Sobre Trilhos

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Vagão do Trem do Pantanal passa por restauração em SP

Carro de passageiros, parado há 15 anos, foi utilizado no passado pela Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, que operou o lendário Trem da Morte

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O carro de passageiros é de madeira, assim como algumas estações que atenderam a companhia ferroviária em que ele era utilizado no passado. Deteriorado, não rodava nos trilhos havia 15 anos, mas nos próximos meses deve passar a atender uma rota turística no interior paulista.

Usado no passado pela Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, o vagão de passageiros de primeira classe que também operou no mal-sucedido Trem do Pantanal está sendo recuperado e voltará a ter as cores originais usadas pela extinta companhia ferroviária, predominantemente vermelho —com amarelo nas janelas.

Vagão ferroviário que pertenceu à Noroeste do Brasil e ao Trem do Pantanal e que está sendo restaurada pela ABPF (Associação Brasileira de Preservação Ferroviária) em Campinas
Vagão ferroviário que pertenceu à Noroeste do Brasil e ao Trem do Pantanal e que está sendo restaurada pela ABPF (Associação Brasileira de Preservação Ferroviária) em Campinas - Divulgação/ABPF

Ele começou a ser restaurado no dia 6 de maio, segundo o diretor administrativo da ABPF (Associação Brasileira de Preservação Ferroviária) em Campinas, Helio Gazetta Filho. E, muito antes de o trabalho artesanal ter início na oficina existente na estação Carlos Gomes, foi preciso passar por uma faxina para retirar as teias de aranha e a sujeira acumulada com o tempo.

Seis meses depois do começo da recuperação, o vagão já tem outro aspecto, com madeiramento novo seguindo o estilo da Noroeste do Brasil, companhia que operou o icônico Trem da Morte, que levava passageiros de Bauru, no interior paulista, a Corumbá (MS), na fronteira com a Bolívia.

Quando estiver pronto, o que deve ocorrer em março do próximo ano, vai compor a frota em operação da ABPF no trecho de 24 quilômetros de trilhos entre Campinas e Jaguariúna, no interior paulista.

Gazetta Filho disse que o carro, fabricado em 1936, chegou à associação em 1984, na época ainda pelos trilhos, entre Bauru e Jaguariúna, e foi utilizado na rota turística entre as cidades depois de uma reforma inicial.

Ficou guardado todos esses anos devido a outras prioridades de restauro que a associação tinha e à falta de recursos financeiros para conseguir recuperar com mais celeridade outros bens históricos que integram o acervo. A associação sobrevive de doações e dos valores arrecadados com os roteiros turísticos oferecidos aos finais de semana e feriados.

Segundo Gazetta Filho, para a restauração de muitos vagões ou locomotivas não há um "manual de instruções" ou desenhos técnicos, o que faz com que o trabalho também seja mais lento para que sejam mantidas as características originais.

"O processo é desmontar tudo e montar novamente, fazendo a reconstrução do que for necessário", afirmou o diretor.

Com o vagão, a ABPF tem em Campinas 12 carros da Noroeste do Brasil, incluindo dois que eram usados pela administração. Além disso, há um vagão na Regional Sul da associação, em Rio Negrinho, que era utilizado como restaurante.

A construção da Noroeste do Brasil começou em 1905 e teve como objetivo ligar o então enorme estado de Mato Grosso (não existia Mato Grosso do Sul) com São Paulo.

O governo federal assumiu a ferrovia, reconstruiu trechos e ergueu estações em alvenaria nos anos 1920.

Até então, muitas eram construídas em madeira, como a Rio Branco, em Três Lagoas (MS), que, embora inaugurada em 1912 e abandonada, está de pé.

Diferentemente de outras companhias ferroviárias, que tinham construções e arquiteturas padronizadas, a Noroeste do Brasil usava muitas vezes materiais simples para as suas estações, como madeira e areia.

A HISTÓRIA DO TREM DA MORTE

O verdadeiro Trem da Morte é o que operava na Bolívia, entre Puerto Quijarro, na fronteira com o Brasil, e Santa Cruz de la Sierra. Mas como a Noroeste do Brasil ligava Bauru a Corumbá, na fronteira com a cidade boliviana, acabou batizada com a mesma nomenclatura.

O nome se deve ao número de acidentes, como descarrilamentos, e também por ser no passado rota para o transporte de doentes, mas a "extensão" brasileira fez jus ao apelido especialmente a partir dos anos 60, quando houve desaceleração gradual de investimentos na estrada de ferro.

Nas duas últimas décadas de operação com passageiros —encerrada nos anos 90—, a viagem de Bauru a Corumbá era feita em cerca de 30 horas, já que o trem não podia correr muito devido à precariedade da ferrovia e por parar em dezenas de estações nas 34 cidades da rota.

Não é possível cravar que o carro de passageiros em restauro em Campinas foi utilizado no Trem da Morte, mas Gazetta Filho disse que há uma possibilidade grande de que tenha ocorrido. "Esses carros provavelmente devem ter inclusive adentrado Bolívia afora."

Abaixo, você pode ler reportagens de uma série sobre a emblemática ferrovia produzida a partir de uma viagem por mais de 3.000 quilômetros entre a capital paulista e Puerto Quijarro.

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