Tudo + um pouco

Soluções para descomplicar o dia a dia

Tudo + um pouco - Carolina Muniz
Carolina Muniz

Diretor de 'Casa Brasileira', do GNT, lança livro de fotos

Alberto Renault selecionou imagens que fez ao longo de 12 anos de trabalho na TV

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Entre 2010 e 2022, o diretor Alberto Renault visitou mais de mil lares para gravar "Casa Brasileira" e outros programas do canal GNT. Durante esse período, fez cerca de 30 mil fotos com o celular, para orientar os cinegrafistas sobre os ângulos que gostaria de privilegiar nas filmagens.

O livro "Fotos Caseiras", que será lançado na próxima sexta (11) pela editora Capivara, é uma seleção de 250 dessas fotografias. São registros de 80 construções, a maioria delas residências, no Brasil e no exterior. "Não é um livro de casas bonitas, nem de decoração ou de arquitetura. É um livro da minha experiência fazendo televisão, em busca da beleza que cada morador criou na sua própria casa", afirma Renault.

Sala em casa de pau a pique com paredes brancas e janela de madeira azul que está aberta. Uma poltrona está à frente dela e, ao lado, há uma mesa encostada na parede com um vaso de flores e uma fruteira com mexericas
Casa de pau a pique do século 19 em fazenda em São Luiz do Paraitinga, no interior de São Paulo - Alberto Renault

As imagens mostram diversos jeitos de morar e de viver. A cada página, o leitor se surpreende com uma moradia completamente diferente da anterior. Há quitinetes, coberturas, fazendas, chácaras, casas de praia, hotéis, obras assinadas por arquitetos renomados, lares carinhosamente decorados pelos próprios moradores, residências em favelas e em bairros nobres.

Também estão no livro construções de importância histórica, como a casa em que viveu Gilberto Freyre, em Recife; a ruína do século 18 restaurada pela poeta americana Elizabeth Bishop, em Ouro Preto; e o apartamento onde moraram os escritores Jorge Amado e Zélia Gattai, no Rio de Janeiro. Há ainda residências de personalidades, como a da atriz Regina Casé, a do estilista Alexandre Herchcovitch e a do jornalista americano Anderson Cooper.

Para Renault, a beleza do livro está justamente nessa diversidade de casas e de moradores. "A ideia não é que o leitor fale: 'Nossa, que foto bonita'. O que vale —e por isso é um livro— é o conjunto delas", afirma.

"Não à toa essas fotos chamam-se 'caseiras', porque elas não são de um profissional, de um fotógrafo. E dizer que alguma coisa é caseira é quase um elogio. Uma comida caseira é sempre muito boa."

A obra também inclui um texto em que Renault descreve a sua relação de afeto com as casas onde viveu e o seu olhar delicado para a ética e a estética do morar. Na verdade, é essa a origem do livro. As imagens vieram depois, para ilustrá-lo, e acabaram crescendo.

O relato vem acompanhado de fotos do apartamento do autor. "Já que eu entrei na casa de tanta gente, por que não mostrar também a minha? Quando uma pessoa está mostrando a sua casa, ela está mostrando a sua vida", diz.

Com o livro, Renault espera que o leitor se encante com a poesia que pode haver no cotidiano. "Ela pode estar na sua casa, na sua vida, na cor da sua parede, nas suas escolhas. E fazer isso não é um gesto de futilidade, é um gesto de gentileza para com a vida", diz o diretor, que também lançou nesta terça (8) a série "De Casa em Casa", no YouTube, com seis episódios.

A seguir, veja cinco casas que compõem o livro "Fotos Caseiras".

Casa dos relógios

Sala com paredes cor-de-rosa coberta por relógios
Casa de Maria Helena Costa, com 325 relógios de parede, na favela Santa Marta, no Rio - Alberto Renault

Localizado na favela Santa Marta, no Rio de Janeiro, o lar de Maria Helena Costa tem 325 relógios em suas paredes cor-de-rosa. No livro, a moradora conta que trabalhava para uma senhora que tinha um relógio na parede. Ela achava aquilo muito bonito. Então, comprou um, dois, e se apaixonou.

