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R$ 1 bi para nada

VLT de Cuiabá reúne as mazelas ligadas ao investimento público, em baixa no país

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Trens abandonados no Centro de Manutenção e Controle do VLT, em Várzea Grande (MT) - Rogério Florentino/Folhapress

Além do trauma esportivo dos 7 a 1 para Alemanha, a Copa de 2014 no Brasil deixou um legado de estádios megalômanos de escassa utilidade posterior, além de obras urbanas atrasadas ou inacabadas.

Entre esses casos, o mais escandaloso talvez seja o do fracassado VLT (veículo leve sobre trilhos) que ligaria Cuiabá a Várzea Grande, no Mato Grosso. Uma década depois, o governo estadual desistiu da empreitada e arrancou 6 km de trilhos já instalados. O trecho dará lugar a um corredor de ônibus, ou BRT.

Estão reunidas no episódio todas as mazelas associadas a investimentos públicos no país: projetos mal concebidos, atrasos na execução, custos crescentes e, não menos importante, corrupção.

O VLT contou com financiamento da Caixa Econômica Federal. Noticiou-se em 2011 que a presidente Dilma Rousseff (PT), pressionada pelo governo mato-grossense, concordou em mudar o plano original, que previa um BRT. Com a troca, os custos subiram de R$ 500 milhões para R$ 1,2 bilhão.

No ano seguinte, o Ministério Público já investigava suspeitas de direcionamento na licitação, e a Justiça chegou a suspender a execução da obra por considerá-la "ilegal, inviável e superdimensionada".

Silval Barbosa, o governador que deu início ao projeto, declararia à Polícia Federal, em 2017, que houve pagamento de propina por parte das empresas contratadas.

Hoje, depois de gastos de R$ 1 bilhão, 24 km de aço importado da Polônia e 40 trens comprados, o governo do estado calcula que seriam necessários mais R$ 760 milhões para a conclusão do VLT. A alternativa do BRT não sairá por muito menos —serão R$ 680 milhões.

O ano da Copa no Brasil marcou também o fim de um período de alta do investimento público patrocinado pelas administrações petistas. Entre 2009 e 2014, essa modalidade de despesa oscilou em torno de 4% do

Produto Interno Bruto. Mas montantes, como se viu, não são garantia de melhora correspondente da produção e dos serviços.

Após o colapso do Orçamento sob Dilma e os escândalos de corrupção, tais dispêndios em obras e equipamentos minguaram nos últimos anos, somando apenas 2,05% do PIB em 2021.

O governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anuncia que pretende elevar os investimentos públicos, de fato necessários em áreas que não despertam o interesse privado. Para evitar erros do passado, há não apenas que respeitar o equilíbrio fiscal, mas sobretudo buscar novos meios de gestão e controle.

editoriais@grupofolha.com

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