Gasolina. Alimentos. Água e luz.
A inflação corre solta no país.
No governo, o clima é de preocupação.
–Assim a gente não chega no segundo turno.
O general Perácio respirou fundo.
–Precisamos de medidas drásticas. Heroicas.
A estratégia contra os preços ainda está por ser definida.
–A popularidade do nosso presidente vai ter de subir um pouco.
As pesquisas revelam.
Ser contra a vacina tira voto.
Perácio contemplava o horizonte.
–Será que o presidente topa?
O assessor Guarany estava curioso.
–Topa o quê, general?
–Ser vacinado.
Perácio imaginava um grande evento público.
–Ele entra na campanha. Junto com o Zé Gotinha.
–Ouvi dizer que ele tem medo de injeção.
O tapa estalou sobre a mesa de jacarandá.
–Não tem medo de nada, pô.
–Mas então…
–Todo mundo sabe que essa vacina é um conto-do-vigário.
–E dói também, né general… haha.
–Um sacrifício. Mas é pela pátria.
–E o senhor, já tomou?
A mão de granito novamente estalou sobre o tampo da mesa.
–Tomo junto com ele, se for o caso.
–Ah bom.
–O militar brasileiro conhece o seu dever.
A proposta foi formulada em papel oficial.
–Tomara que ele aceite.
–Vamos levar ele para a Amazônia.
–Por quê?
–Toma a vacina junto de uma tribo de índios.
–Continuo sem entender, general.
–Se acontecer alguma coisa com ele, pelo menos esses bugres ele leva junto.
–Ou morre todo mundo…
–Ou a gente ganha a eleição.
–Ou vira todo mundo jacaré, né, general... haha.
Alguns acreditam nessa última hipótese.
Coisa improvável.
Mas é ainda mais difícil um jumento arregaçar a manga da camisa.
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