O Mundo É uma Bola

O Mundo É uma Bola - Luís Curro
Luís Curro

Futebol fica fora do foco na França olímpica

Casos distintos no torneio masculino e no feminino, antes mesmo da cerimônia de abertura, envergonham o esporte

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Quando se pensa em futebol, qual a primeira coisa que se vem à cabeça? Para mim, e suponho que para a maioria dos que gostam do esporte, é o gol.

O gol é o foco.

Afinal, futebol é bola na rede, ouço desde de criança –a primeira vez possivelmente no rádio. Quanto mais gols tem um jogo, melhor ele é.

Quando se continua a considerar o futebol, o pensamento seguinte que se tem são, não necessariamente nesta ordem, dribles desconcertantes, passes de qualidade, jogadas ensaiadas/bem trabalhadas, criatividade/inventividade, defesas espetaculares, poucas faltas, "jogo limpo".

Tudo isso diz respeito ao que ocorre estritamente no campo de jogo. Sem confusões, sem complicações, sem arbitragem caótica, sem mazelas. Sem dúvidas.

Infelizmente, no dia a dia do futebol não é assim que funciona. E os Jogos Olímpicos de Paris não fogem à regra.

A cerimônia de abertura nem tinha sido realizada –ocorreu nesta sexta-feira (26)– e dois casos negativos envolvendo o futebol, que teve bola rolando a partir de quarta-feira (24), já ocupavam espaço no noticiários meios de comunicação.

Um deles, no lado masculino, mereceu a classificação de "insólito" de Lionel Messi, que acompanha de longe a seleção olímpica argentina, e de "circo" do técnico da equipe, Javier Mascherano.

Em Saint-Étienne, a Argentina fez o gol de empate (2 a 2) contra Marrocos aos 60 minutos do segundo tempo. Residiu aí o primeiro absurdo: por que tanto tempo de acréscimo (15 minutos)? Não havia razão para isso.

O gol resultou em alvoroço na torcida marroquina. Pelo menos um rojão estourou perto de jogadores argentinos, que comemoravam efusivamente, e houve invasão do gramado de fãs marroquinos.

O árbitro encaminhou os times para os vestiários, para preservar a segurança dos atletas, e a conclusão de todos foi a de que a partida estava encerrada.

Em Saint-Étienne, jogadores da Argentina caminham perto de garrafas de plástico arremessadas contra eles por torcedores no jogo contra Marrocos
Em Saint-Étienne, torcida atira garrafas na direção de jogadores da Argentina depois de gol, que seria anulado, no jogo contra Marrocos nas Olimpíadas - Arnaud Finistre/24.jul.2024/AFP

Não estava, o que, e eis aqui o segundo absurdo, só se soube quase duas horas depois, quando os jogadores voltaram ao campo, com o estádio já sem torcida, para jogar mais três minutos, sabe-se lá por quê (registre-se o terceiro absurdo). Talvez o árbitro Glenn Nyberg, da Suécia, um dia responda.

E, pasme, esse retorno apontou o placar de 2 a 1 para Marrocos. O segundo gol da Argentina foi anulado pelo famigerado VAR (árbitro assistente de vídeo), por impedimento milimétrico na jogada. Até aí, nada a fazer, quem manda é a famigerada tecnologia.

Só que, chegando ao quarto absurdo, ninguém esclareceu nada de imediato. Concluiu-se que o VAR rapidamente chegou a essa decisão, porém o motivo de ela demorar a ser divulgada não foi dado, o que resultou em surpresa para os argentino e especulação.

A razão da delonga seria não dar mais combustível aos ânimos exaltados dos torcedores com essa comunicação, guardada para ser desguardada somente após a saída de todos do estádio.

De fato, um circo. Não como sinônimo do tradicional e animado espetáculo –com malabaristas, mágicos, trapezistas, equilibristas, palhaços etc.–, mas no sentido de "excêntrico", "chocante", "grotesco".

A técnica de futebol Beverly Priestman,, do Canadá, olha para a frente antes de jogo contra El Salvador em Houston
A técnica Bev Priestman, excluída da delegação do Canadá depois que o comitê olímpico do país concluiu que ela tinha envolvimento em caso de espionagem - Logan Riely/22.fev.2024/AFP

O outro episódio que conturbou o ambiente olímpico aconteceu do lado feminino. E não foi durante uma partida, mas antes.

Tendo a Nova Zelândia pela frente na estreia, o Canadá, atual campeão das Olimpíadas, decidiu utilizar um drone para sobrevoar e gravar o treinamento do adversário.

Espionagem. Que foi descoberta e resultou, de imediato, no afastamento de Joseph Lombardi e de Jasmine Mander, integrantes da comissão técnica canadense.

Não parou aí. O Comitê Olímpico do Canadá concluiu que a treinadora da seleção, Bev Priestman, tinha conhecimento da atitude espiã e a desligou das atividades nas Olimpíadas.

Quem comandará a equipe –que aliás derrotou a Nova Zelândia por 2 a 1– no restante do torneio é o assistente técnico Andy Spence.

Sempre considerei que o Canadá, país de primeiríssimo mundo, fosse incapaz de fazer pilantragem, não só no futebol como em qualquer atividade.

Tinha comigo uma imagem de probidade, de retidão. Enganei-me. Lá é como cá.

E o foco no futebol, que deveria ser o gol (ou o drible, ou o belo lançamento, ou a grande defesa), passa ser o desgosto, seja por desordem, seja por baixeza.

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