Tite, na convocação dos jogadores que defenderão o Brasil na Copa do Mundo que começa no dia 20, incluiu duas surpresas, o zagueiro Bremer (Juventus) e o atacante Gabriel Martinelli (Arsenal), e expôs uma ausência significativa, o atacante Roberto Firmino.

Meu foco é em Firmino, atleta de 31 anos que defende o Liverpool desde 2015.

Conforme comentei em programa da TV Folha realizado logo após a divulgação da lista dos 26 convocados, a não inclusão de Firmino deixa uma lacuna relevante nas opções de escalação da seleção, caso Neymar esteja ausente, seja por lesão, seja por suspensão.

Titular inconteste, principal craque do Brasil, Neymar fica, sem a presença de Firmino, sem um substituto que espelhe suas características atuais.

Já faz uns anos que Neymar deixou se ser aquele jogador que permanecia a maior parte do tempo do lado esquerdo do ataque, recebendo a bola e partindo para cima de seu(s) marcador(es), em jogadas individuais que podiam resultar em cruzamentos ou finalizações.

O camisa 10 do PSG e da seleção cumpre outro papel há algum tempo, o de articulador.

Não raro, recua para receber a bola na intermediária ofensiva para fazer a distribuição da jogada. Tentar uma enfiada de bola que deixe alguém na cara do gol ou iniciar uma tabela ou triangulação. Lança ou toca e se manda para a área, ou para perto dela, para receber de volta.

Neymar é muito bom nessa função –inteligente, hábil, pensa rápido, tem bom passe.

Seu defeito é às vezes prender demais a bola, às vezes querer dar um drible a mais, o que aumenta a chance de um adversário desarmá-lo e o torna suscetível a receber mais faltas.

Faltas que podem ser violentas e que podem resultar em uma contusão. Caso essa situação ocorra e Neymar não possa ser escalado, quem joga?

O quase sempre sorridente Firmino faz a mesma função, atuando como um "falso 9", no Liverpool.

Ao mesmo tempo que tem a capacidade de estar na área para finalizar e fazer gols, o alagoano volta ao meio-campo para acionar colegas em velocidade, hoje principalmente Salah e os laterais Alexander-Arnold e Robertson, antes também Mané, que deixou a equipe.

A importância de Firmino –autor do gol que deu o título mundial ao Liverpool contra o Flamengo no fim de 2019 – para a seleção se torna ainda maior devido a outra ausência, a de Philippe Coutinho, titular na Copa na Rússia, que se lesionou em treino do Aston Villa e deixou de ser alternativa para a Copa no Qatar.

As características de Coutinho o habilitam a fazer essa armação executada tanto por Neymar como por Firmino.

Tite poderia muito bem ter deixado de fora Martinelli, que, frise-se, está jogando muito bem no Arsenal, para escolher Firmino. Taticamente, era o caminho correto.

Martinelli tem enorme chance de, como Taison no Mundial de 2018, passar toda a competição "batendo palmas", ou seja, sentado no banco incentivando os colegas que estão em campo.

Ele é, teoricamente, a última opção para um ataque que tem, além de Neymar, Richarlison, Vinicius Junior, Gabriel Jesus, Raphinha, Rodrygo, Pedro e Antony.

Firmino não é nenhum supercraque, porém vem fazendo boa temporada no Liverpool (em 19 jogos, marcou oito gols e deu quatro assistências) e tem muito mais experiência de seleção (mais de 50 jogos) do que Martinelli (ou que Rodrygo, ou que Antony, ou que Raphinha).

A conferir se na Copa, caso Neymar não possa jogar, Tite não vai olhar para os lados e descobrir que o melhor substituto, para manter o time jogando do mesmo jeito, era Firmino –e aí se dar conta de que ele não está ali.