O treinador da seleção brasileira, Tite, deve estar lamentando o azar que tem tido com o elenco durante a Copa do Qatar.
Primeiro, no jogo da estreia, contra a Sérvia, perdeu Neymar, o melhor jogador do time, e o lateral direito Danilo.
Contusões no tornozelo tiraram de cena o camisa 10, que chegara ao Oriente Médio em grande forma, e o camisa 2. Eles não puderam atuar nem contra a Suíça nem contra Camarões.
Depois, na partida diante dos suíços, quem se machucou foi o titular da lateral esquerda, Alex Sandro, lesionado no quadril. Ele deve ficar fora até, pelo menos, as quartas de final, caso a seleção chegue lá.
No terceiro jogo, o derradeiro na fase de grupos, Tite, com o Brasil já classificado, mandou a campo os reservas. A bruxa continuou solta, e houve mais duas baixas: Alex Telles (substituto imediato de Alex Sandro) e o atacante Gabriel Jesus, titular na Copa da Rússia, em 2018.
Os casos de Telles e Jesus são mais graves (joelho, ambos), e eles não se recuperarão a tempo de voltar a jogar até o fim da Copa do Mundo, cuja decisão é daqui a duas semanas, no dia 18 de dezembro, um domingo.
Cinco contusões, duas sérias e três nem tanto, no intervalo de oito dias são para se benzer, para bater na madeira, para acender uma vela.
O Brasil é a seleção que, durante a Copa, mais jogadores perdeu por lesão. E, iniciado o Mundial, não é mais permitido, pelas regras da Fifa, chamar atletas fora da lista dos 26 convocados.
Assim, o Brasil vai com dois a menos até o fim de sua participação, que pode ser nesta segunda-feira (5), nas oitavas de final contra a Coreia do Sul, ou não –espera-se que não, pois, desde que Brasil e Coreia duelam no futebol, sempre os brasileiros foram superiores.
Só que, como o futebol tem ficado a cada ano, a cada mês e até a cada dia menos desigual, e como as surpresas estão aparecendo em intervalos regulares no Qatar (Arábia Saudita ganhando da Argentina, Japão ganhando de Alemanha e Espanha, Marrocos ganhando da Bélgica...), é bom não bobear nem por um minuto.
Nesse cenário de "zebra solta" e de problemas físicos, a situação mais preocupante para Tite parece ser nas laterais. Danilo, pelas notícias mais recentes, está bem melhor (assim como Neymar) e deve ter condição de encarar Son Heung-min e companhia.
Mas em que estado físico? Não 100%, e nenhum treinador gosta de escalar um atleta fora da sua melhor forma.
Para complicar, a recuperação de Alex Sandro estava mais lenta, e escalá-lo seria imprudente. Na lateral esquerda, Tite não tem mais ninguém. Teria de improvisar, o que não é bom.
Diante de Camarões, quando Alex Telles saiu, quem entrou foi o zagueiro Marquinhos. Que é destro. Que não tem cacoete de lateral, muito menos esquerdo.
Resultado: os camaroneses atacaram pela direita, Marquinhos não chegou junto para evitar o cruzamento, Aboubakar mandou para as redes de Ederson. (Falharam também no lance os zagueiros Militão e Bremer, ao dar espaço para o centroavante.)
E agora? O Brasil está fadado a se dar mal, por falta de pé de obra na posição? Não necessariamente. Há uma solução fácil de ser implantada: mudar o esquema de dois para três zagueiros.
Fazendo isso, Tite resolve problemas sem tornar a equipe mais defensiva, pelo contrário.
Jogariam na zaga Militão, Thiago Silva e Marquinhos, teoricamente número suficiente para conter os contra-ataques em velocidade da Coreia.
Os laterais se tornariam alas (Daniel Alves, que não marca muito bem, pela direita, e o canhoto Lucas Paquetá, meia de origem, pela esquerda), com a missão primordial de atacar quando o Brasil tiver a bola e de congestionar o meio-campo quando estiver sem ela.
O resto pouco muda. Casemiro na contenção, Neymar (que deve ser escalado) na criação pelo meio, Raphinha e Vinicius Junior nas pontas, Richarlison como centroavante. Fred sai do time.
A Holanda, com três zagueiros e os alas soltos e atacando muito, está invicta e chegou às quartas de final com exibição muito boa contra os EUA. É um exemplo atual de sucesso.
Porém Tite, é quase certo, não usará três zagueiros. O técnico é adepto historicamente da formação com quatro homens atrás e não deve nem ter treinado o esquema que pode ser a solução do seu problema.
De todo modo, o que não é adequado é Marquinhos na lateral esquerda. Com ele ali, o Brasil perde um excelente zagueiro e ganha(?) um lateral medíocre.
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