Vida de Alcoólatra

O silêncio mortal da bebida

Vida de Alcoólatra - Alice S.
Alice S.
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Não há por que correr o risco e beber precocemente

A lei não está aí apenas como enfeite: nosso corpo não está preparado para o álcool antes dos 18 anos

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Fiquei muito contente ao receber o email de uma professora de Belo Horizonte contando que ela e os alunos acompanham o blog. Me deu até vontade de falar com os adolescentes, mas não sei se tenho muito a dizer a esse público em especial, já comecei esse texto mil vezes e, sempre que relia, ele parecia ter sido escrito por uma pessoa velha. Mas não uma velha moderna, não: uma tia de antigamente... Mas vamos lá, e já peço desculpa se vocês acharem ele meio vetusto...

Outro dia minha irmã disse: Não lembro de você ter problemas nessa fase. É verdade, a doença é progressiva. Quando penso em como me comunicar com os jovens, a primeira coisa que me vem à cabeça é dizer: não bebam antes dos 18 anos, o corpo não está preparado para o álcool nessa idade. Parece óbvio, já que está escrito em todo lugar, mas não é. No entanto, como duvido que as pessoas esperem completar 18 anos para experimentar bebida, não sei se esse conselho pode ter alguma serventia. De qualquer modo, vou insistir.

A prevenção da doença é fundamental, é um ponto importante para que todos reflitam. Quando ela avança, é muito difícil aceitar a própria condição e parar de beber, pelo menos foi o que aconteceu comigo. Porque, como já disse muitas vezes, o alcoolismo não parece uma doença, a gente sempre acha que é uma questão passageira, um problema corriqueiro. Eu, por exemplo, experimentava episódios esparsos com o abuso de bebida e decidia dar um tempo. Não adiantava. Sou alcoólatra e fui me tornando uma doente cada vez mais comprometida.

'Não beba precocemente, a vida é muito longa e cheia de experiências. Não precisamos antecipar nada' - Kamila Bay/Adobe Stock

Minha casa sempre foi regada a bebida e acredito que minha geração, aquela dos anos 1980, nunca considerou o álcool uma coisa ruim. Lembro que, quando criança, era comum que, quando a gente tinha dor de garganta, nos dessem algum tipo de bebida, como conhaque com mel e limão. Quantas e quantas vezes eu passava dias e dias com um pano embebido em álcool para aquecer meu pescoço e mitigar a dor. No inverno, então, com todo mundo resfriado, a casa recendia a álcool.

A consciência hoje é maior, embora ainda sejam veiculadas tantas propagandas associadas à bebida, desde produtos ligados a esporte até shows de música, cartões de crédito, sempre numa atmosfera de alegria. Esses anúncios me saltam aos olhos, mas isso é porque sou um alcoólatra em recuperação. Antes não me chamavam a atenção.

Esses dias, nas redes, pelo menos no meu feed, está passando um videozinho dos octagenários Mick Jagger e Keith Richards, dos Rolling Stones. Tomaram todas, muito, sobretudo o segundo. E estão aí. Então por que, você deve estar pensando, eu não poderia me esbaldar? Bem, porque a gente nunca deve cutucar a onça com vara curta. Eles estão aí, mas será que você compartilha os mesmos privilegiados genes desses caras? (E a riqueza também, sabe-se lá se já não foram internados em clínicas na Suíça...).

Para você, aluno de BH que me lê e quer saber o que tenho a dizer sobre o alcoolismo na adolescência: não corra o risco. E mais: não há por que sofrer antecipadamente. E mais ainda: essa lei dos 18 anos não está aí apenas como enfeite. Não beba precocemente, a vida é muito longa e cheia de experiências. Não precisamos antecipar nada.

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