"Esta casa me é muito cara por duas razões: pelo que ela contém e por onde ela está. É a força, a luta, a busca pela beleza, pela estética, em meio ao sofrimento urbano, em meio a todas as carências urbanas que a gente conhece tão bem", afirma Renault.

Fazenda Mato Dentro

No primeiro, três pessoas estão em volta de uma fogueira em um pátio. Atrás, duas casas brancas em um cenário de montanha, uma das casas é moderna e a outra uma construção de pau a pique do século 19
Fazenda do casal de arquitetos Marina Acayaba e Juan Pablo Rosenberg, em São Luiz do Paraitinga (SP) - Alberto Renault

O casal de arquitetos Marina Acayaba e Juan Pablo Rosenberg restaurou a antiga sede de uma fazenda em São Luiz do Paraitinga, no interior de São Paulo. Eles mantiveram a construção original do século 19 e construíram, ao lado, uma casa de hóspedes.

"O que chama a atenção é esse diálogo entre uma casa de pau a pique do século 19 e uma construção contemporânea. Elas são muito coerentes entre elas. Elas têm o mesmo volume, são a mesma casa. Mas uma está no século 19 e a outra, no século 21", diz Renault.

Casa-ateliê Rita Wainer

Sala praticamente sem paredes, rodeada por plantas, e vários objetos decorativos. Há vários tapetes persas sobrepostos e um teto está pendurado no teto. A artista está sentada dentro de uma poltrona em formato circular, com um gato no colo e as pernas em uma banqueta no formato de ovelha
Casa-ateliê da artista Rita Wainer, no Rio - Alberto Renault

A artista Rita Wainer mora nesta casa, no Rio, há três anos. A residência é grande, mas ela decidiu ocupar principalmente a área de garagem, transformando-a em sala e ateliê. O restante do imóvel está vazio. Os tapetes, de antigos moradores, forram o chão e também estão pendurados no teto. "É uma ocupação muito inusitada e criativa de um espaço", destaca Renault.

Casa Maxwell Alexandre

Quarto com paredes e móveis envelopados com papel pardo
Casa do artista plástico Maxwell Alexandre, com cômodos envelopados de papel pardo, na Rocinha, no Rio - Alberto Renault

A casa do artista plástico Maxwell Alexandre na Rocinha, no Rio, tem cômodos e objetos envelopados em papel pardo, que são parte de uma instalação de 2018, cujo título é "Pardo é papel".

No livro, ele explica o significado da obra: "O desígnio pardo foi usado durante muito tempo para velar a negritude, quando você pinta um corpo preto em cima do papel pardo seria uma maneira de inverter essa narrativa. [...] Fui entendendo essa conotação do pardo no meu trabalho, então toda vez que eu uso esse papel é para esconder alguma coisa".

Casa Michell Lott e Felipe Rocha

Cozinha com bancada, parede, teto, armário e eletrodomésticos todos no mesmo tom de rosa. O chão é quadriculado de rosa e branco
Cozinha da casa de Michell Lott e Felipe Rocha, em São Paulo - Alberto Renault

Michell Lott é pesquisador de cores e faz da sua casa, com o modelo Felipe Rocha, seu laboratório. Todo ano, eles trocam as tintas do imóvel, que fica em São Paulo. A cozinha, de formato bem tradicional, tem o seu diferencial no modo como a cor foi usada.

"Quando eu vejo isso, penso na pessoa que mora ali. Quem mora nessa casa que tem todo esse estudo de cores? Quem pensou nessa quantidade de detalhes para chegar a esse resultado? Que olhar para a vida, nessa busca pela beleza inserida no cotidiano, em querer o bem. Ética e estética são a mesma coisa", diz Renault.


FOTOS CASEIRAS
Autor Alberto Renault Editora Capivara Preço sugerido R$ 160
Pags. 312 Idioma Bilíngue (português e inglês)


LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.