Que imposto é esse

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Que imposto é esse - Eduardo Cucolo
Eduardo Cucolo
Descrição de chapéu Financial Times mudança climática

Comércio global pode se fragmentar com imposto da UE sobre importações 'sujas'

Taxação de materiais intensivos em carbono pode limitar emissões, mas produtores alertam que isso poderia alterar radicalmente fluxos comerciais

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Alice Hancock Sylvia Pfeifer
Bruxelas e Londres | Financial Times

Em Jiaxing, uma cidade industrial nos arredores de Xangai, 400 executivos e engenheiros da indústria do aço se reuniram em novembro passado para enfrentar uma tarefa enorme: desvincular o maior produtor de aço do mundo das usinas de coque a carvão.

O assunto é de urgência política. O governo chinês está tentando descarbonizar —rapidamente— um setor que depende muito do carvão ou corre o risco de perder sua dominância à medida que países com metas climáticas ambiciosas buscam alternativas.

A fonte do problema da China pode ser rastreada até a Europa, onde a União Europeia —um de seus principais mercados de exportação— impôs o primeiro imposto do mundo sobre importados intensivos em carbono, começando com cimento, ferro, alumínio, fertilizantes, eletricidade, hidrogênio e, é claro, aço. O imposto entrará em vigor em 2026, mas a transição já está em andamento.

Mas há uma preocupação mais profunda. A decisão da UE poderia desencadear uma onda de países aplicando medidas semelhantes, e em uma variedade maior de produtos, causando um golpe coletivo devastador à indústria chinesa. Em dezembro, o Reino Unido anunciou a introdução de seu próprio imposto de importação de carbono até 2027.

Complexo industrial; chaminé soltando fumaça
Carvão em um parque industrial em Jiexiu, uma cidade na parte central da província de Shanxi, na China - Gilles Sabrié - 22.out.2021/The New York Times

"As empresas estão acompanhando isso de perto", diz Gao Liqun, especialista de pesquisa em tarifas de carbono da Deloitte China. "Elas estão preocupadas que muitos outros países -[mais importante] os EUA e o Japão- adotem medidas semelhantes."

Um convidado no evento de Jiaxing, organizado pela estatal Zhejiang Society of Metals, estava otimista, no entanto. Tan Weihan, CEO da Xi'an Xinda Electrical Furnace Works, vê o desafio enfrentado pelas siderúrgicas chinesas como uma oportunidade para empresas como a dele, que estão ajudando a criar aço mais limpo.

"O governo está sinalizando a necessidade de pesquisa em larga escala e cooperação industrial", diz Tan. "Estamos conversando com o governo e esperamos receber apoio."

Para a Europa, a introdução do CBAM (Mecanismo de Ajuste de Fronteira de Carbono) foi saudada como um nivelador necessário para as empresas europeias em um cenário de comércio global cada vez mais conturbado.

Mas também é um passo importante em direção a uma precificação mais ampla do carbono, uma medida que formuladores de políticas e ambientalistas dizem ser necessária para reduzir as emissões para 1,5°C, a meta ideal do acordo de Paris.

Os políticos ocidentais estão extremamente preocupados com a dependência da China em relação a matérias primas necessárias para a transição verde. O aço, um dos metais mais usados do mundo, é um dos setores mais politizados nesse debate.

A UE, que está enfrentando pressão dos Estados membros para recuperar sua vantagem competitiva, quer garantir que os bilhões de euros investidos por gigantes do aço como ArcelorMittal e Thyssenkrupp em suas plantas europeias para reduzir emissões não sejam prejudicados por concorrentes de baixo custo que usam fontes de energia mais sujas.

No entanto, a preocupação com as primeiras medidas desse tipo é generalizada. Alguns produtores europeus também temem que o CBAM possa levar a custos mais altos.

Autoridades e executivos em países como China, Índia, Turquia e Brasil temem que o CBAM interrompa os fluxos comerciais e crie um sistema de dois níveis, com produtos fabricados com energia limpa sendo enviados para a UE e aqueles produzidos com energia a carvão sendo exportados para países mais pobres com leis climáticas menos rigorosas.

Nesse sentido, o CBAM oferece uma prévia do que acontece quando a corrida para descarbonizar é feita em velocidades diferentes por diferentes países.

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