O Mundo É uma Bola

O Mundo É uma Bola - Luís Curro
Luís Curro

Seleção brasileira com um volante só é tentador, mas é também excrescência

Na caminhada para o Mundial no Qatar, Tite escalou a equipe 50 vezes, apenas duas sem dois meio-campistas marcadores

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O volante Casemiro, com a bola à sua frente, em treino da seleção brasileira em Turim, na Itália; ele usa camiseta verde e colete amarelo
Casemiro, que pode ser o único especialista na marcação no meio-campo da seleção brasileira na estreia na Copa do Qatar, durante treino da equipe - Vincenzo Pinto - 15.nov.2022/AFP

Fã de futebol ofensivo que sou, acharei uma maravilha se Tite escalar a seleção, como li e assisti por aí que escalará contra a Sérvia, na estreia na Copa do Qatar, nesta quinta (24), com um único volante –no caso, Casemiro.

Quando li e assisti por aí que será assim, não fiquei convencido. Não estou até agora, e só me convencerei quando a equipe entrar em campo dessa forma no estádio Lusail.

Por quê? Pela simples razão que o treinador jogará fora, quase que subitamente, uma formação utilizada, e com sucesso altíssimo, nos mais de quatro anos de preparação para o Mundial.

Desde a derrota para a Bélgica, na metade de 2018, que tirou o Brasil da Copa da Rússia, a seleção brasileira foi a campo 50 vezes: 30 em jogos por competição (Eliminatórias ou Copa América) e 20 em amistosos.

Em apenas duas dessas partidas, repito, apenas duas, Tite decidiu ter só um volante em campo, e nelas nada estava em jogo para o Brasil, bem diferente da situação do embate com a Sérvia, partida de Copa do Mundo.

Mudar não é temeroso? Não é incoerente? Não é desnecessário?

Fabinho atuou como o meia defensivo solitário diante do Paraguai, em Belo Horizonte (Mineirão), 4 a 0 para o Brasil, em fevereiro deste ano. Era duelo pelas Eliminatórias da Copa, mas a seleção já estava classificada desde 2021.

À frente dele estavam os meias-atacantes Lucas Paquetá e Philippe Coutinho e os atacantes Raphinha, Matheus Cunha (que ficou fora da lista para o Qatar) e Vinicius Junior.

Casemiro foi o volante solitário no amistoso de setembro contra Gana na França, 3 a 0 para o Brasil, o penúltimo antes do Mundial.

À frente dele, o meia-atacante Lucas Paquetá e uma quadra de atacantes: Raphinha, Richarlison, Neymar e Vinicius Jr.

Com camisetas verdes e sentados, o atacante Vinicius Junior e o meia-atacante Lucas Paquetá movimentam os braços aos fazer exercícios em treinamento do Brasil no estádio Grand Hamad, em Doha
O atacante Vinicius Junior e o meia-atacante Lucas Paquetá (dir.) exercitam-se em treinamento do Brasil no estádio Grand Hamad, em Doha - Nelson Almeida - 21.nov.2022/AFP

É essa última formação que, conforme li e assisti por aí, será anunciada por Tite cerca de uma hora antes do apito do árbitro iraniano Alireza Faghani no Lusail, às 16h (de Brasília).

Será mesmo?

Apostaria que Tite, a quem considero conservador em suas concepções –e utilizar dois volantes é uma delas–, dormiu com receio de fazer isso, de se lançar ao ataque de forma avassaladora logo de cara, com dois pontas abertos (Raphinha e Vini Jr.) e três jogadores que não são marcadores. Até podem marcar, mas não é a deles.

A grande questão é: na estreia da Copa, uma partida sempre nervosa, e contra um adversário que não é moleza –a Sérvia não perdeu nas Eliminatórias europeias–, o Brasil precisa ir com tudo para cima, desde o começo, com um exército de atacantes?

Enfatizo: adorarei ver essa escalação. Considero que é uma estratégia com muita chance de dar certo, prevendo que os sérvios se defenderão na maior parte do tempo.

E, dando certo, Tite será elogiado, enaltecido pela sua coragem e por resgatar toda a tradição do futebol brasileiro, segundo a qual o ataque é a melhor defesa (e eu concordo!).

Só que... e se não funcionar?

E se a Sérvia der um jeito de segurar o quinteto ofensivo, passar a dominar o meio-campo e Casemiro, mesmo sendo um combatente dos melhores, não der conta de cuidar do trabalho pesado sem a ajuda de Fred, companheiro de todas as horas?

Com a bola diante de si, o volante Fred, da seleção brasileira, gira o corpo para a esquerda em treino em Doha, no Qatar
O volante Fred, companheiro de meio-campo de Casemiro no Manchester United e na seleção brasileira, treina em Doha - Amanda Perobelli - 23.nov.2022/Reuters

Nessas 50 partidas do ciclo para esta Copa, Casemiro e Fred formaram a dupla de volantes em 15. Nas dez últimas, estiveram juntos em seis, e o Brasil ganhou cinco e empatou uma.

Os outros companheiros de Casemiro na marcação pesada no meio-campo foram Arthur, Douglas Luiz, Allan, Fernandinho e Bruno Guimarães –este último está no Qatar.

Mudar é tentador, mas seria uma excrescência, uma ameaça desnecessária a um equilíbrio buscado, e alcançado, ao longo de mais de 1.500 dias de trabalho.

Se eu fosse Tite, começaria de forma cautelosa.

Até porque Fred (aliás, prefiro Bruno Guimarães, é melhor) e Casemiro são, além de "cães de guarda", bons passadores e têm as condições de, se preciso, avançar para finalizar.

Não deu certo, digamos, nos 45 ou 55 minutos iniciais?

Entra Vini Jr., que, descansado, tem mais chance de desequilibrar contra uma retaguarda Sérvia que já estará desgastada.

Mas, independentemente da escalação, boa sorte, Tite, boa sorte, Brasil. Que o hexa possa vir com um, dois, três ou até sem nenhum volante.

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