Sylvia Colombo

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Mudança em Honduras deve interromper assassinatos de ativistas

Virtual eleita, Xiomara Castro tem obrigação de acabar com os abusos no campo

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Buenos Aires


Uma das consequências trágicas do golpe de Estado de 2009 em Honduras foi ter colocado no poder um governo que causou graves danos ao ambiente, não protegeu ativistas e defensores de comunidades indígenas e, mais, em vários casos, foi acusado de ter feito "vista grossa" a assassinatos desses líderes civis, brindando os responsáveis com uma generosa impunidade.

A saída abrupta de Manuel Zelaya abriu caminho para que grandes empresas mineradoras, hidrelétricas e de construção se expandissem pelo território hondurenho, em conluio com o partido nacional, do presidente Juan Orlando Hernández. Não de modo incomum burlando leis de preservação e tendo de pagar taxas aos cartéis de narcotráfico que controlam a região. Desse modo, a nefasta atuação do mandatário, acusado ele mesmo por narcotráfico, colocou interesses econômicos de grupos empresários e de cartéis por cima dos interesses dos hondurenhos.

Essa expansão desviou rios e deixou comunidades indígenas inteiras sem recursos, contaminou terras com mineradoras construídas sem protocolo de segurança, tragédias que obrigar populações inteiras de vilarejos a abandonar suas casas para encontrar outro lugar para viver. Muitos optaram pela difícil travessia tentando atravessar a fronteira dos EUA, ao norte.

Manifestante carrega imagem da ativista Berta Cáceres, morta em 2016
Manifestante carrega imagem da ativista Berta Cáceres, morta em 2016 - (Orlando Sierra/AFP)

O governo de direita de JOH (como é conhecido) impôs uma política de linha-dura na segurança, não sem deixar de realizar pactos com os líderes de cartéis, conseguindo, assim, diminuir os índices de homicídio que colocavam Honduras entre os países mais violentos do mundo. Em 2011, essa taxa era de 93,2 assassinatos por cada 100 mil habitantes. Hoje, são 37 homicídios por cada 100 mil habitantes.

Uma cifra que só fez aumentar, porém, foi a das execuções de líderes ambientalistas e de defensores dos direitos dos indígenas.

Se deixou de ser um dos países mais violentos do mundo, passou a ser um dos mais perigosos para a atuação dos protetores do ambiente, segundo as Nações Unidas. De acordo com a ONG Global Witness, mais de 120 deles foram assassinados desde 2010.

O caso mais famoso, de Berta Cáceres, em 2016, teve enorme projeção internacional. A ambientalista, que pressionava para que não se construíssem hidrelétricas no rio Gualcarque, que bloqueariam o acesso à água dos índios da etnia lenca, foi morta a tiros dentro de sua casa.

Apesar de o caso repercutir em todo o planeta, pouco ou nada foi feito para proteger outros ambientalistas que, assim como Cáceres, já vinham recebendo ameaças há tempos. Tanto que, em 2020, foi a vez de Marvin Damián Castro Molina, que liderava um grupo que se opunha à instalação de uma mineradora em Choluteca, em área protegida. Foi morto a tiros em julho de 2020.

Os ambientalistas também são executados em grupo, como aconteceu com os integrantes do Cerro Escondido, um movimento de camponeses que trabalhavam numa fazenda de açúcar recuperada que havia sido entregue a eles pelo Estado. Em abril de 2020, as forças de segurança entraram no local, queimaram mais de 60 casas, e mataram quatro pessoas, entre elas a líder ambientalista Iris Argentina Álvarez.

A lista de desafios que a virtual presidente eleita de Honduras terá não é pequena. Xiomara Castro, porém, tem na resolução desses conflitos um compromisso com o futuro dos hondurenhos. Será necessário desarmar a teia de interesses que avança pelo campo e interromper a violência. Armar um programa sustentável de desenvolvimento que não acabe com os recursos naturais de camponeses e indígenas é tarefa fundamental. Além disso, Justiça para tantos crimes impunes é um remédio necessário para que essas tragédias não se repitam.

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