Sobre Trilhos

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Mato Grosso completa 10 anos da não entrega do VLT de Cuiabá

Ao ser licitado em 2012, sistema deveria estar em funcionamento antes da Copa de 2014, mas sequer foi completado e é alvo de desmonte

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Várzea Grande (MT)

No já distante 15 de maio de 2012, houve a abertura dos envelopes das propostas da licitação para a construção do polêmico projeto do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) de Cuiabá, que seria a principal obra de mobilidade na capital mato-grossense para a Copa do Mundo de 2014.

Então já uma obra muito questionada quanto à sua viabilidade econômica, ao valor e se seria entregue a tempo para a principal competição entre seleções de futebol do mundo, que começaria em dois anos, o governo de Mato Grosso alegou que o edital possuía uma cláusula que obrigava contratualmente a entrega da obra no primeiro trimestre de 2014.

Imagem mostra trilhos que seriam usados pelo VLT de Cuiabá próximos à estação Aeroporto, em Várzea Grande (MT)
Trilhos que seriam usados pelo VLT de Cuiabá próximos à estação Aeroporto, em Várzea Grande (MT) - Marcelo Toledo-11.set.2023/Folhapress

O contrato, porém, só foi assinado em junho e exigia a entrega em 24 meses. Quase dez anos se passaram desde o prazo em que o VLT –que comprou 40 trens e 24 quilômetros de aço da Polônia– deveria ter sido entregue, mas o pouco que foi feito depois de um gasto superior a R$ 1 bilhão começou a ser desmontado no ano passado na capital mato-grossense e em Várzea Grande.

Hoje pouco resta do sistema, que chegou a ter seis quilômetros de trilhos instalados, além de cabos elétricos e catenárias, mas ele ainda gera polêmica política.

No entorno do aeroporto Marechal Rondon, em Várzea Grande, que abrigaria a estação Aeroporto e seria ponto de chegada e partida dos usuários, comerciantes ouvidos disseram que era preciso ter uma solução, não importando qual fosse.

"Esses tapumes [que estavam fechando a estação quando a Folha esteve no local] precisam sair daí, seja com ônibus, com trem ou com nada", disse o comerciante Cláudio Alexandre Sousa.

Ele disse que o comércio local e os usuários do aeroporto já perderam muito nos últimos dez anos com a indefinição. "Ainda bem que o VLT da corrupção não vai existir", disse o lojista Felipe Silva.

O termo passou a ser utilizado por quem era contra a implantação do VLT devido aos gastos exagerados, às suspeitas de corrupção e ao fato de o sistema nunca ter funcionado.

O governador Mauro Mendes (União Brasil) dá o caso como encerrado desde 2020, quando o estado optou por abandonar o VLT e transformar o sistema em BRT –corredores de ônibus–, como era a proposta inicial antes de ser alterada no governo da presidente Dilma Rousseff (PT).

Mendes afirma que o corredor expresso de ônibus tem custo mais baixo de implantação, ficará pronto mais rapidamente e terá tarifa mais barata.

Em agosto, foram apresentados em audiências públicas os estudos de impacto de vizinhança para a implantação dos sistemas em Cuiabá e Várzea Grande. A conclusão é que o tempo de viagem para sair do terminal, ir ao centro de Cuiabá e retornar será de 42 minutos, tempo que hoje é de uma hora e 27 minutos.

Em 19 de fevereiro, o governo começou a concretar as pistas do BRT na avenida do CPA, na capital do estado.

Apesar disso, a Prefeitura de Cuiabá anunciou no último dia 18 que o projeto do VLT Cuiabano cumpre critérios e se enquadra no Novo PAC. Na avaliação do prefeito Emanuel Pinheiro (MDB), opositor do governador Mauro Mendes, o VLT é mais moderno, econômico e seguro.

Em janeiro, a Justiça determinou que a prefeitura parasse de "criar obstáculos" para a implantação do BRT.

O governo do estado afirmou em 2023 que, em valores nominais, seriam necessários R$ 760 milhões para terminar o VLT, enquanto o BRT sairia por R$ 480 milhões (sem contar R$ 200 milhões para comprar 54 ônibus articulados).


LINHA DO TEMPO DO VLT DE CUIABÁ

Jun.12 Estado assina contrato com o Consórcio VLT Cuiabá por R$ 1,4 bilhão com prazo de 24 meses para as obras

Mar.14 Concedido aditivo de prazo de 12 meses para conclusão da obra (Abril de 2014)

Jun.14 Data em que o sistema deveria estar operando, conforme o cronograma inicial

Dez.14 Governo determina paralisação das obras, alegando atrasos no cronograma, entre outros problemas. O contrato foi paralisado com 30% das obras físicas feitas e gasto de R$ 1,066 bilhão

Abr.15 Sem entendimento para retomar as obras, ação conjunta do Estado e dos ministérios públicos Estadual e Federal resulta na suspensão judicial do contrato

Jan.16 KPMG apresenta relatório apontando R$ 602,7 milhões como o valor necessário para concluir as obras. O consórcio pedia R$ 1,2 bilhão

Mar.17 Após pedido do governo, KPMG apresenta cálculo atualizado, que indica a necessidade de R$ 889 milhões; após rodadas de negociação, acordo é fechado por R$ 922 milhões

Ago.17 Operação Descarrilho da PF, para investigar suposto pagamento de propina por parte do consórcio ao ex-governador Silval Barbosa; governo estadual decidiu rescindir o contrato unilateralmente com as empresas do VLT. Após a operação, gestão Pedro Taques rompe unilateralmente o contrato entre o estado e o Consórcio VLT, alegando corrupção.

Jun.19 Tribunal de Justiça de Mato Grosso manteve a rescisão unilateral do contrato entre o governo e o consórcio. As empresas recorreram da decisão ao STJ (Superior Tribunal de Justiça), que já negou por duas vezes os recursos.

Dez.20 O governador Mauro Mendes anuncia a substituição do VLT para o BRT

Dez.21 Governador Mauro Mendes paga quase R$ 600 milhões referente ao empréstimo com a Caixa para o VLT e quita a dívida do Estado.

Abr.22 Governador homologou o resultado da licitação em abril deste ano, no valor de R$ 468 milhões

Dez.22 Empresa do Consórcio Construtor BRT Cuiabá começa a retirada das estruturas que serviriam como suporte para cabos energizados do VLT no município de Várzea Grande

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