Tanque. Trabuco. Trator.
O país se prepara.
É o desfile do Sete de Setembro.
Valdão era proprietário rural.
--Vamos reconquistar o Brasil.
Eram firmes as suas convicções.
--Tudo passou para a mão desses índios e quilombolas.
Um tom de amargura perpassava a sua voz.
--Nós queremos produzir, caceta.
Rolos de fumaça cinzenta cobriam os céus de Bandinópolis.
--Meu pai foi quem fundou essa joça.
Os funcionários aguardavam instruções.
--Quantos tratores a gente põe na estrada?
--Todos. E vamos saindo, gente.
Era longo o trajeto do Pará até São Paulo.
--A gente chegando em São Paulo, se junta com o pessoal e ocupa a Dutra.
A caravana de Valdão ia parando em locais selecionados.
--Danceteria boa é em Goiás.
Tratava-se de uma famosa casa de espetáculos.
--A Xana Xavante Xous. Não conheço melhor.
--Tipo XXX, né, patrão.
--E a cachaça... a gente reabastece em Minas.
Nas proximidades de São Paulo, o espírito de Valdão estava animado.
--Acelera a tratorada.
--Mas, patrão, onde é que a gente estaciona?
O Posto RodoVale oferecia excelente infraestrutura.
--Nada disso. Direto para o centro da cidade.
Valdão consultava o Google.
--Debaixo da estátua do Duque de Caxias.
Homenagem merecida a um herói da pátria.
A comitiva teve, naquele instante, uma surpresa.
--Acampamento de sem-terra? Até aqui?
Era a cracolândia.
Valdão respirou fundo.
--Bom. Estamos aqui para isso mesmo.
A ordem foi rápida.
--Passa a tratorada por cima.
Foi o momento em que começava uma operação policial.
Uma bala perdida atingiu o cérebro de Valdão.
--Morro... lutando pela ordem e pelo progresso.
Campo e cidade podem, sem dúvida, entrar em negociação.
Mas, quando se fala na posse do território, a questão é saber quem puxa antes o gatilho.
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