Tinto ou Branco

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Tinto ou Branco - Tânia Nogueira
Tânia Nogueira
Descrição de chapéu Todas

Vinícola mineira inaugura restaurante e bar de vinhos em barco

Wine bar da Alma Gerais oferece menu harmonizado enquanto flutua pelas águas do lago do Funil

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Bom Sucesso, MG

Uma chalana com um projeto arquitetônico bacana, um bar de vinhos e um restaurante gourmet à bordo, para grupos pequenos, assim é o flutuante Alma Gerais. Nessa chalana chique, uma das experiências de enoturismo que a vinícola Alma Gerais começa a oferecer para o público no fim de julho, vi um dos pores do sol mais bonitos de minha vida.

Do segundo andar do barco, um lounge de muito bom gosto em um deck sem cobertura, com uma taça sempre cheia de um rosé syrah leve e elegante na mão, elaborado pelo famoso enólogo Mario Geisse, vi o céu tornar-se laranja e as margens ficarem negras, enquanto navegávamos lentamente pelas águas calmas da represa do Funil, no Sul de Minas. Até que a noite caiu e fomos chamados a descer para o restaurante onde um menu harmonizado nos esperava.

À tarde, tínhamos visitado um dos vinhedos da Alma Gerais, a alguns metros da represa, e a vinícola, bem ao lado do restaurante base, em frente ao pier onde embarcamos. Adoro visitar vinhedos. Sempre morri de inveja de quem morava perto de regiões vinícolas e podia fazer enoturismo a qualquer hora. Agora não morro mais. Com o desenvolvimento do sistema de dupla poda e a consequente expansão das vinícolas com colheita de inverno em Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, o Sudeste tem cada vez mais opções de enoturismo. A combinação vinhedo mais chalana, para mim, é uma das mais legais delas.

Chalana no lago vista do alto
Wine bar Alma Gerais navegando na Represa do Funil - Clinton Barbosa - EMC Audiovisual/divulgação

O barco wine bar faz parte de um projeto ambicioso,a Enovila, um misto de condomínio vinícola, timeshare, clube de férias e programa no estilo winemaker, daqueles em que pessoas comuns produzem os seus próprios vinhos com o auxílio de enólogos e agrônomos profissionais. Iniciativa dos irmãos Antônio Alberto Júnior e Alessandro Rios, o último proprietário da vinícola Alma Gerais (que também tem vinhedos em São Gonçalo do Sapucaí), a Enovila fica dentro dos 30 hectares reservados à Vinícola Alma Gerais, que por sua vez está dentro do Condomínio Vivert Reserva da Mata, um projeto premiado que tem 2 milhões de metros quadrados e 400 mil m² de mata virgem preservada.

O empreendimento imobiliário em Bom Sucesso, a 17 km de Lavras, que já recebeu um investimento de R$ 140 milhões, prevê a venda de 416 cotas de propriedade/títulos de associação, por R$ 390 mil cada, que dão direito a quatro semanas por ano de estadia, uma em cada estação do ano. Durante suas estadias, o sócio pode acompanhar todos os trabalhos no campo e na vinícola, com o auxílio de um agrônomo e da equipe de enologia, fazer o seu próprio blend e criar o seu próprio rótulo, além de ter prioridade em experiências como a da chalana. "Conheço muita gente que sonha em ter uma vinícola", diz Júnior. "Poucos deles, no entanto, se animam a ter o trabalho que isso dá. Com a Enovila, o sócio ficará só com a parte divertida. O trabalho fica por nossa conta".

Para a estadia, estão sendo construídas 36 vilas, com duas suítes e 230 m² cada, projetadas pelo renomado arquiteto mineiro Gustavo Penna, que serão entregues em 2027. Todas com vista para os vinhedos e para a represa. Numa referência às cidades históricas de Minas Gerais, o projeto prevê que as casas sejam unidas pela fachada. A arquitetura, no entanto, é contemporânea. As casas serão todas mobiliadas e terão um enxoval completo. A manutenção e a limpeza serão feitas por uma equipe de hotelaria. Cada sócio será proprietário de 1/13 de uma casa e ficará sempre hospedado nela. Quatro vilas pertencerão ao grupo para que os sócios possam alugá-las para amigos.

A ideia é formar 13 grupos que caminhem juntos, mas, se alguém precisar trocar a data de sua estadia, pode ficar em uma dessas quatro casas em outro momento da estação e ceder a sua para aluguel no período em que não poderá estar presente. Além do título, todos os sócios devem pagar uma taxa mensal de manutenção de R$ 600,00. Isso dá direito aos serviços de concierge, que pode sugerir, por exemplo, uma visita a outra vinícola da região ou a um produtor de queijos artesanais, hotelaria, uma cave para guardar seus vinhos, acompanhamento de todo o processo de criação do vinho via o aplicativo "Da Videira à Taça" e a 12 garrafas de vinho. Quem quiser mais garrafas, paga mais, com taxas que vão de R$ 360,00 ao mês (48 garrafas) a R$ 1.560,00 ao mês (120 garrafas). É possível também fazer um plano personalizado que terá um preço personalizado.

