O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) irá discursar no Parlamento de Portugal durante as comemorações do aniversário de 49 anos da Revolução dos Cravos, movimento que pôs fim à ditadura no país. Feriado nacional, o 25 de abril é uma das datas mais importantes do calendário político luso.

A participação do petista na solenidade foi anunciada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros português, João Gomes Cravinho, durante entrevista coletiva em Brasília na quinta-feira (23). "É a primeira vez que um chefe de Estado estrangeiro faz um discurso nessa data", destacou.

O chanceler português viajou ao Brasil para acertar os detalhes da visita oficial que Lula fará a Portugal em abril.

Do outro lado do Atlântico, porém, as declarações do ministro causaram controvérsia entre deputados de diferentes espectros políticos. Alguns parlamentares manifestaram surpresa com a informação sobre o discurso de Lula e acusaram o governo de interferência nas atividades do Parlamento.

O primeiro-ministro português, António Costa (Partido Socialista), demonstra proximidade com o petista e chegou a gravar um vídeo de apoio durante a campanha eleitoral brasileira. Em novembro, Costa posou sorridente e fazendo um L com a mão enquanto recepcionava Lula e a mulher, a socióloga Rosângela da Silva, a Janja, em Lisboa.

Líder do partido de direita Iniciativa Liberal, o deputado Rui Rocha afirmou que o ministro dos Negócios Estrangeiros desrespeitou a Assembleia da República "ao convidar Lula para a sessão solene do 25 de abril sem que tal tenha sido discutido na casa da democracia".

Presidente do partido de ultradireita Chega e apoiador declarado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o deputado André Ventura afirmou que a ação foi "uma vergonha e um desrespeito pelo Parlamento como há muito tempo não se via".

Há pouco mais de um mês, Ventura foi repreendido pelo presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, após ter chamado Lula de bandido durante uma sessão parlamentar. Na ocasião, os deputados debatiam um voto de condenação aos ataques golpistas contra a sede dos Três Poderes em 8 de janeiro.

O deputado Pedro Filipe Soares, do Bloco de Esquerda, criticou a forma como o discurso de Lula foi anunciado, mas aproveitou para ironizar a derrota de Bolsonaro nas eleições.

"Recebermos no Parlamento o homem que colocou Bolsonaro no caixote do lixo da história é uma boa notícia, mas não deveria ser apropriada pelo Governo para um número político. Pode Lula da Silva explicar a Cravinho e Santos Silva o princípio da separação dos poderes?", escreveu nas redes sociais.

A agenda de Lula em Portugal será intensa. Além da sessão comemorativa com os deputados, o presidente brasileiro deve ainda participar da cerimônia de entrega do prêmio Camões de literatura a Chico Buarque.

O principal compromisso do petista em Lisboa, porém, será a Cimeira luso-brasileira, entre 22 e 25 de abril. Idealizada para acontecer a cada dois anos, a cúpula bilateral não é realizada desde 2016.

Lula vem tentando estreitar os laços com Portugal. O petista visitou o país em novembro, pouco após as eleições, quando voltava da COP27 no Egito. Na ocasião, ele se encontrou com o primeiro-ministro e o presidente e reforçou a intenção de melhorar a relação com o país europeu.