio Ahmed bin Ali - Li Gang - 23.nov.2022/Xinhua

A "campeã" nessa função na Copa tem sido a japonesa Yamashita, escalada em nada menos do que três partidas, nas quais exercitou bastante seus braços, já que nelas houve 26 alterações. Mukansanga foi a quarta árbitra em um jogo, França x Austrália.

Entre as assistentes, a catarinense Back recebeu a responsabilidade de ser a "quinta árbitra", que é a reserva dos assistentes (bandeirinhas).

Se um deles não pode continuar no jogo (raríssimo), ela entra. Não acontecendo, serve de auxiliar do quarto árbitro. Fazendo o quê? Entregando a placa para que ele a erga quando das substituições.

A norte-americana Nesbitt, quinta árbitra em França x Austrália, ganhou uma outra tarefa da Fifa. Foi incluída em quatro partidas na equipe do VAR (árbitro assistente de vídeo).

Não, porém, como a chefe da turma, mas como auxiliar, responsável pela verificação dos impedimentos. Como nesta Copa a tecnologia evoluiu e há o impedimento semiautomático, imagino que não haja muito o que Nesbitt precise checar.

É decepcionante, lamentável até, que a Fifa leve as mulheres para participar da arbitragem do Mundial e as relegue a papéis de coadjuvante.

Uma inclusão de araque. Passa a impressão de que elas têm menos capacidade de ir a campo do que os árbitros homens.

Não dá nem para dar a desculpa de que estão na fila. Dos 36 árbitros na Copa, 9 apitaram dois jogos. Dos 69 bandeirinhas, 54 já atuaram, ou seja, as três mulheres estão no grupo dos marginalizados.

Neuza Back, quinta árbitra em México x Polônia, auxilia Stéphanie Frappart, a quarta árbitra, com a placa de substituições na lateral do gramado do estádio 974, em Doha
A brasileira Neuza Back, 'quinta árbitra' em México x Polônia, auxilia Stéphanie Frappart (esq.) na lateral do gramado do estádio 974, em Doha - Carl Recine - 22.nov.2022/Reuters

Dá para mudar isso? Sim, há ainda muitos jogos, com importância crescente, até o dia da decisão, 18 de dezembro.

Mas não será nos dois primeiros dias da rodada final da fase de grupos que isso ocorrerá.

As escalas da arbitragem para os quatro jogos de terça-feira (29) e os quatro de quarta-feira (30) já saíram, e nem Frappart, nem Mukansanga, nem Yamashita, nem Back, nem Díaz Medina, nem Nesbitt serão protagonistas.

Talvez o devido destaque a cada uma delas seja dado em breve, nos próximos dias. Não tá com cara. Fica a esperança. Tomara aconteça.

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