A vila terá também um bistrô e um empório. Além disso, os sócios terão acesso ao restaurante, ao barco e às experiências da vinícola. Têm também à sua disposição toda a estrutura do condomínio Vivert, que conta com trilhas, clubes e marinas, além de uma galeria de arte a céu aberto com 170 obras de artistas como Israel Kislansky.

cachos de uva escura na videira
Syrah nos vinhedos da vinícola Alma Gerais. Variedade é a tinta que mais se adaptou até agora à colheita de inverno - Tânia Nogueira/arquivo pessoal/@tinto_ou_branco

Para que um projeto desses se mantenha em pé, é claro, é preciso que produza um bom vinho. Júnior e Alessandro sabem bem disso. Na verdade, antes de pensar no condomínio, Alessandro já estava envolvido com a vinícola. E sempre se cercou dos melhores nomes para conseguir resultados muito acima da média. De início já chamou o papa do vinho de inverno, o agrônomo Murillo de Albuquerque Regina (o sujeito que desenvolveu a técnica de poda que permite que a colheita aconteça no inverno, quando não chove) para orientar a implantação dos vinhedos em 2020.

Sua primeira safra, em 2022, dois sauvignons blanc de estilos diferentes, produziu com a enóloga Isabela Peregrino, da equipe de Regina. Em 2023, o enólogo chileno Mário Geisse (que faz alguns dos melhores espumantes do Brasil e grandes tintos no Chile) assumiu a enologia e vai uma vez por mês até Minas cuidar de que tudo saia a seu contento. Com Mário, veio também o engenheiro agrônomo chileno René Vasquez.

"Duas coisas me atraíram nesse projeto", diz Mário. "Primeiro o desafio de trabalhar com um tipo de viticultura que eu nunca trabalhei antes, de entender os vinhos de inverno. Segundo, o perfeccionismo da dupla de sócios." Claro, ele também acredita Mário acredita muito no terroir. "Na verdade, temos três terroirs diferentes", explica. "Em Caldas, pretendemos produzir uvas para espumantes. São Gonçalo do Sapucaí é um pouco mais alto e, por isso, é mais frio, tem menos umidade, uma maior amplitude térmica e uma boa ventilação. Deve gerar vinhos mais estruturados, com polifenois, taninos e corantes, mais potentes. Vinhos com potencial de guarda. Os da represa do Funil estão numa altitude um pouco menor. Serão vinhos mais frutados, mais jovens. Ambos de muita qualidade. Você provou o syrah rosé? Para um vinho ter essa qualidade na primeira safra, é porque ele tem muito potencial".

garrafa e taça de vinho com por do sol ao fundo
O rosé da Vinícola Alma Gerais, elaborado pelo enólogo Mário Geisse, casou perfeitamente com o por do sol no Lago do Funil - Tânia Nogueira/arquivo pessoal/@tinto_ou_branco

Sim, eu provei. É aquele que eu estava tomando no pôr do sol. É delicioso. Muito claro, com aromas de frutas vermelhas frescas, notas florais e de ervas aromáticas. Sem ser excessivo em nenhum momento. Na boca, é fresco e tem um final limpo. No jantar, provamos também os dois sauvignons blancs feitos pela Isabela Peregrino. Também são muito bons. Um mais fresco e vivaz. O outro mais estruturado, levemente amanteigado.

Nenhum desses vinhos, no entanto, estará à venda. Serão reservados para servir nas experiências enoturísticas. As experiências, por sorte, estão abertas para o público geral a partir de 27 de julho. Não é preciso ser sócio. O tour mais simples, que inclui visita ao vinhedo e à vinícola, com a degustação de dois rótulos, custa R$ 150. O tour mais almoço ou jantar de quatro passo com seis vinhos (nem todos deles por enquanto) no restaurante à margem da represa, R$ 290. O wine day, que inclui o tour mais 1h30 de passeio de barco pelo lago do Funil com serviço de vinhos, também R$ 290. O wine day mais almoço ou jantar no próprio barco, R$ 490.

No futuro, está prevista uma pousada de luxo dentro do Vivert para acomodar os visitantes. Por enquanto, para fazer esse passeio, você pode alugar uma casa nos vários condomínios da represa, ficar em alguma pousada da região ou mesmo vir de Tiradentes ou São João del Rei (1h30 de viagem). A vinícola tem parcerias de transporte nessas cidades. Spoiler: os sócios pretendem fazer uma segunda Enovila e até já compraram um terreno em Tiradentes para isso.

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