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Acampamento pró-Cristina expõe as ambiguidades dos portenhos

Há mais de dez dias, peronistas se encontram na porta da residência da vice-presidente

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Buenos Aires

Há dez dias, o endereço rua Juncal, 1411, é mais disputado em Buenos Aires do que o Obelisco, ponto de encontro das manifestações de todas as cores, ou a Casa Rosada, sede do poder na Argentina e um dos locais que os turistas mais disputam para tirar fotos. Nesta esquina do bairro da Recoleta vive Cristina Kirchner, a atual vice-presidente do país e ex-presidente por dois mandatos (2007-2015).

Desde que um promotor pediu 12 anos de cadeia para a ex-mandatária, acusada em quatro processos por corrupção, Kirchner vem apostando toda sua defesa em sua popularidade, e seus opositores se espantam em como esta continua sendo alta depois de tantos anos.

Quem passou por aí na tarde de quarta-feira (31), a viu beijando a barriga de uma grávida e autografando braços e ombros de jovens militantes _um deles foi direto tatuar a assinatura da ídola. Dependendo da hora do dia, o trânsito pode mover-se tranquilo. Porém, em momentos de grande concentração _hora do almoço, fim do dia e às vezes madrugada adentro_, tudo fica travado, motoristas têm de dar a volta no quarteirão, lojas, cafés e restaurantes fecham suas portas com medo de confusão e ouvem-se cânticos, gritos de guerra, música e fogos de artifício.

Cristina Fernandez agradece seus apoiadores diante de seu apartamento na Recoleta
Cristina Fernandez agradece seus apoiadores diante de seu apartamento na Recoleta - Luis Robayo/France Presse

No último sábado, houve um confronto quando o governo da cidade, que é da oposição, mandou colocar barreiras para conter os apoiadores e tentar garantir que a vizinhança dormisse tranquila. Foi pior, chegaram ainda mais manifestantes, que foram caminhando ocupar a praça Vicente López, onde se instalaram ambulantes e barraquinhas de churrasco. Ainda a rodeiam os ônibus que trouxeram de várias partes da periferia da cidade os militantes kirchneristas que não dão mostras de querer sair do endereço.

Buenos Aires costuma ter fama de ser anti-peronista, ainda mais seus bairros mais endinheirados, como é o caso da Recoleta. Ali, costumam vencer as eleições os candidatos de oposição, como o ex-presidente Mauricio Macri e o atual chefe de governo da cidade, Horacio Rodríguez Larreta. Porém, momentos como esses de demonstração de amor ao peronismo expõem as contradições de seus moradores. Não são poucas as marchas K que lotam ruas, as manifestações multitudinárias nas efemérides dos aniversários de Perón, Evita ou em datas comemorativas como o dia da lealdade (17 de outubro). Para não mencionar a necessidade de ter tirado o corpo de Perón do cemitério da Chacarita para evitar confusões.

O acampamento pró-Cristina impressiona ainda mais por se contrapor ao enorme desgaste do presidente peronista Alberto Fernández e à crise econômica gravíssima que o país vive, com mais de 70% de inflação anual e 40% da população abaixo da linha de pobreza.

Mesmo com a perspectiva de crescimento da oposição no ano eleitoral de 2023, o peronismo não deixa de surpreender e confundir como fenômeno persistente e aparentemente blindado às piores tempestades.

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