Treinos. Preparativos. Exercícios.
Vem aí o desfile do Sete de Setembro.
Alguns defensores do presidente Bolsonaro já anunciam.
—É agora ou nunca.
No terceiro batalhão, o major Ranieri estava ciente das responsabilidades do momento.
—Vamos lá, pessoal. Mais uma vez.
Quase uma centena de comandados tentava prestar atenção nas instruções.
—Um, dois... marcha!
—Tump, tump.
O major Ranieri enxugou o suor da testa.
—Na-na-não. Tudo errado. De novo.
—Tump, tump, tump.
Os argutos olhos do oficial examinavam a tropa.
—Aquele ali, logo na primeira fila.
—Tem algum problema, major?
—Preto demais. Quer dizer, escurinho. Não representa bem o nosso país.
—Mas, major... isso não é racismo não?
O bastão de comando de Ranieri vibrava nervosamente.
—Racismo é dar tanto destaque só porque é negro.
A voz de Ranieri se tornou aguda.
—Racismo inverso, pô.
O soldado Leônidas foi colocado mais no meio do grupo.
—De novo.
—Tump. Tump.
—Opa. Opa. Pode parar de novo.
O problema agora estava na terceira fila.
Com o cabo Ademir.
—Aquele ali. Rebolar não pode. Onde já se viu?
—Mas, major... eu não estava rebolando.
—Ah. Como não? Como não?
O bastão de comando se agitava freneticamente.
—Deixa eu ver esse bumbum.
Tocou o celular. Com ordens superiores.
—Major. Estamos perdendo tempo com esse negócio todo.
--Mas, general... o sucesso do desfile...
—Mais cinco minutos, major. E caso encerrado.
Ranieri olhou fundo nos olhos do cabo Ademir.
—Muito bem. Vem cá.
As nádegas de Ademir foram apalpadas pelos dedos firmes do oficial.
—Rebola um pouco menos, que depois a gente conversa.
O beijo rolou nos fundos da cantina.
Preparativos são importantes.
Mas, por vezes, chega o momento do agora ou nunca.
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