Políticas e Justiça

Editado por Michael França, escrito por acadêmicos, gestores e formadores de opinião

Políticas e Justiça - Michael França
Michael França

O papel da transparência na redução de disparidades salariais

Tramita na câmara projeto de lei que obriga empresas a informar a faixa salarial em anúncios de emprego

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Maria Oaquim

É mestra em economia pela PUC-Rio e estudante de Ph.D. na Universidade de Princeton

Em um tweet viral, a trabalhadora Kimberly Nguyen denunciou sua empresa por oferecer, em um anúncio de vaga no LinkedIn, um salário muito maior que ela ganha pela mesma função. A descoberta da discrepância salarial foi possível depois que seu estado, Nova Iorque, aprovou uma lei de transparência salarial determinando que os anúncios de vagas informassem a faixa de remuneração.

O relato de Kimberly acendeu a discussão sobre como a transparência pode auxiliar minorias que estão sendo sub-remuneradas em seu trabalho.

Tramita na câmara brasileira um projeto de lei que obriga as empresas a informar a faixa salarial em anúncios de emprego. Uma das possíveis vantagens das leis de transparência salarial é mover o esforço de busca por emprego para as firmas que estão postando os maiores salários.

Em especial, uma pesquisa na Alemanha apontou que os trabalhadores de baixa remuneração subestimam quanto poderiam receber em outras empresas. Evidências como essa sugerem que a transparência salarial pode ajudar os trabalhadores mais vulneráveis a buscarem empregos que remuneram melhor.

Maria Oaquim é mestra em economia pela PUC-Rio e estudante de Ph.D. na Universidade de Princeton
Maria Oaquim é mestra em economia pela PUC-Rio e estudante de Ph.D. na Universidade de Princeton - Divulgação

Sendo o Brasil um país com substanciais desigualdades de gênero e raça no mercado de trabalho, uma pergunta relevante é como mulheres e trabalhadores negros poderiam ser particularmente beneficiados por políticas de transparência salarial. Pesquisas que investigam as disparidades salariais por gênero e raça no Brasil apontam que um fator relevante para explicar tais desigualdades é a maior concentração de mulheres e negros em empresas que remuneram pior.

Ainda que mais evidências sejam necessárias para entendermos esse fenômeno, a informação de quais firmas estão oferecendo os maiores salários poderia beneficiar esses grupos de trabalhadores.

A transparência salarial também pode afetar a desigualdade salarial de gênero via redução da assimetria de gênero na negociação salarial. Em um estudo recente, uma pesquisadora do MIT analisou dados de uma plataforma online para vagas de engenharia.

No site, os aplicantes devem postar o salário requerido e, em seguida, as empresas escolhem se iniciam o processo de entrevista e negociação do salário. De início, a pesquisa encontrou que mulheres pedem por menores salários em comparação aos homens com qualificações similares. Porém, quando a plataforma começou a informar a remuneração média requerida por aplicantes com experiência similar postulando ao mesmo cargo, as mulheres passaram a pedir por maiores salários.

Qual seria o efeito da transparência no valor dos salários postados? Poderíamos pensar que a transparência induz as firmas a aumentarem salários para competirem com empresas que anunciam melhores remunerações.

Por outro lado, a lei de transparência salarial poderia motivar os empregadores a acordarem nivelar por baixo os salários anunciados. Contudo, essa última hipótese não foi comprovada empiricamente. Uma recente pesquisa investigando uma lei de transparência salarial aprovada no estado do Colorado, nos Estados Unidos, sugere que a adoção da lei levou a um aumento médio de 3% nos salários postados.

Em suma, a transparência salarial nos anúncios de vagas pode ser positiva para trabalhadores de baixos salários, com potencial de beneficiar particularmente mulheres e negros. Frente a uma gama de evidências positivas para outros países, tal política merece maior atenção no debate da redução de disparidades salariais no mercado de trabalho brasileiro.

O editor, Michael França, pede para que cada participante do espaço "Políticas e Justiça" da Folha sugira uma música aos leitores. Nesse texto, a escolhida por Maria Oaquim foi "Nós Somos Mulheres", do Samba Que Elas Querem.

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