Vexame. Ignorância. Papelão.
Pegou mal o episódio do "brienfing" presidencial.
Em Brasília, o general Perácio se irritava.
--Ninguém tem coisa mais importante para cuidar?
O assessor Guarany tentava ser útil.
--O quê, por exemplo, general?
A mão de granito explodiu sobre a mesa de jacarandá.
--As eleições, pô. Essa invencionice de urna eletrônica.
--Verdade, general.
Perácio ficou pensando.
--Agora, tem uma coisa.
Ele tomou um gole de chá.
--Precisamos saber quem foi o responsável por aquele erro.
--Acho que foi falha da nossa inteligência, general.
--Não, não, Guarany. Isso é coisa da Marinha.
--Querendo prejudicar o nosso trabalho aqui no Exército, né, general.
--Haha, não chego a tanto.
--Mais uma questão de desinformação... pressa, talvez...
--Pois as Forças Armadas continuam unidas e coesas.
--Sabe, general, no fundo, um erro de inglês não é tão importante...
--Continue, tenente.
--O importante é não errar no português.
--Nossa língua, nossa pátria.
O ânimo de Perácio se recuperava aos poucos.
--Faz o seguinte, Guarany. Manda um memorando para a Marinha.
--Positivo, general.
--Solicitando informações.
--Positivo, general.
--E capricha no português. Não quero erro.
--Afirmativo, general.
Os dedos trêmulos de Guarany catavam milho no computador.
--Pronto, general.
--Leia para mim. Que eu não trouxe os óculos.
--"Exceletíssimo Almirate Wilso. Solincintamos iformações urgetes e singilosas sobre o recete enpisódio..."
Perácio aos poucos foi notando algo de estranho.
--Está certo isso, Guarany?
--Tomei todas as precauções, general. Para evitar novos erros com a letra n.
--Será que você não exagerou na dose, Guarany?
--Segui as suas orientações, general. No estrito cumprimento de nosso dever constitucional.
--Costituncional, Guarany. Costituncional.
Algumas regras do português, com efeito, são de difícil interpretação.
Mas é como dizem em Brasília.
Na dúvida, radicaliza e toca pau.
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